Alguns se inclinam em prol da vida dos animais e pela diminuição da crueldade da indústria da carne, outros julgam ser um modo de viver mais saudável e regrado. Há também quem olhe por questões de degradação ambiental e fatores prejudiciais à vida humana. Seja qual for o motivo, ser vegetariano é um ato político. A alimentação vegetariana, no entanto, exige atenção quanto aos aportes nutricionais, seja em adultos, adolescentes ou crianças. Para isso, é preciso que frutas, vegetais, verduras ou leguminosas sejam preparados da maneira correta, a fim de conseguir a maior integridade vitamínica possível. Com a pandemia do Covid-19, o uso de produtos químicos para a desinfecção destes alimentos tornou-se agora, mais do que nunca, essencial.

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O vegetarianismo é um estilo de vida ancestral e teve origem entre os mais antigos povos, Australopithecus Anamensis, que se alimentavam, basicamente, de vegetais, frutos e sementes. Com o domínio das técnicas dos homens evoluídos, os Homo Neanderthalensis, a caça passou a ser explorada, tornando, assim, outros animais em alimentos para a espécie humana. Com o tempo, as práticas vegetarianas foram readotadas entre algumas civilizações devido aos princípios religiosos, socioambientais e de saúde. Nas civilizações contemporâneas, com discussões mais abertas, esse modo de vida ganhou conhecimento e proporção.

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Karen de Souza Novais, de 23 anos, ovolactovegetariana há três anos, explica que o ponto que mais a influenciou a mudar seus hábitos alimentares foi a questão ambiental, pensando não somente no bem estar animal, mas nas diferentes consequências que essas atividades trazem ao meio ambiente e à sociedade. “A motivação veio de tentar fazer algo para amenizar, mesmo que minimamente, todo este cenário que prejudica o planeta. Está longe de ser o ideal, mas uma pequena mudança já é positiva de alguma forma”.
Já Matheus Henrique Martins da Cruz, de 24 anos, que segue a ramificação ovovegetariana, diz que a adoção dos novos costumes se deu pelo descontentamento generalizado com a indústria da carne. “Há uma completa falta de sentido de gerar uma reprodução artificial de animais só para o abate, para saciar nosso paladar. É insustentável a longo prazo, porque a indústria da carne é muito danosa para o meio ambiente e para o futuro. Eu já consumi bastante e acho carne algo muito saboroso, que dá prazer quando você come, mas, para mim, a questão nunca foi realmente essa”.
Cada vez mais pessoas pensam como ele. A pesquisa mais recente do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), de 2018, mostra que no Brasil aproximadamente 30 milhões de brasileiros se declaram vegetarianos, independentemente da classificação de vegetarianismo. Essa investigação contempla indivíduos de mais de 18 anos e não contabiliza a população infantil, o que sugere uma média e não uma totalidade. Esse número equivale a 14% da população do país, quantidade que representa quase dois estados do Rio de Janeiro, este que, segundo a Agência Brasil, abrangia 17.366.189 habitantes em 2020.

