Em meio à crise sanitária causada pelo Covid-19 e à necessidade de minimizar o contato social, milhões de estudantes ficam impossibilitados de prosseguir com seus estudos. O método de Ensino à Distância (EaD) surgiu como uma das alternativas mais viáveis em meio ao caos proporcionado pela pandemia. No Brasil, o registro mais antigo sobre a modalidade data o ano de 1904, com anúncios nos classificados do Jornal do Brasil sobre um curso de datilografia por correspondência. Com o avanço da tecnologia ao longo dos anos, o surgimento de novos dispositivos e também da internet, o método foi aprimorado e hoje é indispensável para milhares de professores e estudantes por todo o país. No entanto, há ponderações sobre o tema e até que ponto ele pode ser uma solução efetiva, apesar de necessária.
Não é difícil entender por quê. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) um em cada quatro brasileiros não tem acesso à internet. Isso representa cerca de 46 milhões de pessoas desconectadas e impossibilitadas de utilizar um recurso como a educação à distância. Já outros 11,8% afirmam que o serviço de internet é caro, enquanto para 5,7% os equipamentos necessários como tablet, celular e computador fogem do orçamento.
Para Ana Carolina Calomino Navarro, de 19 anos, a ‘’educação hoje no Brasil está sendo cada vez mais feita em moldes exclusivos’’. A estudante de Jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acredita que ao mesmo tempo em que o EaD pode ser inclusivo, pode ser excludente. “A grande questão é a forma como ele é aplicado, sobretudo se tratando de ensino público”. Ana ainda reforça o contexto em que muitos brasileiros estão inseridos. “Não penso que seja justo condenar o EaD em si, porque, por exemplo, em muitos casos, ele possibilita estudo a pessoas que não conseguem chegar à faculdade, seja por horário, por tiroteios em áreas de periferia, seja para mulheres que não conseguem sair de casa por estarem cuidando de seus filhos e filhas”, diz a estudante.
Para Ana, as políticas públicas acerca do tema não apontam uma solução para os problemas sociais. “Vejo que as propostas, especificamente no campo da educação, se encaminham para a privatização de tudo que é público e, no mesmo pacote de projetos, para o sucateamento da educação de qualidade. A pergunta que fica é: para quem estamos fazendo EaD num país em que muitos alunos não têm dinheiro para chegar às universidades, que dirá ter acesso a computadores?”.
Além dos desafios impostos aos alunos, os professores também passam por um período de adaptação ao novo cenário, mudando drasticamente suas rotinas. Para William John Martins de Oliveira, 32 anos, o método, apesar de questionável, mostra bons resultados. ‘’É um desafio geral para toda a educação, principalmente a nacional, de modo a inovar os métodos de ensino. A tecnologia é uma realidade progressiva, que se tornou avassaladora em todos os campos sociais. A readaptação do ensino é vista num tempo em que os métodos digitais são a maneira mais prática de aproximar a educação dos alunos’’.
O professor de Filosofia e Ensino Religioso do Colégio Imaculado Coração de Maria, porém, pontua a exclusão de algumas pessoas da modalidade: “É uma ferramenta genuína, mas não inclusiva a muitos profissionais. Demanda tempo, recursos, estudo, esforço e reinvenção constante dos antigos métodos’’. As alternativas são limitadas, e, para William, o ensino à distância surge como o método mais viável, porém, ainda excludente. “Em tempos de pandemia e de isolamento social, o ensino remoto se tornou uma ferramenta na relação entre professor e aluno. No entanto, o ensino à distância pode ser entendido como exclusivo para alguns segmentos da sociedade, quando, ao mesmo tempo, torna-se excludente para outros’’, afirma o professor.
Na visão de Igor Rafful, 20 anos, o método é valido, mas falível por questões sociais e econômicas dentro do cenário atual brasileiro. Para Igor, o estado deve adotar soluções práticas e de acordo com o cenário atual. “É preciso fornecer informação em relação ao conteúdo das aulas, oferecer material didático online e incentivar a prática das folhas de exercícios, disponível no site da prefeitura de cada cidade, usando matrícula para acessar’’. Para o estudante de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida (UVA), o estado poderia exercer um papel melhor no auxílio a quem não tem acesso ao método EaD: ‘’O governo poderia custear equipamento básico para poder gravar aulas, já que existem servidores e ferramentas para poder armazenar e distribui-las”. Na cidade do Rio de Janeiro, o prefeito Marcelo Crivella anunciou o plano de flexibilização da quarentena de forma gradual, com projeção para a volta às aulas na rede municipal de ensino caso os protocolos sejam respeitados. No entanto, a tendência é que muitas instituições de ensino particulares optem por manter seus cronogramas via ensino à distância, tendo em vista a elaboração de um calendário voltado unicamente para a modalidade EaD.
*Matéria produzida pelo aluno Rodrigo Nery Rego Barone para a disciplina Teoria e Técnica da Notícia, ministrada pela professora Maristela Fittipaldi.
Parabéns, Rodrigo!!!!
Pingback: MEC abre 50 mil vagas remanescentes do Fies 2020/2 | Agência UVA