Edson Luís de Lima Souto. Jovem, estudante, nordestino, pobre. Secundarista morto aos 18 anos por policiais durante um confronto contra estudantes que se preparavam para uma manifestação no Calabouço, o restaurante Central dos Estudantes, em 1968, durante a Ditadura Militar no Brasil. Outros secundaristas não permitiram que o Instituto Médico Legal levasse seu corpo para que não se tornasse mais um desaparecido pelo regime e o carregaram para Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro onde médicos tiveram que realizar a necrópsia. O episódio foi o que deu início a uma série de manifestações que resultaram na Marcha dos Cem Mil, e que fez com que os militares tornassem as coisas piores, com o Ato Institucional Número 5, em dezembro daquele mesmo ano.
Marielle Francisco da Silva. Mulher, negra, lésbica, moradora do Complexo da Maré, mãe durante a adolescência. Vereadora morta aos 38 anos por cinco tiros na cabeça após sair de atividade na Casa das Pretas, Lapa, Centro do Rio de Janeiro. Filiada ao PSol (Partido Socialismo e Liberdade), lutava por negros, pobres, LGBTs, mulheres, moradores de favelas, as ditas minorias, mas que numericamente são a maioria expressiva no estado e no país. Sua luta estava em todo movimento que fazia, em cada palavra dita, em cada gesto realizado. Quem já compareceu à alguma manifestação na cidade onde foi eleita a quinta vereadora mais votada, provavelmente encontrou Marielle. Era onde ela estava sempre, no meio da luta pelo que acreditava. Esse sempre foi seu lugar de pertencimento, fosse como prounista em uma das universidades mais caras do Rio de Janeiro, ou na sua dissertação de mestrado, que teve o tema “UPP – a redução da favela em três letras”. Uma de suas frases mais usadas, repetida inúmeras vezes após sua morte, “eu sou porque nós somos” vem de uma filosofia africana e pode ser traduzida em uma única palavra: UBUNTU.
O que conecta essas duas mortes vai além da coincidência, Marielle foi morta 14 dias antes da morte de Edson completar 50 anos. Os dois foram assassinados por lutarem pelo que acreditam e a população imediatamente se mobilizou na cobrança de respostas. E mesmo com meio século de distância, o descaso do governo perante os acontecimentos, com nenhuma providência para que casos como esses não aconteçam mais e segurar os brasileiros o direito de ter opinião e lutarem pelo que acreditam. Mesmo após mais de 90 dias a execução de uma figura pública que ocupava um cargo público na cidade do Rio de Janeiro, o governo e a polícia não dá à população nenhuma resposta sequer. Mantendo família, amigos, eleitores e admiradores no escuro, sem nenhuma perspectiva de justiça. Justiça essa que Marielle e Edson Luís exigiam através de suas militâncias e modos de vida. Primeiro, a repressão, depois, o silêncio. Em país nenhum é normal que poder público trate casos como esses com descaso. Aqui é.
Eloá Custódio
Artigo desenvolvido para a disciplina de Oficina Multimídia
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