Os semáforos do Rio são hoje escolas profissionalizantes de jovens carentes. A cada sinal, em uma rua movimentada, crianças e adolescentes abordam motoristas das mais variadas maneiras em troca de algumas moedas.
São crianças que começam limpando pára-brisa, se tornam vendedores de balas e se aperfeiçoam em técnicas como malabares para conquistar, em poucos segundos de sinal fechado, o público dos carros. É uma verdadeira escola, onde os aprendizes começam praticando o mais simples e buscam, com criatividade, inovar para continuarem chamando a atenção dos motoristas e conseguir, de trocado em trocado, o sustento de casa.
Elas começam a trabalhar nas ruas cedo, em torno dos oito anos de idade, como aconteceu com Waldeir. Hoje, com 18 anos, ele ainda vende balas e pratica malabarismo para ajudar no sustento da família e afirma tirar em média cinqüenta reais por dia.
A prefeitura do Rio de Janeiro possui alguns projetos de âmbito social para reintegrar jovens nas escolas e retirá-los das ruas colocando-os, temporariamente, em oficinas de talentos como de teatro e de circo – mesma oficina onde Waldeir aprendeu técnicas de malabarismo aplicadas hoje nos sinais de trânsito.
No entanto, a maioria dessas ações é voltada para jovens entre 15 e 17 anos e nem sempre oferece bolsa auxílio. “Uma agente da prefeitura foi até minha casa para eu entrar no Projovem, mas recusei porque para ganhar a bolsa de R$100 tem que comprovar freqüência na escola. Esse valor eu quase consigo em um dia de trabalho e nem sempre dá pra ir à escola”, confessou Emerson, 18 anos, vendedor de balas desde os sete.
Para muitos motoristas, essas crianças representam perigo. Mas, diferentemente do que a população pensa, esses meninos estudam, possuem famílias e casas e não são agressivos. Basta uma simples conversa com alguns deles para perceber que são jovens como tantos outros mais favorecidos economicamente e só se diferenciam deles porque foram obrigados a trocarem as brincadeiras de criança por trabalho de adulto.
Isso aconteceu recentemente com João*, um menino de 13 anos que está na 5ª série da rede pública. Para ajudar a mãe que é diarista, há dois meses consecutivos ele vai todos os dias após a escola vender bananada no centro de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.
Procurada para esclarecer sobre o porquê de muitos projetos não atenderem crianças como João* , da bolsa auxílio ser tão baixa a ponto de não atrair os jovens adolescentes e sobre o projeto Talentos da Vez ser, praticamente, mais uma escola formadora de “palhaços” de malabares para as ruas do Rio, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) preferiu não se manifestar até o fechamento desta matéria.
Para o publicitário José Carlos Gomes, dar ou não dar dinheiro é algo complicado. “Sem dúvida que o estímulo para continuarem nos sinais é a recompensa. Se colaboro com a exibição artística ou com a bala que vendem estou sim ajudando a mantê-los nos sinais. Em contrapartida, se não faço isso qual instituição fará para ajudá-los? As contas não esperam pelo pagamento e a política da Prefeitura é irrisória. Não é que eles não tenham outra opção na vida a não ser essa. O maior problema é que as empresas de hoje exigem tanta qualificação em troca de um salário tão baixo que os sinais têm sido, financeiramente, bem mais vantajosos”.
Sincer Ramalho • 5º período • Jornalismo Digital
Muito legal a matéria Sincer. Acho que vou apreder malabarismos pra ganahar um extra.
bjo e até mais