Uma cena de beijo homossexual presente no quadrinho “Vingadores: A Cruzada das Crianças” fez com que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, se manifestasse em sua conta oficial no Twitter para pedir que os exemplares da obra fossem retirados do acervo da Bienal do Livro na manhã da última sexta-feira (06).
A declaração do prefeito causou uma enorme polêmica nas redes sociais. Ao alegar que o conteúdo da cena “não é adequado para menores de idade”, Crivella virou alvo de diversas críticas que o acusam de cometer um ato de censura e homofobia. O pedido do prefeito acabou por aumentar a procura pelo quadrinho ao ponto de fazer com que todos os exemplares disponíveis na bienal se esgotassem em apenas meia hora após a declaração.
Buscando esclarecer o caso, a Prefeitura do Rio de Janeiro publicou uma nota oficial à imprensa. Em resumo, o comunicado diz que uma obra inapropriada para menores de idade só poderia ser comercializada caso ela fosse devidamente encapada e tivesse uma advertência de classificação indicativa à mostra em seu exemplar. A Prefeitura também ameaçou caçar a concessão da Bienal, caso a organização resolva não obedecer.
Confira a nota na íntegra:
A Prefeitura do Rio notificou, na tarde desta quinta-feira, dia 5, por intermédio da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), a organização da Bienal do Livro a adequar obras expostas na feira aos artigos 74 a 80 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A legislação determina que publicações com cenas impróprias a crianças e adolescentes sejam comercializadas com lacre (embaladas em plástico ou material semelhante), com a devida advertência de classificação indicativa de seu conteúdo.
No caso em questão, a Prefeitura entendeu inadequado, de acordo com o ECA, que uma obra de super-heróis apresente e ilustre o tema do homossexualismo a adolescentes e crianças, inclusive menores de dez anos, sem que se avise antes qual seja o seu conteúdo.
A própria editora sabia da obrigação legal. Tanto que a obra estava lacrada. Não havia, porém, uma advertência neste sentido, para que as pessoas fizessem sua livre opção de consumir obra artística de super-heróis retratados de forma diversa da esperada.
Houve reclamação de frequentadores da feira, que têm direito à livre opinião e opção quanto ao conteúdo de leitura de filhos e adolescentes, pessoas em formação.
Portanto, não há qualquer ato de trans ou homofobia, ou qualquer tipo de censura à abordagem feita livremente pelo autor, mas exercício do dever de informação quanto ao que se considerada material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes, exigindo-se, assim, o lacre e a advertência.
Em caso de descumprimento, o material sem o aviso será apreendido e o evento poderá ter sua licença de funcionamento cassada.

Na opinião da estudante de jornalismo, Isabela Jordão, esse caso é uma prova de que a necessidade do estado em interferir na educação de uma criança deve ser questionada, independentemente da temática do obra. “O estado só tem o poder de garantir a educação das crianças até o ponto onde a opinião concorda com a minha, ou isso é algo absoluto independente de opiniões? Até que ponto o estado tem o poder?”, reflete a estudante.
Diversos influenciadores e figuras políticas também aproveitaram o momento para comentar a respeito do assunto nas redes sociais. Confira algumas opiniões abaixo:

“Vingadores: A Cruzada das Crianças” é uma minisérie de quadrinhos americanos da Marvel Comics que foram publicados no Brasil pela Editora Salvat, em conjunto com a Panini Comics no ano de 2016. De acordo com a sinopse oficial da história, os super-heróis “Hulking” e “Wiccano” nutrem um relacionamento homossexual.
Rhuan Bastos – 6º período
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