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Hoje, embora o tema seja muito mais comum e comentado, ainda há certas dúvidas quanto à saúde das pessoas que seguem essas dietas. A nutricionista Thalita Muniz explica que a dieta vegetariana, quando bem orientada, ou seja, com todos os nutrientes necessários – carboidratos, proteínas e lipídios –, será tão boa quanto a dieta onívora (dieta comum). Ao mudar sua alimentação, Karen conta que procurou um profissional para avaliar se sua saúde estava bem e se os novos hábitos poderiam acarretar danos. Com tudo dentro da normalidade, seguiu com a dieta: “Não tive nenhum déficit vitamínico por conta da dieta. Pelo contrário! Comecei a ter uma alimentação muito mais saudável e nutritiva”.
Falando ou comendo abobrinhas?
Em crianças e adolescentes, indivíduos em plena fase de desenvolvimento, os cuidados devem ser redobrados. Thalita, que é especialista em nutrição infantil, explica que para uma programação metabólica correta, toda pessoa, independentemente do estilo de vida adotado e da faixa etária, deve ter a orientação de um profissional habilitado, seja ele voltado para o vegetarianismo ou não. “Não há um milagre ou um alimento amigo que dê esse aporte nutricional, e sim uma dieta balanceada”, esclarece a especialista.
Quando não são feitas adequações e orientações corretas sobre a alimentação, há riscos de anemia, por exemplo. Nas carnes é que se encontra o ferro heme, que é o ferro com maior biodisponibilidade para o organismo humano, ou seja, que consegue ser absorvido em maior proporção. Neste caso, seria o que crianças vegetarianas (e adultos) não consomem e, teoricamente, teriam maior probabilidade de risco pela falta desse nutriente.
Mas isso não anula a possibilidade de os pequenos seguirem esse tipo de dieta. Existe também o ferro não-heme, que é encontrado, especialmente, em folhosos verdes escuros. Outra solução é a suplementação de ferro durante a infância, que é recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Além do ferro, é preciso dosar os níveis de zinco no organismo. Este nutriente encontra-se em maior quantidade na proteína animal, contudo, dentro da dieta vegetariana é encontrado nas leguminosas e oleaginosas como as amêndoas, nozes, castanha de caju, entre outras.
Rayky Arthur Duarte de Oliveira, de apenas 12 anos, decidiu parar de consumir carne por vontade própria. Afinal, crianças não falam abobrinhas, elas comem. “A minha motivação é o meio ambiente e também uma saúde melhor. Já fiz acompanhamento nutricional e nunca tive déficit vitamínico. O nutricionista conversou comigo e falou que eu tenho um peso e saúde normal para a minha idade”, conta o menino.
Além de ter uma saúde perfeita e nunca ter tido uma baixa nutricional, Rayky diz se sentir muito bem por não maltratar os animais. Sua dieta é baseada em legumes, frutas e verduras variadas e vale ressaltar que sua mãe, Monica Duarte Bahia, consome proteínas animais normalmente.
Cautela além da pandemia
Com o atual cenário mundial, de pandemia de Covid-19, surge uma nova questão quanto ao vegetarianismo. Por vegetais, verduras, frutas, leguminosas e sementes serem alimentos da terra e, geralmente, não se encontrarem embalados industrialmente, deve-se desinfetá-los muito bem. No entanto, algumas pessoas ficam hesitantes quanto à qualidade nutricional após essa assepsia.
Karen conta que em certo ponto teve receio de que a higienização e a desinfecção pudessem alterar a integridade vitamínica dos alimentos, mas que, hoje, essa não é mais uma preocupação: “Uma vez que o procedimento se mostra eficaz para fins de higienização, não é algo que me venha muito ao pensamento. Eu nunca tive esclarecimentos, de forma pessoal, com um especialista sobre esta questão. As informações que tenho de profissionais neste assunto, geralmente, são por meio dos canais de comunicação, como TV e internet”.
Sob outra perspectiva, Matheus Henrique diz que nunca teve esse receio: “Sei que é uma possibilidade, visto que alguns nutrientes, por exemplo, ficam restritos às cascas de alguns vegetais, mas eu nunca tive essa preocupação a ponto de considerar o ato um problema”.
A mestre em Fitotecnia de Horticultura e Fruticultura (técnica de estudo das plantas) Flávia Targa Martins, explica que a assepsia não altera o valor nutricional dos alimentos, apenas elimina os organismos patogênicos. “A higienização deve ser realizada sempre. Não apenas pela pandemia, mas por todas as outras doenças que são transmitidas por alimentos crus contaminados, tais como hepatite A, gastroenterites e verminoses”.
Além de ser imprescindível, ela diz que há um jeito correto de fazer essa assepsia. “No primeiro momento, devemos lavar com água corrente. Depois, colocar de molho em água potável e água sanitária (uma colher de sopa para cada litro), deixar por 15 minutos e lavar novamente em água corrente. Vinagre não funciona para eliminar os organismos patogênicos”.
Para quem opta por não utilizar a água sanitária, a especialista em nutrição fitoterápica, Fernanda Ramalho, ensina um outro modo seguro de fazer essa assepsia: “Instruo colocar no cloro, tanto aqueles vendidos em supermercado e hortifrutis, quanto o cloro puro, sendo uma colher de sopa para dois litros de água. Coloque ali por 15 minutos, em água filtrada, depois enxague, seque e guarde”.

Fotos: Acervo Pessoal
Quanto à alteração da integridade vitamínica, Fernanda alerta sobre uma das poucas formas possíveis de isso acontecer em frutas, vegetais, verduras e leguminosas: “Cozinhar por muito tempo tira um pouco da quantidade de algumas vitaminas. Deve-se aquecer a água para ferver antes de colocar os vegetais”. Fica claro que, com os cuidados adequados, a vida e a alimentação podem ter outro sabor.
Brenda Pinto – 7º período
Parabéns, Brenda! Bjs!
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