Mudar hábitos de consumo e reduzir a utilização de certos bens materiais pode ser uma tarefa difícil para grande parte da população, porque, afinal, a indústria tem um poder muito maior de moldar a forma de consumir da sociedade, do que o contrário. Porém, muitas pessoas, especialmente jovens, vêm se inspirando em iniciativas e tendências para transformar seus velhos costumes em hábitos ecologicamente sustentáveis.

Pelo fato de entrar em conflito com a realidade econômica de grande parte da população e também por não terem a mesma praticidade dos hábitos comuns, mudanças nos hábitos de consumo (utilização e descarte de resíduos, abolição ou redução do uso de plásticos, reciclagem, e outros exemplos) são um pouco difíceis de serem feitas de forma abrupta. No entanto, alguns projetos e influenciadores nas redes sociais tentam dar dicas de como poderiam ser os ‘primeiros passos’ para começar a caminhada da conscientização ambiental.
Uma delas é o ‘Menos1Lixo’, projeto idealizado pela ativista ambiental e digital influencer Fe Cortez, com origem no Rio de Janeiro. De início, surgiu como um diário virtual para medir quantos copos de plástico a carioca deixaria de utilizar no dia a dia, mas acabou tomando outras proporções e virou referência para milhares de pessoas que venham a aderir a ideia, com dicas caseiras e até comercializando produtos próprios que não agridem o ambiente.

Estudante da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), Gabriela Rodrigues, de 24 anos, conta que deu o ‘pontapé inicial’ para rever seus hábitos diante dos alertas e estudos sobre a questão ambiental logo após conhecer o Menos1Lixo e outros projetos como o ‘Uma Vida Sem Lixo’ e o ‘Por Favor Menos Lixo’.
“Separar o lixo reciclável do não reciclável foi a primeira medida para mudar meus hábitos. Isso porque, ao separar, percebi a quantidade de lixo que estava produzindo e o quanto a maioria era desnecessária. A partir daí, fui mudando aos poucos minhas atitudes: ando com um kit na bolsa com ecobag, talheres e copo, opto sempre por produtos em embalagens de vidro ou papelão, tento preparar mais refeições em casa ao invés de pedir delivery, o que também economiza muito dinheiro”, conta.

A estudante também fala que toma certos cuidados quanto aos produtos de limpeza e higiene pessoal. Apesar deste segmento ainda não ser facilmente “adaptável” para o estilo de vida sustentável (por conta da praticidade e valores), Gabriela encontra meios e tempo ágil para preparar suas próprias fórmulas caseiras para substituir o sabão em pó, limpa vidros, desinfetantes e outras coisas relacionadas. “Atualmente, compro apenas bicarbonato, limão, óleo de coco, vinagre de álcool e já resolvo quase tudo. A maior parte do meu lixo era de embalagens de comidas e produtos de limpeza, por isso priorizei essas mudanças”, explica.
Voltando ao Menos1Lixo, Gabriela afirma que, de fato, o projeto foi uma de suas motivações iniciais, mas que outros fatores contribuíram para que sua preocupação com a sustentabilidade ambiental se tornasse urgente e as mudanças em seus hábitos fossem mais rápidas. “Assisti alguns documentários como o ‘Minimalismo’, ‘Planeta Terra’, ‘Oceano Plástico’, ‘Em busca dos Corais’, entre outros. Inclusive, eu costumo recomendar esses filmes para gerar um alerta nas pessoas. Não que eles sejam um guia de comportamento ou coisa do tipo. É mais para forçar uma reflexão, porque temos que contestar tudo o tempo todo e deixar claro que estamos insatisfeitos com a quantidade de plástico que está sendo usada no mundo”, comenta.

Moda sustentável e inspiração para projeto acadêmico
Em outra frente do estilo de vida sustentável está uma questão que costuma ser pouco abordada nesse debate, que é da escolha de vestuário. Isabella Almeida, formada em Relações Internacionais, pela PUC-Rio, é um exemplo de quem toma um cuidado especial com o consumo de roupas.
“Eu agora costumo olhar a composição dos tecidos nas etiquetas e ver se são tecidos provenientes do petróleo, e opto por tecidos de algodão e de outros materiais mais orgânicos e naturais. Outra coisa que eu faço bastante é consumir roupas de brechós e de vó e parentes. Além de você reutilizar as peças antigas, você acaba economizando bastante. O importante da reutilização é que quando a gente compra roupa online nas chamadas fast fashions, as lojas costumam mandar cada peça embalada em plástico, então vem muito plástico desnecessário”, comenta.
O gosto pela moda e a preocupação com a prática sustentável levou Isabella a escrever artigos e até o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) focados em assuntos que variam entre essas duas áreas: sustentabilidade e moda, que fazem parte dos hábitos diários de quase todas as pessoas.
“O meu TCC foi ‘O Comércio Internacional de Vestuários: como a Sustentabilidade surge como um fator de competitividade e diferenciação entre as empresas’, abordando a importância das empresas de vestuário adotarem medidas sustentáveis na sua cadeia de produção e venda. E um dos artigos que eu escrevi, que saiu até em uma revista, foi ‘O Direito Humano a uma alimentação digna: como a agricultura familiar e hortas domésticas auxiliam nesse direito’, que trabalha a ideia das ‘composteiras’ como uma ferramenta doméstica para diminuir a produção de lixo e como usá-la para produzir alimentos em casa. Não tem a ver com moda, mas ainda fala de sustentabilidade (risos)”, conta.

Relação entre as crises ambiental e social
Isabella frisa que o conceito de sustentabilidade não se aplica somente ao meio ambiente, mas também a tudo que compõe a vida no planeta, incluindo os próprios seres humanos e animais. Da mesma forma que um país pode (e deve) implementar um modelo de desenvolvimento econômico e industrial sustentável, é necessário pensar na sustentabilidade social: o impacto que certas medidas teriam em grupos populacionais, na população mais pobre, em terras de povos indígenas, etc.
“Um ponto importante sobre a sustentabilidade é pensar que são três pilares: econômico, social e ambiental. Então, ao comprar uma roupa ou consumir algum alimento, é importante pensar também na origem dele, como foi fabricado, se não há mão de obra análoga à escravidão e se há maus tratos com animais. Muitas coisas que compramos da China, por exemplo, são produzidas por pessoas quase exploradas nas chamadas sweatshops. O impacto do nosso consumo não está só no descarte dos produtos, mas sim em toda a vida útil dele, da produção ao descarte”.
Victor Leal – 7º período
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