De um lado, o desemprego; do outro, a oportunidade de usar a internet para apostar em um negócio online, no meio, as mulheres, que vêm encontrando no e-commerce a saída para trabalhar e lucrar em tempos de pandemia. Esta é a realidade de cada vez mais representantes do sexo feminino no Brasil. Apesar de representarem 53% da população brasileira economicamente ativa, as mulheres seguem sendo sub-representadas entre os ocupados (43%), super-representadas entre os desocupados (51%) e fora da força de trabalho (64%), segundo dados do 3º trimestre de 2020 da Pnad Contínua.
As mulheres com vínculos trabalhistas formais, mesmo antes da pandemia, já eram minoria. Mas, com o Covid-19, essa baixa presença se ampliou. A nova rotina imposta pelo vírus em 2020 levou à perda do espaço por parte delas também no mercado de trabalho informal, no qual eram 52% nos primeiros meses do ano e passaram a ser 49% no penúltimo trimestre. Segundo a pesquisa do SempreViva Organização Feminista, realizada em meados de 2020, 40% das mulheres afirmaram que a situação de isolamento social colocou a renda e o sustento da casa em risco.
A solução foi se aliar à internet e encontrar uma nova forma de ganhar dinheiro. Com a pandemia da Covid-19, o Brasil registrou a abertura de mais de uma loja virtual por minuto. Em dois meses, foram 107 mil novos estabelecimentos criados na internet para a venda de diferentes produtos, como alimentos, roupas e calçados. “ Antes da pandemia, a média de abertura de lojas na internet era de 10 mil estabelecimentos por mês”, conta Felipe Marchezi economista especializado em e-commerce.
Com o comércio digital, que não para de crescer, as mulheres seguiram inovando mais que os homens, sendo 60% delas administradoras de lojas virtuais, segundo a Nuvemshop. Uma pesquisa realizada pelo Fórum Empreendedoras revela que 85% já são empreendedoras, enquanto 15% pensam em empreender. Atualmente, 95% das mulheres são donas do próprio negócio no Brasil.
Sarah Fonseca é um destas empreendedoras. Ela trabalhava em uma oficina mecânica, mas o terceiro mês de pandemia foi demitida. “Não fui pega de surpresa porque via a situação de crise em outras empresas, e eu sou mulher. Sempre a mulher é demitida antes do homem, ainda mais em uma oficina mecânica”.
O que Sarah não contava era que uma semana depois de ser mandada embora, iria descobrir que estava grávida. “Desesperada, criei uma loja online no Instagram de produtos naturais que eu mesma iria fazer em casa, e graças a Deus existe a internet. Pois é por meio do e-commerce que estou conseguindo me sustentar e preparar a chegada para o meu filho”, relata, emocionada.
Assim como Sarah, as empreendedoras de e-commerce geralmente entram no meio dos negócios devido às necessidades. Larissa Marcellino foi mais uma dessas. “Meu pai faleceu na pandemia e ele era o único que trazia renda para casa. Apesar da grande dor, tive que pensar racionalmente e correr para pensar em algo rápido que desse dinheiro. Entreguei muitos currículos, mas nunca fui chamada”.
Ela decidiu vender doces, pois é algo que sempre fez muito bem. Começou vendendo de porta em porta, mas mesmo assim o retorno não foi o suficiente. Até que um amigo montou para ela uma loja on-line de surpresa. “Ele me explicou como funcionava e comecei a divulgar por lá. E assim continuo até hoje. Já tem seis meses que estou com a minha loja. Os desafios são grandes, sem nenhum apoio financeiro, mas acredito que um dia tudo irá melhorar”, deseja Larissa.
Um dos fatores para os negócios on-line estarem se popularizando, principalmente em momentos de crises, é a facilidade e o “pouco” investimento para começar, além das mercadorias, claro. “Os principais itens que um empreendedor precisa levar em conta para se lançar em um negócio de varejo virtual é ter um modelo de negócio: preço, meios de pagamento, orientação ao cliente, promoção, capacidade para investir, pós-venda, para saber se o produto foi entregue conforme o pedido, entrega rápida. E para que tenhamos uma estrutura básica para que a loja virtual funcione perfeitamente, precisamos Selecionar o marketplace correto”, explica a marketing e mídias sociais Fabiane Silva.
Mesmo que a mulher esteja se diferenciando nesse meio, ainda existem muitos desafios para ela crescer e se consolidar no mercado online. Ainda que elas tenham conquistado muitos direitos ao longo dos últimos séculos, ainda resta um longo caminho a ser percorrido até que a igualdade de gênero seja conquistada. Segundo dados do Sebrae, as mulheres têm um nível de inadimplência ligeiramente mais baixo do que os homens (3,7% contra 4,2%). Apesar disso, Felipe Marchezi afirma que elas tendem a ter mais dificuldade de acessar crédito para os seus negócios. Em média, também pagam taxas anuais de juros 3,5% maiores do que os homens.
“Estou até agora tentando criar meu negócio de estamparia online. Estou sentindo na pele a dificuldade para abrir meu próprio negócio. Muitos não acreditaram e não confiaram em mim. Por eu ter filhos para criar, falavam que eu não daria conta. Pedi ajuda ao meu marido para emprestar o dinheiro inicial e ele disse que era arriscado”, relata a dona de casa Bruna Garcia. Ela precisou ir até o banco, enfrentar uma grande burocracia e dificuldade, mas ainda assim não conseguiu o empréstimo. “Atualmente, meu marido foi mandado embora devido aos longos meses de quarentena. E fica cada vez mais complicado abrir meu tão sonhado e-commerce”.
Diante do crescimento do ecommerce entre as mulheres e da alta dificuldade de apoio, empresas como o Sebrae em vários estados implementaram o projeto Sebrae Delas. Além do atendimento padrão, ele prevê uma maior aproximação às realidades e aos desafios vividos por elas no desenvolvimento dos seus negócios. Vale ressaltar que em 2014, foi criado pela ONU, no dia 19 de Novembro de 2014. o “Dia Global do Empreendedorismo Feminino”.
Thaila Freitas – 6º período
Parabéns pela publicação de sua matéria, Thaila. Bjs!
Boa tarde! Como faço pra ter acesso a mais dados sobre a projeção deste mercado?