De repente, algo acontece e, numa fração de segundos, tudo muda. Inesperadamente, o coração dispara, as mãos suam frio, as pernas ficam trêmulas e a respiração se torna ofegante: sensações de quem aparentemente acabou de correr uma maratona, só que não. Na realidade, são sintomas relativos às doenças que desestabilizam o lado emocional, afetando, subsequentemente, o corpo: os chamados transtornos mentais. Impulsionados por conta do período pandêmico vivido atualmente, os problemas que antes já afligiam a vida de diversos grupos de pessoas agora se fazem presentes na rotina de grande parte da população, tendo nos jovens as suas principais vítimas.

Fonte: Clarice Medeiros
Estudos apontam que à medida que a pandemia se estende, também há um crescimento considerável no número de casos de transtornos mentais no país. Entre tantos tipos, a ansiedade e a depressão são os mais comuns em relação aos novos diagnosticados. Segundo pesquisa realizada no ano passado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), dentre as quase 2000 pessoas ouvidas, maiores de 18 anos, constatou-se que houve um aumento em torno de 68% nos casos de depressão e 80% nos de ansiedade, números altíssimos se comparados à média mundial, de quase 30%.
“Ultimamente, tenho me sentido melhor, mas no início eu literalmente sentia que ia morrer. Passava mal o tempo todo e tinha dias que eu não saía da cama”, relata a jovem professora Nicolle L, de 20 anos, a respeito de seu nível de depressão durante a quarentena. Diante de circunstâncias como não poder sair normalmente, estar perto daqueles que ama, realizar atividades de lazer, ir ao trabalho ou universidade e, principalmente, se ver perante a possibilidade de contrair um vírus perigoso e até mesmo letal, apresentar sintomas ansiogênicos é um tanto quanto natural, mesmo que talvez não pareça.

Foto: Acervo Pessoal
Quem também vivencia a mesma situação é a universitária Ana Carolina Vieira, de 20 anos, que afirma ter muito medo de que alguém de sua família contraia a doença, sendo esse um dos principais motivos pelo quais fica ansiosa e se sente confortável por não precisar sair de casa. “Tenho um medo irracional da morte e de perder quem amo, portanto, minhas crises aumentam muito quando alguém que mora comigo não se sente bem, pois logo imagino que vou perder a pessoa”, conta a jovem.

sensações de medo e ansiedade
Foto: Acervo Pessoal
Quando experimenta momentos de extrema tensão durante muito tempo, o ser humano pode acabar desenvolvendo um desequilíbrio emocional. O resultado não poderia ser outro senão um aumento nas vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor, como o apontado pelo Conselho Federal de Farmácia em 2020, ano no qual as vendas apresentaram um crescimento de 17%.
Vivendo um novo normal, no qual as rotinas sofreram inúmeras mudanças e as pessoas têm enfrentado cada vez mais obstáculos, os jovens são o grupo mais afetado. De acordo com um estudo feito pela Chegg.org e divulgado no dia 26 de fevereiro deste ano, o “Global Student Survey”, foram ouvidos cerca de 16,8 mil estudantes de 18 a 21 anos, os quais alegaram haver sido impactados mental e emocionalmente devido à pandemia. Dentre os países analisados, o Brasil apresenta o maior índice (76%), no qual mais de 80% dos participantes relataram um aumento de estresse e ansiedade.
“Com a virtualização das aulas ou a suspensão do universo escolar, principal espaço fora do núcleo familiar, o jovem perde esse espaço social em construção. O uso das tecnologias permite a manutenção de alguns vínculos, mas não ocorre da mesma forma. Estamos conectados… não propriamente enlaçados”, explica a coordenadora do Serviço de Psicologia Aplicada, Clarice Medeiros, da Universidade Veiga de Almeida. Diante de uma nova realidade, a qual não satisfaz totalmente suas necessidades e desejos, os jovens veem no mundo virtual – jogos online, redes sociais, serviços de streaming – um tipo de refúgio, cenário mais próximo daquilo que costumavam viver.
Vale ressaltar que depressão e ansiedade não são os únicos transtornos que têm surgido nesse período pandêmico, ainda que sejam os mais diagnosticados. Um exemplo que evidencia isso é o de Ludmila Lopes, universitária, 20 anos, recém-diagnosticada com transtorno de personalidade borderline (TPB), que, apesar de revelar sempre haver apresentado os sintomas, viu na quarentena eles se agravarem ao ponto de ser identificado como uma doença psiquiátrica. “Antes tinha algumas vezes, sempre pensei que era porque havia perdido a paciência, mas agora não. Qualquer motivo mínimo é razão de explosões e isso é péssimo, dá vontade de sumir”, expõe Ludmila.
Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria aponta que, nos primeiros meses de pandemia no país, 67% dos psiquiatras admitiram ter feito atendimentos a novos pacientes, dos quais a maioria apresentava pela primeira vez os sintomas. Em meio a tudo o que vem acontecendo ao redor do mundo em virtude da pandemia, os olhares da sociedade se voltaram para a temática da saúde mental. Privadas do convívio social ao qual estavam habituadas, as pessoas têm encontrado dificuldades em manter seus psicológicos saudáveis, o que pode acarretar no desenvolvimento de algum transtorno mental.
Especialistas explicam que existem pequenas atitudes que podem amenizar os efeitos vindos do isolamento social, tais como estabelecer uma rotina de tarefas diárias, ter boas noites de sono, praticar atividades físicas ou hobbies de sua preferência e, caso haja necessidade, buscar acompanhamento profissional. Para a universitária Ludmila, por exemplo, a leitura se tornou uma válvula de escape que a impede de focar em situações que podem agir como gatilhos.

Ao passar por momentos tão incertos e turbulentos como os dos dias atuais, se sentir abalado e instável psicologicamente é natural, uma consequência atrelada a tudo que foi e é vivido. No entanto, quando as sensações e os pensamentos negativos se mostrarem intensos, sucessivos e persistentes, independentemente do que venha a acontecer de bom, e continuarem a prejudicar o dia a dia, não se deve hesitar em procurar ajuda. É importante lembrar que saúde mental não se resume a não ter sentimentos ruins, mas sim em não se deixar ser dominado por eles. Por isso, é preciso de cuidar sempre e estar bem consigo mesmo.
Anne Rocha – 3º período
Parabéns, Anne! Bjs!