A situação de isolamento social é estressante e causa nervosismo para todos, especialmente para pessoas que têm alguma limitação. São sentimentos compartilhados por todos os brasileiros. Para pessoas com necessidades especiais, porém, essa mudança acaba representando uma perda de referências. Para pais e filhos, o desafio diário é se adaptar ao “novo normal”.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que haja quase 46 milhões de pessoas com deficiência mental ou algum grau de dificuldade em enxergar, ouvir, caminhar, e carregam consigo uma realidade diferente. E, durante o período de isolamento, novas preocupações surgem a cada dia para os pais dessas pessoas, que vão da saúde ao desenvolvimento de seus filhos.
A psicóloga e psicoterapeuta Cristiane Soares, graduada na Faculdade Maria Thereza, explica: “Um dos principais impactos diante do novo Coronavírus é a falta de interação social, que é importante para o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e infantil daquela criança ou adulto”.
Com este cenário, alguns pais assumiram os papéis de professores, donos de casa e ainda assim continuam exercendo suas profissões. Uma rotina que exige readaptações dentro de casa e faz com que antigos afazeres virem literalmente de cabeça para baixo. Antes da pandemia, estas crianças tinham escola, terapia, e os tratamentos necessários para que tivessem melhor desempenho.
Para Patrícia Figueiredo, mãe da Jéssica, de 27 anos, que tem Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), tem sido difícil e, ao mesmo tempo, um momento de novas descobertas e oportunidades. “Jéssica ficou mais falante e o tempo todo questionando se o ‘bichinho’ já tinha ido embora, pois queria voltar para a escola. Mas também descobriu seu gosto por fazer pulseirinhas e cordões de bijuteria, e, desde então, tem feito isso todos os dias. É como uma terapia para ela”.

Foto: Acervo Pessoal
Patrícia também conta um pouco sobre a relação de ambas: “Foi como um ‘teste de paciência’ para mim e para ela, de uma espera sem fim. Nossa relação sempre foi diária, 24h por dia, uma vez que ela vai de casa para o meu trabalho, e do meu trabalho para casa todos os dias. Buscamos fazer artesanato juntas, desenhar e nos distrairmos como podemos dentro de casa”.
Nesse momento, é necessário dar atenção aos pontos positivos, explorando qualidades, investindo em novos gostos e assim gerando novos entretenimentos. Ou seja, o ideal seria propor soluções para que o desenvolvimento desses adultos ou crianças possa ser feito de uma forma mais saudável.
Clara Tavares, Assistente Social da APAE, diz: “É fundamental estabelecer uma comunicação assertiva e não violenta, pois educar vai além de estabelecer ordens e exigir obediência. É importante separar um momento para se desligar das tecnologias e informações que estão sendo bombardeadas o tempo todo. Estabelecer um diálogo, fazer brincadeiras e ter uma troca de experiência com seus filhos são de extrema importância para um melhor convívio, e assim um aprende com o outro”.
Não importa quanto os pais deem de si ao cuidar de seus filhos com deficiência mental, pois muitas vezes acham que deveriam estar fazendo mais. Juliana Santos, mãe de Valentina, com Síndrome de Down, se culpa por qualquer pequeno erro ao cuidar dela. Ela também se sente culpada por não conseguir dar atenção ao seu outro filho. “Gosto de conversar sobre a Valentina, me sinto chegada aos que estão dispostos a compartilhar os sorrisos e as lágrimas da minha vida com ela. Não é fácil, nunca foi. Mas me sinto sortuda e grata por aprender às vezes mais com ela do que com qualquer outra pessoa”.
Portanto, nesse momento, os pais, ao mesmo tempo em que são fortemente abalados com a atual situação, com muitas emoções e sentimentos pessoais, enfrentam com seus filhos todos os dias uma batalha para cuidar e harmonizar tudo dentro de casa, além de grandes descobertas que fazem com que o convívio e o momento estejam sempre em equilíbrio.
Vitória de Figueiredo – 3º período
Parabéns, Vitória. Bjs!