Todos os dias pessoas pretas são ridicularizadas, criminalizadas e marginalizadas. Seus cabelos, seus diferentes tons de pele, sua ancestralidade. Sempre acham uma forma de fazer com que sintam vergonha de sua aparência. Pretos e pretas passam por isso todos os dias e, muitas vezes, se silenciam. O preconceito está tão entranhado que falas, gestos e comentários racistas são normalizados e condutas inaceitáveis são reproduzidas. Um exemplo aconteceu no Big Brother Brasil 21, no qual um participante comparou o cabelo de outro a um homem das cavernas: sujo e asqueroso. O caso gerou um intenso debate e mostra a força dos programas de entretenimento em levantar questões fundamentais na sociedade.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que 55,8% da população brasileira é composta por pretos e pardos. Mas eles ainda são minoria. Minoria nos grandes cargos, nas universidades, na sala de aula. O abismo social que separa pretos e brancos vem de berço, pois a taxa de mortalidade entre crianças pretas é maior do que a população branca da mesma idade. Dados do instituto também mostram que pretos e pardos são 50,3% dos estudantes nas universidades, mas, como formam maioria da população, esse número ainda continua sub representado.

Carolina Tavares e Beatriz Santos são vendedoras de uma grande e famosa loja de departamento no Rio e contam as diferentes experiências por que passaram trabalhando no mesmo local. “Sofro com o racismo diariamente, principalmente por trabalhar em uma área nobre da cidade. Sempre que me aproximo das clientes – a maioria branca -, elas seguram as bolsas, olham de forma estranha, até eu mostrar meu crachá e dizer que trabalho ali. Algumas disfarçam e são atendidas por mim, outras nem fazem questão de disfarçar”, revela Carolina.
A amiga Beatriz, que não é negra, se entristece com o preconceito enfrentado por Carolina: “Eu nunca tinha percebido essa mudança de tratamento entre nós duas até passarmos por uma situação em que a cliente ignorou completamente a presença da Carolina para falar comigo. Isso me doeu muito e me fez pensar em muitas coisas”. Carolina assegura: “Eu como uma mulher preta, aprendi a ignorar esse tipo de comportamento desde que sou criança. Isso não é uma coisa que me incomoda mais. Diz mais sobre os brancos do que sobre mim”. E Beatriz completa: “Lutar contra o racismo não é mais só uma obrigação de pessoas negras, é um dever nosso como pessoas”.
Beatriz pensa como Angela Davis, filósofa e professora que, nas décadas de 60 e 70, lutou contra o racismo e pelos direitos dos negros nos EUA, que certa vez disse: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista; é necessário ser antirracista”. Ou seja, vai muito além de postar frases nas redes sociais. É também falar, usar o privilégio para denunciar.
Estudante de Sociologia, Luiza Neves concorda e acrescenta que aquilo que aconteceu no BBB é muito mais comum do que se imagina: “Culpabilizar a vítima e reverter a situação é um dos maiores privilégios brancos. A desculpa de que é algo que não é ensinado é uma vergonha. Pessoas pretas estão cansadas de todo dia ter que ficar ensinando o bê-á-bá para adultos. Além de doer muito, é extremamente cansativo”.
A psicóloga Aline Lima ressalta a urgência de se transformar esta realidade: “Precisamos criar nossas crianças para serem antirracistas, porque, infelizmente, algumas gerações antes da nossa falharam nessa missão”. E acrescenta: “A única explicação para se continuar reproduzindo tanto preconceito, mesmo sendo falado várias e várias vezes, é gostar de ser ruim e ignorante; porque essas pessoas, no fundo, sabem que estão erradas”.
Nesta discussão, só existe um lado. O lado de que é preciso repensar e admitir erros. Não há desculpas para o preconceito. É necessário que a sociedade como um todo repense e reveja suas práticas. Parafraseando Emicida: a felicidade do branco, é plena; a felicidade do preto, é quase. É urgente mudar esta realidade.
Myllena Costa – 3º período
Parabéns pela publicação da matéria, Myllena. Bjs!
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