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“Ritas”: uma despedida afetuosa guiada por Rita Lee

Ícone do rock brasileiro, Rita Lee ganha um tributo delicado e íntimo no documentário "Ritas"

Como se despedir de alguém tão presente? “Ritas”, documentário dirigido por Oswaldo Santana e co-dirigido por Karen Harley, não tenta explicar Rita Lee, mas permite que ela mesma se revele. Sem entrevistas ou depoimentos de terceiros, o filme se constrói a partir de imagens registradas pela própria artista nos últimos anos de vida. 

A data de estreia nos cinemas, 22 de maio, também carrega um significado especial. Tradicionalmente celebrada no calendário católico como o dia de Santa Rita de Cássia, conhecida por ser a padroeira das causas impossíveis, a data ganhou um novo sentido nos últimos anos. Isso porque a própria Rita Lee disse certa vez que preferia trocar sua data de nascimento para este dia. O desejo acabou sendo acolhido, desde 2024, o 22 de maio foi oficializado pela Câmara Municipal de São Paulo como o Dia de Rita Lee. 

Para os fãs, o filme é um presente. São mais de 30 faixas que atravessam diferentes momentos da carreira da cantora, desde os tempos iniciais com Os Mutantes até os sucessos em carreira solo. No material de arquivo, há apresentações e encontros com nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elis Regina e Gal Costa. As canções surgem como um desdobramento natural das lembranças, como se a própria Rita fosse conduzindo a trilha sonora de sua memória.

O documentário evita a linearidade; prefere flutuar entre épocas, sentimentos e reflexões. Visualmente, “Ritas” recorre a uma estética psicodélica que dialoga com a persona pública de Rita Lee. Cores vibrantes, colagens e efeitos gráficos remetem ao universo dos Mutantes e à fase mais experimental da artista. 

O documentário chama a atenção pela montagem psicodélica. (Foto: Reprodução/Biônica Filmes)

Ainda assim, o longa opta por não mergulhar profundamente em alguns pontos centrais da vida da artista. O conflito e a separação com Os Mutantes são abordados de maneira rápida. A prisão de Rita Lee durante a ditadura aparece em uma breve sequência, em que ela comenta, com seu humor característico, as músicas censuradas à época e apresenta pequenos relatos sobre o período. O mesmo ocorre com o relacionamento com Roberto de Carvalho, seu parceiro de vida e de música. O tema é tratado com afeto, mas também sem muito aprofundamento.

Essas escolhas reforçam a proposta do filme, não se trata de um inventário completo da trajetória de Rita Lee, mas de um retrato afetivo, íntimo, guiado por ela mesma. As imagens caseiras, registradas pela própria artista, revelam momentos íntimos que ela mesma escolheu dividir com o público. Entre comentários sobre a vida e a morte, a nostalgia da carreira em álbuns de fotos folheados, conversas com a neta e gestos de carinho com seus gatos, o documentário constroi uma narrativa delicada que aproxima Rita Lee do telespectador com carinho e saudade.

“Ritas” emociona justamente por essa proximidade. Quem já amava Rita reencontra nela a velha amiga de sempre. Quem pouco conhecia sai querendo saber mais, ouvir mais e entender mais. E talvez esse seja o maior mérito do filme: tornar possível um reencontro com Rita Lee, mesmo sabendo que ela não está mais aqui.

Confira o trailer de “Ritas”:

FICHA TÉCNICA
Título: Ritas (Original)
Ano/produção: 2025
Direção: Oswaldo Santana
Codireção: Karen Harley
Roteiro: Oswaldo Santana, Karen Harley, Fernando Fraiha
Produção: Bianca Villar, Fernando Fraiha, Karen Castanho
Gênero: Documentário

Foto de capa: Divulgação/Biônica Filmes

Crítica de Mariana Motta, com edição de texto de João Agner

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