Da sala de aula

Educação nas comunidades no período de pandemia

Alunos e professores vivem dilema sobre o retorno das aulas em algumas escolas

Com o início da pandemia, em março de 2020, todos foram afetados, principalmente as escolas, atingindo diretamente os alunos. O Ensino à distância (EAD) se tornou parte da vida de estudantes e professores diariamente, mesmo muitos deles tendo dificuldade de acesso e aprendizado, especialmente nas comunidades, que passaram a enfrentar mais um obstáculo. Agora, com a volta às aulas presenciais em algumas escolas – públicas e particulares – a comunidade escolar enfrenta novos desafios.

Os dilemas não são poucos. Se o retorno às aulas presenciais suscita o medo da contaminação, a forma de ensino EAD faz com que os alunos se sintam mais afastados, por diversos motivos. Segundo o CENPEC Educação, entre as principais dificuldades das atividades não presenciais, estão o acesso à Internet (23%), a dificuldade com conteúdo (20%) e a falta de interesse no conteúdo (15%).

Estudante da escola estadual, CIEP 1117 Carlos Drummond, próximo ao Morro do Agudo, em Nova Iguaçu, Gabriel Lomenha, de 17 anos, está no 3º ano do Ensino Médio e diz preferir estudar presencialmente, pois não tem a mesma facilidade com o EAD, mas ainda não se sente seguro em retornar. Ele conta como a escola tem ajudado os alunos. “A Secretaria de Estado de Educação criou um app que não consome os dados que você já tem, que oferece apostilas de todas as séries e podcasts de professores falando sobre as matérias. Para os alunos sem dispositivos para acessar internet, a escola disponibilizou apostilas impressas”.

A nova rotina do estudante Gabriel Lomenha durante a pandemia
Foto: Acervo Pessoal (por Gabrielle Lomenha)

A professora da Escola Municipal Francisco Campos, Marluce Neves, de 48 anos, que dá aula para o 3º ano do Ensino Fundamental, diz não concordar com o retorno das aulas e explica suas maiores dificuldades com a forma de ensino remoto. “Minha geração, de modo geral, teve pouco acesso às ferramentas digitais no seu desenvolvimento. Temos receio de usar, estragar, e realmente não somos alfabetizados digitalmente. Minha maior dificuldade foi arriscar essas ferramentas, usar pelo celular, que é muito limitante nas possibilidades”.

Marluce conta um pouco sobre o apoio que tem recebido da escola em que trabalha: “Nosso coordenador tem ensinado a professores, pais, alunos, e avós a usarem, pessoalmente e por meio de tutoriais. Além deste apoio, nós, professores, também ajudamos a acessar o app Rioeduca em casa, e por meio de grupos de Whatsapp”. Ela diz que a maior dificuldade dos mais novos com o EAD é não ter alguém que leia as tarefas, pois muitos são analfabetos.

A professora relata que a escola chegou a retornar com as aulas presenciais, mas diz que todos tiveram que voltar para casa, pois uma aluna pegou COVID-19. Lembra ainda que a caseira de uma escola próxima à que ela trabalha contraiu COVID-19 e morreu, e mesmo assim as aulas presenciais foram mantidas. Marluce se vacinou recentemente, mas muitos de seus colegas ainda aguardam sua vez.

O Sindicato dos Professores diz que mais de cem escolas tiveram que fechar ano passado por novos casos de contaminações entre os funcionários quando retornaram com suas atividades presencias no Rio de Janeiro. Ser professor já é uma tarefa que exige muito, mas ser professor durante uma pandemia e ter que retornar à escola exige mais ainda, ainda mais sendo próxima a comunidades.

Os voluntários de projetos sociais entram nesse circuito com o intuito de ajudar essas crianças e dar um suporte que elas não têm recebido. O Coordenador do coletivo “A Rocinha Resiste”, Everton dos Reis, 30 anos, destaca que a organização recebeu doações de tablets para as crianças na comunidade, para que tivessem acesso às aulas.

