Na última sexta-feira (10), ocorreu o oitavo dia da Bienal do Livro do Rio, sendo realizada no Rio Centro, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Além da grande atração, que são os livros, as palestras também foram grande parte do foco do público presente no evento, dentre elas a última mesa intitulada “Futuros Imaginados”.
A última palestra do dia, “Futuros Imaginados”, teve a mesa composta por Alê Santos – roterista e escritor Afrofuturista, Aza Njeri – Doutora em Literaturas Africanas e Pós-doutora em Filosofias Africanas, Elisio Lopes – roterista, dramaturgo e diretor artístico e Lázaro Ramos – ator, diretor e escritor.
Com a mediação do diretor e roterista Marton Olympio, a conferência abordou como visões diversas de mundo discutem sobre os tempos vindouros e contribuem, de alguma forma, para transformá-los, possuindo o futuro como matéria-prima.
Após a abertura da mesa, o roterista questinou como os palestrantes enxergam o futuro de pessoas negras no mercado literário, visto que o cenário da escrita literária é hegemonicamente branca no país. O escritor Alê Santos, afirma que o futuro quase sempre foi afastado de pessoas negras e cita as restrições de acessos de negros nos debates, acerca da robótica e outras áreas de aprendizado.
“A biologia e antropologia dizia que nós, pessoas negras, tínhamos cérebro pequeno e QI inferior a pessoas brancas, assistiamos filmes que duvidavam de nós. Dessa forma, discutir o futuro hoje, a ficção, é fazer com que as pessoas consigam conectar a sociedade ao pensamento igualitário, ao futuro, quando formos falar na evolução da tecnologia devemos abraçar também pessoas negras”, comenta o escritor de ficção científica Alê Santos.
O autor Lázaro Ramos, presente também do debate, apontou seu desejo para o futuro, enfantizando as múltiplas vozes que os negros possuem e a importância de serem ouvidas e representadas, além do quão importante é priorizar certos assuntos que irão fazer o país avançar. Lazáro se diz curioso para saber quais serão as descobertas do futuro, com individualidades atuais.
“Devemos pensar em nossa individualidade, individualidade de estilo, de desejo e particularidades, esses são fatores que não tivemos a oportunidade de experimentar na nossa escrita. Esse lugar, de pensar nessas questões, está me interessando muito, me faz refletir como o meu eu negro pode descobrir o novo”, aborda Lázaro Ramos.

Foto: Gabriella Lourenço/Agência UVA
O roteirista Marton Olympio dialogou com os convidados e perguntou como é possível potencializar uma escrita pluralizada, através dos livros publicados pelos palestrantes. A ator e escritor Lázaro Ramos, expôs que suas escritas são para alimentar o futuro e, não acha que o hábito dure por muito tempo, tendo suas narrativas inspiradas pelo momento que a sociedade está vivenciando.
“O livro que eu escrevi chamado “Sinto o que Sinto” foi uma observação minha. A sociedade não estava com capacidade de enxergar a sensibilidade. Eu achei importante as crianças nomearem o que elas sentem e lidar com seus sentimentos, pensando em uma vida adulta mais saudável e isso talvez tenha haver com a sensação das urgências da rotina, não podendo esperar. O futuro é agora. Temos que agir hoje, para prevenirmos coisas que já acontecem”, comenta o escritor.
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Os palestrantes indagaram ao longo do bate-papo o conceito da “Jornada do Herói”, de Joseph Campbell Vida, presente nos livros e nos filmes atuais, sobre as narrativas hegemônicas e o patriarcado vigente na sociedade.
A professora e doutora, Aza Njeri, colocou esse conceito como um clássico intocável das narrativas, argumentou como anda a educação da literatura no país e a importância da leitura, alterando a visão da sociedade sobre quem não segue esse padrã ou se opõe a ele, na tentativa de não deixar a cultura dos livros serem excluídas.
“Temos que pensar a educação da literatura no Brasil, o país não forma nas escolas pessoas propícias a leitura, a leitura é algo que você precisa de dedicação. A literatura trabalha a crítica, exercitando a semiótica na cabeça. Temos que questionar a agenda da educação brasileira”, diz a doutora Aza Njeri.
Outro tema debatido foi a estereotipação midiática, no diz respeito aos personagens afrodescendentes, que estão, geralmente, fazendo papéis de bandidos, domésticos, pobres, favelados ou periféricos. Além da representatividade do filme “Pantera Negra” e as características da produção cinematográfica.
Para o roterista Alê Santos, o filme “Pantera Negra”, surge para curar e quebrar estereótipos depreciativos de pessoas negras, sendo uma narrativa poderosa. Para a doutora Aza Njeri, é obra representativa, entretanto, acaba sendo um produto de entretenimento da indústria cultural e tece críticas a forma com que Wakanda se posiciona.
“Se Wakanda fosse uma cidade africana ela não teria o ímpeto dominador e nem seria imperialista. Portanto, filosoficamente, Wakanda teria uma teia e ela não tem, quando assistimos o filme percebe-se que Wakanda é muito rica e a África está um caos em volta, Wakanda nega ajuda os próprios irmãos. Isso já evidência que a produção do filme não sabe nada de filosofia africana, sendo somente uma peça de entretenimento”, manifesta a professora.
No final da discussão, os palestrantes manifestaram a importância de abrir lacunas para escritas negras, a representatividade nas telas e nas histórias, e a definição de Afrofuturista. Além disso, o autor Lázaro Ramos comentou como podemos introduzir o hábito de ler nas crianças.
Entrevista para Agência UVA
Em entrevista para à Agência UVA, Lázaro Ramos discursou sobre a taxação impostas nos livros, os hábitos de leitura e a situação difícil que a literatura vem passando.
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Gabriella Portela Lourenço – 2° Período
Com revisão de Bárbara Souza – 8° Período

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