Os primeiros dias da XV edição do EncontrArte, o Encontro de Teatro da Baixada Fluminense, foi movimentado e com presença massiva do público. De quinta-feira a segunda foram apresentadas diversas exposições e peças teatrais de estilos e classificações diversificadas, e todas com salas lotadas.
Na quinta, pouco antes das sete da noite, o público já se reunia no foyer do teatro do Sesc Nova Iguaçu. A equipe da organização do festival auxiliava a todos enquanto distribuíam os ingressos – a entrada em todas as peças do EncontrArte é gratuita. Às 19h as portas da sala foram abertas.
O espetáculo apresentado na noite de quinta foi “Luiz e Nazinha – Luiz Gonzaga para Crianças”, uma fábula musical cômica que retrata a infância de Luiz Gonzaga no interior do nordeste brasileiro e a proibição de seu namoro com a vizinha Nazinha, tudo isso costurado pelos maiores sucessos do Rei do Baião.

Após o término da peça, o elenco agradeceu a presença de todos e se disse surpreso por um espetáculo para crianças estar lotado na noite de uma quinta-feira fria e chuvosa. O quarteto também pediu para o público divulgar a montagem para os amigos, “nos grupos de mães no WhatsApp”, e aproveitou para anunciar seu próximo trabalho, “O Menino das Marchinhas – A Obra de Braguinha Para Crianças”, que deve estrear ainda este ano.
Na noite de sexta-feira, também às sete da noite, era a vez dos meninos da peça “A Farsa do Amor Acabado”, produzida pela Companhia de Arte Popular de Duque de Caxias, subirem ao palco com esta comédia que utiliza elementos da cultura popular de maneira lúdica – um “misto de realidade fictícia ou ficção realista”, como o próprio elenco define – para vasculhar os sentimentos e comportamentos humanos.
No dia 24, uma noite de sábado fria e chuvosa na Baixada Fluminense, foi apresentada a peça que mais intrigou o público que se dirigiu até o complexo cultural. O espetáculo “Ser ou… Não Sei!”, produzido pela COMBI (Companhia Brasileira de Interpretação) utiliza-se da alegoria “O Mito da Caverna”, de Platão, para fazer uma reflexão sobre o processo de crescimento e amadurecimento do ser humano através do olhar de duas “crianças”.

Apesar do tema um pouco complexo, o segundo dos três atos da peça é muito engraçado e levou o público às gargalhadas com piadas ambíguas – aquele tipo de humor que, na peça, é contado por “crianças”, mas deve ser entendido apenas pelos adultos. Ao final, o público entende claramente a mensagem do texto, o qual mostra que o ser humano – principalmente os em idade adulta – passam a maior parte da vida buscando algo que nem eles próprios sabem o que é, e anseiam em chegar à “melhor fase da vida”, na qual não é preciso fazer nada, sem perceber que este momento é a morte.
Após o fim da apresentação, o elenco, composto pela dupla Almir Rodrigues e Malu Saldanha, agradeceu ao diretor do espetáculo, Júlio Venâncio, e conto, emocionado, que a montagem, da autoria de Saldanha, surgiu a partir de exercícios teatrais. “Eu vou tentar não chorar… Mas, enfim, já estou chorando… Eu queria agradecer ao festival, à equipe técnica. Esse espetáculo surgiu aqui nesse palco, e o Sesc sempre nos apoiou”, declarou Saldanha, entre lágrimas.
Já na última segunda, dia 26, o Shopping Nova Iguaçu recebeu os artistas da mostra “E Aí?!”, um evento anual que faz parte da programação do festival. Por volta das seis e meia da tarde vários interessados e curiosos já se aglomeravam em frente ao palco montado em frente à praça de alimentação.
Às 19h, a hostess da noite, a drag queen Vanessa du Matu subiu ao palco para anunciar a atração inicial: o primeiro grupo de afoxé da Baixada, o Afoxé Maxambomba, cujo último nome faz referência ao principal rio da “capital da Baixada” utilizado para transporte de carga durante do período colonial. A equipe fez uma apresentação performática que incluiu tambores, cantos em línguas africanas e danças tradicionais da cultura afro-brasileira. A presidente da instituição, Arlene de Catendê, estava presente assistindo a mostra é explicou um pouco da história do grupo, a começar pelo termo “Afoxé”.
“Significa ‘Candomblé de Rua’”, conta a presidente. “Há algum tempo, os iniciados do Candomblé não podiam participar do Carnaval por esta ser considerada uma festa profana, o que poderia ser visto como um desrespeito aos orixás, então, foi criado o Afoxé”. Arlene também revela que, no começo, somente os iniciados do Candomblé podiam participar, mas hoje em dia o grupo é aberto a todas as pessoas que queiram participar, uma vez que o Maxambomba realiza ações junto a uma das maiores comunidades iguaçuanas, a comunidade do Carmari, e realiza oficialmente a abertura do carnaval de Nova Iguaçu.

