por Yasmin Bertazini Braga
Durante o auge da Pandemia da Covid-19, as pessoas começaram a buscar formas de combater a solidão. A saída encontrada por muitas delas foi procurar a companhia de um pet. A realidade, entretanto, vem mostrando que à medida que cresceu o número de adoções e compra de animais, principalmente cães e gatos, também aumentou o abandono. Os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) dão conta de que existem cerca de 30 milhões de animais abandonados no Brasil.
As justificativas para o abandono são as mais variadas. No fim de 2021, as medidas de isolamento foram flexibilizadas, a população voltou para suas rotinas ativas, para o trabalho e para as aulas presenciais e viagens, e os animais começaram a ser deixados de lado. As pessoas adotaram por impulso e desistiram de cuidar depois da quarentena.
As principais causas do abandono e a devolução a abrigos são também financeiras, envolvem problemas comportamentais dos animais, falta de espaço e até estilo de vida dos donos, o que pode causar sensações de sofrimento, fome, frio e solidão ao adotado.
“Animal não é coisa. Às vezes, as pessoas os encaram como um objeto, um brinquedo que vai dar para o seu filho. É falta de responsabilidade”, enfatiza Marcelo Pamplona, 53 anos, Vice-Presidente e voluntário na instituição Dog’s Heaven.

(Foto: Acervo pessoal)
Os números confirmam o que Marcelo aponta. Um estudo realizado pela Amparo Animais, entidade que apoia abrigos e protetores em todo País, estima que houve um aumento de 61% no abandono de animais no Brasil. As ONGs, por conta disso, sofrem com superlotação e dívidas. Muitos animais são resgatados com traumas, maus-tratos, desnutridos e doentes e precisam de tratamentos veterinários de alto custo.
A Instituição Dog’s Heaven, localizada em Petrópolis, hoje abriga ao total 330 cães. Guilherme Agnew, 73 anos, formado em Arquitetura, após se aposentar, começou a construir sua casa e abrigar cães de rua doentes e que sofriam maus-tratos, mas ao chegar no total de 45 animais resgatados, decidiu criar o projeto, e, em 2012, foi aberta a Entidade filantrópica Dog’s Heaven — Paraíso dos Cães.

(Foto: Acervo pessoal)
Todo o dinheiro do ‘Seu’ Guilherme, como conhecido na região, é investido em sua paixão: cuidar e tratar dos cães para que, no futuro, eles sejam adotados por famílias dispostas a fazer o mesmo. Além de os pets chegarem doentes e desnutridos, muitos carregam traumas que os deixam agressivos, o que, consequentemente, faz com que a adoção seja mais difícil.
Cães e gatos fêmeas são abandonados enquanto gestantes, doentes e com sequelas de uma vida difícil. A Coordenadoria de Bem-estar Animal (COBEMA) trabalha em conjunto com as instituições para investigar as denúncias de maus-tratos, oferecer lares provisórios e auxiliar no processo de adoção.
Outra tentativa para evitar que isso aconteça foi o Decreto 24.645, que definiu maus-tratos como um crime. A Lei Federal de Crimes Ambientais nº 9.605/98 – artigo 32, § 1º, inclui abandono em maus-tratos, declarando como crime, mas como a fiscalização não é tão eficiente, muitos são largados em estradas, matagais e rios, ou acabam sendo atropelados enquanto buscam por seus donos. “Prefiro que devolvam do que pegar um deles atropelado na rua”, diz Guilherme sobre o retorno dos animais ao abrigo meses após a adoção.
Abandonar nunca deve ser uma opção. A psicóloga e voluntária Priscila Amaral, de 30 anos, afirma: “Adotar é um ato de amor, então a atitude correta a se fazer é procurar abrigos de animais ou falar com conhecidos para saber se eles não têm condições de cuidar do seu pet, mas nunca desemparar aquele que te ofereceu amor”.

(Foto: Acervo pessoal)
Para acolher animais que foram abandonados é preciso amor e dedicação. É o caso da Sueli Cardote Zuniga, 71 anos. Ela abriga hoje em sua casa o total de 25 cães e seis gatos, mas já viveram com ela 46 animais, todos sustentados financeiramente por ela. Com o aumento dos resgatados, foi necessário construir canis em seu quintal. Sueli declara: “Quando você adota um animal, ele passa a fazer parte da sua família, é um membro, não pode e nem deve ser abandonado e sim receber muito amor e carinho. Eles são bebês”.
Para alguns, a companhia de seus amados companheiros os salvou do que poderiam ser os piores meses de suas vidas. Ao longo da quarentena, muitas pessoas se sentiram sozinhas, e desenvolveram problemas psicológicos como depressão, ansiedade e a solidão, que foi inevitável. Estar longe de amigos e família foi difícil para alguns. A solução? Adotar, principalmente cachorros e gatos. Os pets trouxeram o conforto e o carinho que, naquele momento, não era possível receber.

(Foto: Pixabay)
Adotar traz benefícios para a saúde do pet e de seu guardião. Estudos recentes analisaram o impacto positivo para saúde física e mental, pois animais ajudam a aliviar os sintomas de estresse, tristeza, ansiedade e até ataques de pânico. Foi o caso da universitária Carolina Urban, de 21 anos. Sua cachorra, chamada Kate, fez o auge do isolamento social ser suportável. A vida de Carolina era agitada antes da Covid-19, e durante as medidas preventivas, ela se sentiu sozinha e sufocada, mas ter sua amiga ali fez tudo um pouco mais fácil.
“Ter alguém para te fazer companhia faz toda a diferença, foi muito importante para mim, principalmente nos primeiros meses em que estávamos quase 100% isolados dentro de casa”, comenta Carolina.

(Foto: Acervo pessoal)
Para que histórias de amor como a de Carolina aconteçam, é preciso que as leis sejam rigorosas e a fiscalização intermitente. É necessário, também, que haja feiras de adoção maiores e que a conscientização seja feita desde o primeiro contato entre guardião e animal. As medidas são úteis para que o número de animais abandonados diminua, até que um dia seja inexistente, e que o amor e o respeito que eles tentam dar sejam finalmente retribuídos.
Reportagem realizada por Yasmin Bertazini Braga para a disciplina Apuração, Pesquisa e Checagem, ministrada pela professora Maristela Fittipaldi
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