O herói mais popular da DC está completando 80 anos em 2019. Batman, ao longo de sua trajetória, alcançou o sucesso e prestígio do público em todas mídias em que se fez presente. Então em comemoração à essa data, a Agência UVA traz, nesta primeira parte, o processo de criação do personagem e seus principais quadrinhos. Confira mais abaixo:
Criação e início do personagem

Batman é um super-herói da DC Comics criado por Bob Kane e Bill Finger e fez sua estreia na revista Detective Comics #27, em maio de 1939. Os criadores se inspiraram nos personagens pulp Zorro e Sombra e no filme The Bat. Desde o início, Kane já imaginava o herói como uma figura que combatia o crime sem poderes – ideia que se diferenciava totalmente do superman, carro-chefe da editora na época. Mas foi Finger quem moldou o personagem durante a década seguinte, definindo sua personalidade, tom das histórias e os estilos dos personagens e locais que cercavam o homem-morcego.
A história de origem do Batman todo mundo já conhece, mas vale a pena relembrar. Bruce é filho de Thomas e Martha Wayne sendo, então, o herdeiro da família mais poderosa e influente de Gotham. Até que em uma noite, o jovem presencia a morte de seus pais durante uma tentativa de assalto após saírem do cinema. Agora um órfão, Bruce, seguido por um senso de justiça, passa os anos seguintes treinando tanto a sua mente quanto o seu corpo, afim de livrar Gotham dos criminosos e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo trauma. Já a figura do morcego surge como uma forma de intimidar os vilões os quais o herói começa a combater.

(Foto: Reprodução/DC Comics)
As suas primeiras histórias em quadrinhos eram sombrias, mas precisaram ser reformuladas na década de 50. As histórias passaram a ser mais leves, devido ao Comics Code Autority que censurava as revistas e decidia o que seria publicado pelas editoras. Com a mudança de tom, o vigilante ganhou um parceiro que servia de contraponto com a personalidade mais séria do protagonista. Robin foi o primeiro sidekick da história e surgiu pela primeira vez na Detective Comics #38, em 1940.

(Foto: Reprodução/DC Comics)
O Batman se tornou popular desde que foi apresentado e ainda em 1940 ganhou a sua revista própria. Com o passar dos anos, o herói migrou para outras mídias em que recebeu novas abordagens que ajudaram a construir o mito do morcego que conhecemos hoje.
Batman: O Cavaleiro das Trevas

Lançada em fevereiro de 1986, ao longo de 4 edições, a minissérie O Cavaleiro das Trevas é considerada por muitos a melhor história do Batman. Escrita e desenhada por Frank Miller, a HQ traz um Bruce Wayne envelhecido e aposentado do manto do morcego, que volta a ativa após o crescimento da criminalidade na cidade de Gotham, em decorrência dos atos provocados pela gangue “Os Mutantes”.
Miller retrata o Batman como um homem traumatizado e atormentado que usa de sua inteligência e força para combater o crime de forma muito mais bruta e violenta do que no passado, mas sem quebrar a sua linha moral que é a de nunca matar criminosos. O artista recebeu a oportunidade de trabalhar no projeto depois do ótimo trabalho feito em Demolidor, enquanto estava na rival Marvel Comics. Miller salvou a revista de um cancelamento e elevou o patamar do personagem dentro da editora.

O Cavaleiro das Trevas, além de apresentar uma versão do herói, também possui os méritos de abordar temas que até então não eram explorados, como política, atuação da mídia e as mudanças provocadas em uma sociedade pela existência de super-heróis.
Estes pontos podem ser vistos nos trechos em que a imprensa questiona as ações do vigilante, o chamando de fora-da-lei e o acusando de violar os direitos humanos, ao mesmo tempo em que o herói passa a ganhar admiradores que acreditam que o senso de justiça está retornando à Gotham. Na história, ainda vemos o homem-morcego se rebelando contra o próprio governo. Nesse universo, os heróis foram extintos e apenas o Superman foi mantido em atividade, atuando como agente americano em momentos de grandes crises. A volta do Batman desperta o descontamento do presidente dos Estados Unidos, que coloca ambos os heróis frente à frente em um embate épico.

(Foto: Reprodução/O Cavaleiro das Trevas)
A HQ também introduziu a primeira figura feminina a assumir o posto de Robin. Carrie Kelly era uma estudante de 13 anos que é salva por Batman e passa a idolatrá-lo. Então, Carrie cria o seu próprio uniforme de Robin na esperança de se tornar a sua parceira. A ideia veio do escritor e desenhista John Byrne que, durante a produção da minissérie, disse a Miller que o Robin deveria ser uma garota e ele acabou aceitando a sugestão.