Em seguida, foi a vez dos sambistas do “Samba da Siriguela”, um grupo que não possui uma vertente estritamente comercial, porque, além de cantar canções antigas como as do mestre Cartola, valoriza a produção musical da Baixada – e os integrantes do=a equipe aproveitaram para desfazer algumas, segundo eles, “injustiças”, como, por exemplo a famosa música “Resto de Esperança”, creditada apenas ao sambista Jorge Aragão, mas que foi composta em parceria com Dedé da Portela, morador do Pombal, conhecido conjunto habitacional popular localizado no centro de Nova Iguaçu.
Ao longo da noite, vários artistas da Baixada passaram pelo palco, entre eles o humorista Miguel Marques, morador de Mesquita, que é mais conhecido pelos ouvintes da Patrulha da Cidade, da Super Rádio Tupi; o artista circense Kaynã Rahwani, de Belford Roxo; Anízio Dura, o “Saxofonista de Magé”; o músico Beto Gaspari, que se apresentou apenas com voz e violão e encerrou sua apresentação com o clássico “Como Nossos Pais”, de Elis Regina; a dupla Fernanda Moraes e Beto Rocha, que já participam do Encontraste há dez anos.
Ainda houve as apresentações de dança da Escola de Dança de Nova Iguaçu e da Academia de Dança Simone Rocha, que apresentaram coreografias de ballet clássico, dança do ventre e para as músicas “Rap da Felicidade” – a versão utilizada por Alcione na Cerimônia de Abertura das Olimpíadas Rio 2016 – e “Brasil”, de Cazuza, na voz de Gal Costa. Porém, os dois pontos mais altos da noite ainda estavam por vir.
Primeiro foi a vez do Coral do Country Club de Nova Iguaçu, que subiu ao palco regidos pela maestrina Glaucia Macedo, em companhia do musicista Zeca Rodrigues, para mostrar seus arranjos inéditos para clássicos da música brasileira, como “Se Acaso Você Chegasse”, de Lupicínio Rodrigues, e “Trenzinho Caipira”, de Villa-Lobos, além de apresentar a composição “Gato na Tuba” à capella. Ao fim da apresentação, a plateia pediu bis, e, com isso, o coro encerrou com “Cidade Lagoa”, uma resposta irônica e bem humorada ao hino “Cidade Maravilhosa”.
O grupo aproveitou para anunciar o VI Encontro de Coros do Country Club de Nova Iguaçu, que contará com o coral da PUC-Rio e da Petrobras, no dia 16 de outubro, às 17h, com entrada gratuita. Em seguida, as integrantes do coletivo As Fulanas de Tal subiram ao palco para declamar suas poesias de empoderamento feminino e para divulgar o grupo, que se reúne na Casa de Cultura de Nova Iguais, sempre na terceira terça-feira do mês, e tem como um de seus objetivos a valorização do trabalhos artísticos feitos por mulheres, principalmente das mulheres da Baixada Fluminense.
Encerrando a noite, o trio de rap Comboio, que já foi premiado em Miami, apresentou suas músicas mais recentes – aliás os rappers inverteram o papel que desempenharam no EncontrArte do ano passado, quando fizeram a abertura da Mostra. Ao fim do evento, a apresentadora Vanessa du Matu convidou o público para acompanhar a programação da última semana do Encontro de Teatro da Baixada Fluminense 2016.
Daniel Deroza– 4º Período
Pingback: Entre a comédia e a tragédia |