Já Matheus Fernando, 21 anos, do projeto “Frente Cavalcanti”, conta como tem sido a distribuição das doações que recebem. “Como estávamos havia um tempo fazendo outros tipos de campanha, conseguimos fazer muitos pedidos pela internet de doação e sempre somos atendidos. Mas toda ação requer um gasto alto ou acima dos valores doados, que, em sua maioria, são feitos em dinheiro. Essa distribuição foi idealizada de diversas formas por meus colegas pedagogos, que pensaram uma estrutura de volta às aulas com mais segurança durante a pandemia do Covid-19”.

Eles criaram uma campanha chamada “Comunidade Viva” para essas doações e atividades nas escolas. Nessa ação, eles forneceram kits para todas as turmas do 1º ao 5º ano, foram feitas palestras falando sobre o distanciamento social dentro da sala de aula, reforçando as orientações já fornecidas pelos professores.

“Sinto a educação sendo deixada de lado mais uma vez, nada está sendo pensado para essas crianças. Vão ter que voltar depois de um longo período de pausa. Vamos ter outro déficit em Alfabetização com essa parada obrigatória e sem organização para o retorno dessas crianças”, lamenta Matheus. Ele conta ainda que o projeto tem a ideia de montar uma biblioteca pública para atrair mais crianças e incentivar a leitura, visto que eles não têm visto nenhuma outra movimentação para motivar os alunos.

Mas as dificuldades são muitas e passam também pela falta de segurança pública. Em março desse ano, um vídeo foi publicado nas redes sociais com crianças da rede pública no meio de um corredor enquanto tiros eram disparados do lado de fora. A professora inclusive orienta os alunos a ficarem agachados e em distância, por causa do Coronavírus. A verdade é que os perigos a que esses alunos e professores estão expostos não é apenas da pandemia, e sim também da violência que os cerca.

Fonte: Conselho Nacional da Juventude

Karina Dias, 22 anos, professora da escola Monte Sinai, próxima à comunidade do Engenho da Rainha, diz que as aulas presenciais voltaram e que ela tenta ao máximo fazer atividades diferentes e com segurança para as crianças. Já o aluno Victor Hugo, 15 anos, está no 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Nelson Amado, próxima ao Morro do Engenho da Rainha, assim como Gabriel, prefere as aulas presencias. Na escola em que estuda, as aulas já retornaram, porém, ele destaca que ainda é desorganizado e que falta higienização. “A escola não forneceu nada para os alunos durante a pandemia e a maior dificuldade era a internet, que caia durante as aulas”.

Grande parte das escolas particulares voltou com as aulas presenciais. Algumas escolas públicas retornaram, porém outras estão esperando o estado entrar na bandeira verde para retomar as atividades. No Rio de Janeiro, cerca de 150 escolas particulares fecharam em função da pandemia. Quase oito em cada dez redes de ensino informaram que já esperam o abandono e a evasão escolar por parte dos alunos com o retorno das aulas presenciais. Com isso, os projetos sociais têm esse papel importante de tentar motivar esses alunos, já que por parte do governo não se vê muita movimentação.

A luta contra a pandemia já é um fardo pesado para todos, e quando junta com a violência no estado, complica mais ainda. O sentimento de esperança é algo que o brasileiro tenta manter para ter em que se apegar e seguir em frente. Porém, com a pandemia, cerca de 53,4% dos educadores informaram que houve um aumento de ansiedade/depressão de seus alunos, afetando diretamente a forma de ensino. A saúde mental dos professores e alunos precisa estar em dia para que tudo possa fluir normalmente.

Marcella Nascimento Alves – 3º período

Agência UVA é a agência experimental integrada de notícias do Curso de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida. Sua redação funciona na Rua Ibituruna 108, bloco B, sala 401, no campus Tijuca da UVA. Sua missão é contribuir para a formação de jornalistas com postura crítica, senso ético e consciente de sua responsabilidade social na defesa da liberdade de expressão.

1 comentário em “Educação nas comunidades no período de pandemia

  1. Maristela Fittipaldi

    Parabéns, Marcella! Bjs!

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