(Foto: Reprodução/O Cavaleiro das Trevas)
O Cavaleiros das Trevas foi um dos responsáveis por começar uma revolução no mundo dos quadrinhos. Rapha Pinheiro, quadrinista e autor das HQs nacionais, Salto e Silas, conta de que maneira se deu esse processo.
“O Cavaleiro das Trevas faz parte de um movimento nos quadrinhos dos anos 80, no qual aquele super herói inspirador e sorridente não existia mais. Obras como Watchmen, Sandman e o próprio Cavaleiro das Trevas traziam uma visão mais realista dos personagens, mais suja e sombria, muito por conta do contexto social e político da época. O medo de uma guerra nuclear e as primeiras visões distópicas do futuro nessa década tornaram a produção cultural mais pesada e visceral”, explica o quadrinista.
Rapha ainda destaca que a obra de Frank Miller também mudou a forma como o público em geral via a 9° arte. “O Cavaleiro das Trevas não só é parte desse momento histórico dos quadrinhos, mas foi um dos títulos que iniciou essa onda, criando um legado e transformou a forma como as pessoas vêem os quadrinhos. Nem toda história é para criança e nem todo super herói é bonzinho”, comenta.
Batman: A Piada Mortal

A graphic novel A Piada Mortal foi escrita por Alan Moore e desenhada por Brian Bolland, tendo sido publicada em 1988. Nesta HQ, é apresentada uma nova origem do Coringa que se tornaria a favorita entre os fãs. O vilão é mostrado como um homem de família que tenta alcançar o sucesso como comediante stand-up. Com um bebê a caminho e precisando de dinheiro, ele decide roubar a empresa em que trabalhava e, para isso, se junta a outros dois criminosos. O roubo dá errado e, durante a fuga, Batman aparece e persegue o vilão, que acaba caindo em um tonel de produtos químicos. O homem sobrevive e, ao ver o estado de seu rosto, enlouquece e se torna a figura conhecida como Coringa.

(Foto: Reprodução/A Piada Mortal)
A trama consiste no Coringa tentando provar ao Batman a sua tese de que um dia ruim é o suficiente para enlouquecer até o mais são dos homens. A pessoa escolhida pelo vilão não é o herói, mas o comissário Gordon. O palhaço baleia Barbara Gordon, filha do comissário e ex-batgirl, e na sequência sequestra Gordon para torturá-lo. Tudo isso apenas para provar a sua tese ao homem-morcego.
Gordon foi o escolhido, pois era visto como a figura mais incorruptível de Gotham, superando até mesmo o próprio Batman. O Coringa via o seu grande rival como uma pessoa tão louca quanto ele, mas com objetivos diferentes. Na visão do palhaço, o Batman buscava a ordem, enquanto ele o o caos.
Entre os grandes méritos da obra estão as diversas interpretações deixadas por Moore, que até hoje rendem discussões e teorias entre os leitores. Até hoje há dúvidas sobre se Barbara foi ou não abusada pelo vilão após ser baleada e, se no fim, o Batman rompeu ou não com o seu senso moral e matou o Coringa.

Batman: Ano Um

Se O Cavaleiro das Trevas apresenta a principal história de encerramento do Batman, Ano Um trouxe a origem definitiva. Lançada em 1987, como uma minissérie mensal, a HQ foi escrita por Frank Miller e desenhada por David Mazzucchelli.
A DC, na década de 80, estava reformulando o seu universo por completo. A intenção da editora era acabar com o conceito de Multiverso que apresentava várias versões dos heróis em diversas dimensões e assim colocar ordem na casa. A grande saga Crise nas Infinitas Terras teve o papel de encerrar todo esse ciclo para que pudesse haver um novo começo.

Todos os principais heróis da DC tiveram as suas histórias recontadas e Frank Miller foi incumbido de estabelecer uma nova origem para o Batman. A escolha era mais do que óbvia, pois Miller tinha conquistado a confiança da editora com o enorme sucesso que O Cavaleiro das Trevas obteve. Já David Mazzuchelli, havia trabalhado com Miller em Demolidor: A Queda de Murdock – outro clássico dos quadrinhos.
Na trama, acompanhamos o primeiro ano de atividade do Batman em Gotham. Bruce retorna para casa depois de anos de treinamento, ao mesmo tempo em que o tenente Jim Gordon chega à cidade, junto de sua esposa, grávida de seu primeiro filho, para se integrar a polícia local. Assim que Gordon começa a se familiarizar com o ambiente, ele percebe que o distrito policial, comandado pelo comissário Loeb, está tomado pela corrupção.
A narrativa apresenta tanto a perspectiva de Bruce quanto a de Gordon. Tendo personalidades diferentes e métodos próprios, ambos lutam pelo mesmo objetivo e são mostrados como as únicas pessoas que tentam mudar o panorama da cidade. A relação entre os dois, embora comece estremecida, logo se torna fundamental na luta contra os criminosos.

Em Ano Um, todo o processo que culminou na existência do Batman é melhor aprofundado, dramatizado e ganha um contexto mais amplo. Bruce é apresentado como um ser humano falho e inexperiente, que tenta provar a si mesmo que é capaz de salvar Gotham. Até mesmo o traje recebeu um novo significado. A figura do morcego, agora, estava intrínseca ao passado do herói. Ao ter o vidro do seu estúdio quebrado pelo animal, Bruce se lembra do medo que sentia quando pequeno e então decide personificá-lo em sua cruzada contra o crime.

Breno Silva – 7° período
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