EXPERIÊNCIAS DOS USUÁRIOS
Vinícius Fernandes, 27
“Eu achava estranho a paixão que ele tinha pelo cristianismo, por ele estar tão presente em igrejas e ser dedicado à causa, mas ele nunca falou nada comigo ou contou porque ele era assim”, conta o publicitário.
O rapaz diz que, no ano passado, conheceu um menino pelo Tinder e depois o encontrou pessoalmente. Vinícius conta que, sempre que falava em namoro, o pretendente afastava a ideia com a justificativa de que iria estudar em Paris no próximo ano e não tinha pretensão de voltar ao Brasil. Após dois meses de envolvimento, ele foi surpreendido com a notícia de que seu par, que conheceu pelo aplicativo, estava estudando para ser padre e por isso não poderia namorá-lo.
O publicitário explica que, no início, foi difícil, pois ele já tinha cultivado um sentimento pelo outro, mas que hoje, o que era dolorido se tornou uma das histórias mais engraçadas e peculiares que já viveu. Por outro lado, Vinícius alerta que nem tudo é furada. Na mesma época que conversava com o aspirante à padre, ele conheceu outra pessoa, que a princípio era só um amigo. Depois da decepção com a primeira experiência, ele decidiu convidar esse amigo para comemorar o aniversário dele e então se conhecerem pessoalmente.
“Ele queria me ver mais vezes e mesmo sabendo que eu ainda estava mal, deu tempo ao tempo. Alguns dias depois a gente ficou e duas semanas depois começamos a namorar. A gente faz 1 ano e 4 meses agora em novembro”, conta Vinícius.
Marcelle Medeiros, 22
A estudante de publicidade não teve a mesma sorte que Vinícius. Depois do término de um longo relacionamento, ela decidiu usar o aplicativo para não se sentir tão sozinha e passar o tempo. Quatro meses depois, ela optou por encontrar pessoalmente, em um shopping, um dos homens que conheceu na rede social.
“Ele chegou lá, sem um real na carteira e sem a identidade”, lembra Marcelle.
A ideia inicial era ir ao cinema. Para não perder a viagem, ela pagou os ingressos e assistiram ao filme. Após a sessão, eles foram conversar, já que não tinham mais dinheiro para o lanche (afinal, ela havia pago as entradas). Ele então resolveu desabafar sobre seus problemas familiares, o que a deixou decepcionada, já que o que era para ser um encontro, virou uma “sessão de terapia”.
Após o trauma, Marcelle conta que ficou um bom tempo longe do aplicativo de namoro. Quando voltou a usar, conheceu um novo usuário. Já na primeira conversa, eles se deram bem e marcaram um encontro. O previsto era que eles saíssem para se conhecer. Acabaram ficando por nove horas em um bar conversando.
Depois do primeiro encontro, a estudante conta que o relacionamento entre os dois foi muito intenso e que eles se encontravam pelo menos duas vezes por semana. Um mês depois, eles viajaram juntos para uma casa de praia e tudo seguia bem. Quase três meses após o primeiro encontro, a ex-noiva do homem que saía com a estudante o procurou e por diversas razões, eles reataram o relacionamento.
Marcelle conta que entendeu a decisão, já que o então pretendente ainda tinha muitos vínculos familiares e financeiros com a ex-noiva. Nesse momento, ele e a estudante terminaram o curto e intenso relacionamento. Em seguida, ela tentou usar novamente, mas diz que nunca mais conseguiu encontrar ninguém do Tinder.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS
A Doutora em Psicologia Social pela UERJ, Maria de Lurdes Costa Domingos analisa os comportamentos contemporâneos e diz que há mudanças desde sempre entre as gerações. Os relacionamentos se desenvolvem mais rapidamente e com mais intensidade, principalmente devido à tecnologia.
Maria de Lurdes avalia que um dos danos que os relacionamentos que iniciam virtualmente pode causar é que as pessoas podem achar que estão próximas das outras, quando na verdade, estão perdendo muitos detalhes de convivência.
“Com a internet é muito comum que as pessoas tenham contato com outras pessoas ao mesmo tempo, sem se fixar muito umas às outras”, diz a professora.
A Doutora continua dizendo que os relacionamentos iniciados online podem fazer com que os usuários criem ilusões sobre as outras pessoas e fantasiem alguém que não é exatamente como pensa. Ao mesmo tempo, a psicóloga afirma que isso também pode acontecer nos relacionamentos presenciais.
Thaiane Barcelos – 6º período