Comunicação Entrevistas

Vitória Régia da Silva fala sobre importância dos dados na cobertura especializada em gênero e raça no Brasil

Presidente da Gênero e Número destacou também a inclusão de mulheres negras e de pessoas LGBTQIA+ em cargos de liderança

A jornalista e presidente da Gênero e Número, Vitória Régia da Silva, destacou a importância do uso de dados na cobertura especializada em gênero e raça no Brasil, ressaltando que a análise de informações concretas permite uma visão mais profunda e precisa das desigualdades sociais. Segundo ela, o uso de critérios de dados não apenas embasa a narrativa jornalística, mas também ajuda a combater estereótipos e invisibilidades, tornando-se essencial para pautas mais justas e fundamentadas na realidade brasileira.

Além disso, as plataformas de jornalismo independente têm um papel fundamental na cobertura e apuração dos dados, pois têm maior facilidade em acessar públicos que, muitas vezes, os grandes veículos de comunicação não conseguem, como a periferia, por exemplo. Existem diversos sites independentes espalhados pelo Brasil que fazem um trabalho focado em sua necessidade geográfica, como Fogo Cruzado, O Joio e O Trigo e a própria Gênero e Número.

Para Vitória, é de suma importância debatermos pautas de gênero em cargos de liderança. (Foto: Reprodução/Linkedin)

A Gênero e Número é uma associação de mídia independente que produz, analisa e dissemina dados especializados em gênero, raça e sexualidade para apoiar a garantia dos direitos de mulheres, populações negra, indígena e LGBTQIA+. Visando qualificar debates rumo à equidade a partir de linguagem gráfica, conteúdo audiovisual, pesquisas, relatórios e reportagens multimídia.

Agência UVA: Qual foi a motivação para criar a Gênero e Número e como você enxerga o impacto da organização no debate sobre gênero e direitos no Brasil?

Vitória Régia: A Gênero e Número foi criada em 2016 por três jornalistas mulheres para unir jornalismo de dados com a cobertura de gênero e raça, aproveitando o crescimento do jornalismo independente no Brasil. Desde então, a organização tem contribuído significativamente para o debate público sobre gênero, influenciando a mídia tradicional a cobrir esses temas com mais responsabilidade e a criar editorias específicas. Além disso, a Gênero e Número atua em pesquisas e projetos que abordam dados sobre temas como violência eleitoral, ajudando a suprir lacunas de dados e fortalecendo o protagonismo de grupos sub-representados na mídia brasileira.

AUVA: De que maneira os dados podem ser usados para transformar realidades sociais e politicas no Brasil especialmente no que diz respeito à igualdade de gênero e raça?

VR: Os dados são muito importantes quando falamos sobre as discussões de raça e gênero no Brasil. Quando trabalhamos com dados, a primeira coisa que sempre dizemos é que precisamos ter a perspectiva de que os dados são construções humanas, portanto, precisamos ter uma metodologia e um trabalho sério, pois os dados podem estar enviesados, e já vimos isso acontecer. É importante termos responsabilidade; tudo dependerá do recorte que você está fazendo ao trabalhar com esses dados. Por isso, falar de ética dentro desse contexto de dados e tecnologia é fundamental, pois, sem dados, não temos políticas públicas eficazes.

No Brasil, temos um problema sério; apesar de, quando comparamos com alguns países em algumas esferas, termos uma transparência melhor, temos também problemas sérios de disponibilidade e qualidade. Um dado que não possui marcadores de gênero, raça, sexualidade e idade da população beneficiada, por exemplo, não é um dado de qualidade, pois acaba não servindo para nada nem para ninguém.

AUVA: Quais são os principais desafios que a Gênero e Número enfrenta na coleta de dados?

VR: Especificamente na parte da coleta e disponibilização dos dados. Muitas vezes queremos entender se as mulheres negras estão sendo beneficiadas por uma política pública específica, e aí a gente precisa ter isso na base de dados e muitas vezes a gente não encontra e, mesmo a gente tendo a Lei de Acesso à Informação (LAI) no Brasil, que é uma lei super importante que a gente usa muito na GN, mas que ainda tem muito a melhorar.

“O fato da gente não ter um dado, também é um dado”, diz Vitória.

AUVA: Quais são suas percepções sobre o cenário atual da liderança feminina no Brasil, especificamente em posições de poder? O que você acha que pode ser feito para aumentar essa representação?

VR: Recentemente, tivemos um videocast em parceria com o YouTube chamado Substantivo Feminino, em que, nessa última temporada, falamos sobre mulheres em posição de poder e seus desafios. Falamos também sobre mulheres na política, mulheres em cargos de liderança dentro de organizações como a Gênero e Número, em grandes corporações. Acho que temos um caminho muito longo pela frente porque, apesar de as mulheres serem a maior parte da população, em alguns níveis são até mais escolarizadas do que os homens. Isso não se reflete no fato de estarem em posições de liderança. Quando a gente olha para o próprio jornalismo, ele é composto majoritariamente por mulheres, mas, quando vemos as lideranças, geralmente não são mulheres, e dificilmente são mulheres negras, e menos ainda são mulheres trans. Quando a gente fala de liderança e diversidade, temos um caminho enorme pela frente.

Foto de capa: Reprodução/Instagram (@festivalwowrio)

Reportagem de Rodrigo Inácio, com edição de texto de João Agner

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