A arquiteta Crisa Santos, idealizadora do Memorial In-finito, é a criadora da obra que tem como objetivo homenagear as vítimas da Covid-19 no Brasil. O monumento, que contém 39 metros e quase três toneladas de aço oxidado, está situado no Cemitério da Penitência, no Caju, Zona Portuária do Rio. Ao longo das sinuosas curvas da obra, familiares podem ter os nomes de seus entes queridos colados nas placas de aço, numa singela homenagem.
Crisa contou, com exclusividade à Agência UVA, detalhes sobre o memorial e apresentou novos projetos do Coletivo Crisa Santos Arquitetos.
Agência UVA: Como surgiu a ideia de criar o memorial em homenagem às vítimas da Covid-19?
Crisa Santos: A ideia surgiu a partir do momento em que nós, como escritório, especializados na área cemiterial, continuamos trabalhando na pandemia junto aos cemitérios. Passamos por algumas situações constrangedoras no sentido de entender a dor do enlutado, que foi impossibilitado da despedida. Em algumas portarias municipais as famílias não tiveram a oportunidade de estar nem 10 minutos com seu ente querido. Junto com essa observação da tristeza do enlutado e da impossibilidade de despedida, eu me lembrei de uma história pessoal, pois aos 13 anos perdi a minha mãe e fui impossibilitada de ir ao velório, por uma questão de proteção da minha família, achando que eu sofreria menos. Apenas depois de trinta anos pude fazer a cerimônia de despedida dela, cremando os restos mortais. Foi muito significante! É como se eu tivesse interrompido um luto por 30 anos. Então, a necessidade nesse momento de dar continuidade ao luto é muito importante. Foi aí que nasceu o memorial infinito.
(Imagem: Reprodução Instagram Crisa Santos Arquitetos)
Agência UVA: Como foi feita a escolha do local que recebeu o memorial?
CS: Não houve a escolha do local. O projeto pode ser implantado em qualquer lugar, seja por uma empresa privada, particular, do meio cemiterial ou não. Assim que eu lancei o projeto, que é uma doação do coletivo Crisa Santos, o Cemitério da Penitência foi o primeiro a se interessar.
Agência UVA: Qual o significado do nome do projeto?
CS: Ele se chama Memorial In-finito justamente pela continuidade e pela história de pessoas. Sempre falo que, quando estamos em luto, não podemos pensar que acabou. A minha história continua naqueles que me cercaram. Essa é a linguagem do memorial.
Agência UVA: Poderia explicar alguns detalhes da obra?
CS: Ela tem altos e baixos, tem diferentes curvas, diferentes modos de confraternizar. Esses altos e baixos representam muito a nossa vida, nem sempre estamos no topo, felizes, mas ela continua, seja em nós mesmos ou no outro. Por isso que a gente pensou no memorial, para ele se tornar uma continuidade de vida, para dar importância a todas essas histórias. Sairíamos de uma estatística para imortalizar, para gravar aquela pessoa que se foi, para que ela pertença a um espaço.
Agência UVA: Para você, o que representa o Memorial In-finito?
CS: Representa a possibilidade de honrar quem partiu, sem a possibilidade de uma cerimônia dos enlutados; representa a continuação da vida, apesar desse momento difícil; representa honrar quem se foi e amparar quem ficou.
Agência UVA: Qual foi o sentimento por trás do projeto e a sensação de vê-lo finalizado?
CS: Quando os enlutados estiveram no local no dia anterior a inauguração, percebi o quão é importante um local em que eles possam voltar e honrar os que se foram. Se sentiram representados e lembrados. Então, nesse dia, no último 18 de setembro, senti que tinha realizado um papel na história dessas pessoas e, consequentemente, na minha vida.
Agência UVA: Você comentou que além desse, terão outros Memoriais In-finito. Quais são as ideias para os próximos? Já há algum local definido?
CS: O Memorial In-finito tem diferentes módulos e três formas de montagem: linear (como o realizado), circular e espiral. Há muitas possibilidades de montagens. O próximo será realizado em Belo Horizonte e espero que outros cemitérios e entidades públicas e privadas abracem a ideia, pois já temos quase 150 mil mortos e com eles uma base de dez enlutados para cada falecido, ou seja, estamos com um milhão e meio de pessoas em processo de luto. Precisamos de espaços para honrar tanto quem se foi como quem ficou.
Agência UVA: O que devem fazer os familiares que perderam algum ente querido e querem homenageá-lo no memorial?
CS: Entrar em contato com o Cemitério da Penitência. A diretoria abriu para todos os interessados, e não somente para aqueles que tiveram seus familiares sepultados ou cremados no local.
Agência UVA: Além do Memorial In-finito, há algum outro projeto sendo idealizado por vocês no momento?
CS: A gente hoje está com três projetos grandes de cemitérios, com reformas totais, dois na região de Minas Gerais e mais um no interior do Rio. Temos o memorial que vai contemplar uma homenagem a quem foi cremado, na região do ABC, em São Paulo, que não tem nada a ver com a Covid-19. Estamos também em desenvolvimento de um cemitério novo no interior de São Paulo, e continuamos aqui na Penitência construindo um outro memorial, que não posso divulgar ainda, mas que também não tem relação com a Covid. No Cemitério São Francisco Xavier, estamos fazendo a requalificação das áreas verdes, que é um processo demorado. Ali fizemos diversos outros projetos que estão esperando aprovação do órgão público. Têm outros no Parque das Cerejeiras, nosso mais antigo cliente, que é uma reforma bem grande de todo o complexo de velórios deles.
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José Paulo Sobral – 4° período
Agência UVA 
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