De acordo com o 2° Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil, publicado na última quarta-feira (8), cerca de 33 milhões de brasileiros passam fome, e apenas quatro em cada dez famílias possuem acesso pleno a uma alimentação com nutrientes básicos. Em comparação com o primeiro inquérito, realizado em 2020, houve um aumento de 7,2 % de pessoas com insegurança alimentar e mais de 14 milhões de pessoas que estão com fome.
Estes dados são os piores do século XXI no país desde 2004, ano em que foi criada a Escola Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) e se começou a acompanhar os números da fome e insegurança pelo país. Nunca se viu estatísticas tão altas de pessoas que vivem com incertezas se vão ter algum alimento para consumir.

Na análise de Durval Meireles, professor de Gestão e Economia da Universidade Veiga de Almeida, é importante ressaltar que, mesmo antes da pandemia de COVID-19, o Brasil já apresentava um baixo crescimento econômico, com cerca de apenas 1 %, e, com a ascensão do vírus, o fechamento do comércio e não funcionamento da economia informal foram fatores determinantes para que muitos cidadãos ficassem sem fonte de renda fixa e por consequência, começassem a enfrentar graves dificuldades financeiras.
“Como a economia praticamente paralisou, exceto os setores essenciais, nós o aumento do desemprego, causando uma queda expressiva na renda dos brasileiros que até hoje não foi recomposta, ainda mais com o aumento da inflação, em que o preço dos alimentos cresceu expressivamente. Isso se deu por conta da crise detonada pela pandemia, e agora pela Guerra da Ucrânia, com o aumento dos preços das commodities internacionais e do petróleo”, explica.
A conduta do governo federal no combate à fome é muito questionada, pois órgãos importantes como o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) foram descontinuados e políticas públicas não foram trabalhadas o suficiente para que os números da fome tivessem uma diminuição. Professor Durval analisa que, no quesito de adoção de políticas públicas, o governo não foi efetivo como deveria ser e lida mal com questões sociais.
“Precisa haver políticas públicas coerentes, pois apesar de existirem auxílios financeiros, é preciso criar políticas que consigam de fato trazer benefícios para a sociedade e para o meio ambiente”, sugere o economista.
Questionado se o aumento da insegurança alimentar no Brasil foi impulsionado pela pandemia de COVID-19 ou se outros fatores históricos e sociais também são responsáveis, o professor afirma que, além do baixo crescimento da economia, fatores como a mudança da mão de obra humana por inteligências artificiais e a ineficiência do Estado potencializaram esses problemas.
“A mudança de pessoas por máquinas e robôs ajudou a aumentar o desemprego, então precisa haver uma política de requalificação de pessoas para trabalhar nesse novo mundo digital”, observa o docente. Além disso, para o economista, o estado brasileiro peca e sofre na questão tributária, necessitando modernizar-se: “Outro fator grave é que mais de 60 milhões de pessoas possuem nome sujo no SPC Serasa, e isso também explica o porquê do Brasil crescer tão pouco economicamente”, finaliza.
Foto de capa: Pexels
Maria Eduarda Duarte (7° período), com revisão de Leonardo Minardi (7° período) e Gabriel Folena (5º período)
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