Da sala de aula

A nova vida dos fisioterapeutas em tempos de pandemia

Profissionais buscam alternativas para trabalhar durante isolamento social

O mundo está passando por tempos bem conturbados. E em meio ao caos provocado pela pandemia de Covid-19, profissões estão tendo que se reinventar, se fortalecer e encontrar alternativas de atuação. Uma dessas profissões, que  figura entre as que estão na linha de frente neste momento, é a dos fisioterapeutas. Além de atenderem de forma particular, eles também atuam em hospitais, e estão frequentemente expostos ao novo Coronavírus. Os profissionais de fisioterapia estão sendo exigidos cada vez mais em relação a essa pandemia, auxiliando de diversas formas, nos leitos de UTI nos hospitais.

Em meio à pandemia, deputados aprovaram uma lei na qual os fisioterapeutas devem estar 24 horas nas UTIs, para o acompanhamento de pacientes, aumentando ainda mais a valorização da profissão. Millene Juliana, 26 anos e atuante na Fisioterapia voltada para a área ortopédica em adultos e na área de Pilates, salienta: “Voltei com o atendimento convencional presencial, mas tomando os devidos cuidados comigo e com o paciente. Aumentei até o número de jalecos e tudo mais”.

Millene não foi a única a ter que alterar sua rotina de trabalho. Cerca de 80% dos fisioterapeutas não estão atuando da forma que agiam anteriormente. Camila Oliveira, 31 anos, que trabalha com a Fisioterapia domiciliar em idosos, é uma delas. Ela conta que sua rotina de trabalho mudou drasticamente, e que teve que se adequar fazendo atendimentos também online e revendo práticas nos atendimentos presenciais. “Foram tomados alguns cuidados em relação ao perigo de contágio, sendo que a maioria dos meus pacientes pertence ao grupo de risco, por diversos fatores como idade e outras patologias respiratórias ou neurológicas. Os horários da agenda foram alterados para que a minha circulação fosse menor entre uma residência e outra”.  

Camila acrescenta: “Foram feitos atendimento por meio de chamadas de vídeo por aplicativo e/ou gravações com exercícios para os pacientes. O feedback era dado pelos familiares ou cuidadores e, em casos de urgência, era feita uma visita presencial, seguindo todas as orientações em relação aos cuidados com higiene e contágio”. No entanto, destaca, alguns relatos de familiares eram de que o paciente se comportava de maneira diferente em relação à realização do exercícios.

Camila observou os pacientes e alguns realmente tiveram que retomar à rotina de exercícios com a presença dela. “Com o tempo da quarentena se prolongando, observei, junto com a família, a necessidade de retomar os atendimentos presenciais e assim ficou estabelecido, seguindo as normas, com uso de EPI’s por minha parte e de proteção também por parte da família”, destaca ela.

A fisioterapeuta também conta como ficou sua vida pessoal com essa mudança drástica em meio a essa quarentena. “Como não é possível ir até uma academia, pratico exercícios em casa. Tenho corrido em média 30 minutos por dia e faço exercícios funcionais, o que faz com que minha ansiedade diminua e meu corpo se mantenha bem para o trabalho. Também faço curso de Osteopatia e as aulas são online, para que não fiquemos muito tempo parados. Mas admito que encontrar os amigos para uma conversa e distração faz falta”, relata Camila.

A fisioterapia tem se reinventado e os profissionais buscam atuar da melhor forma para que o paciente se recupere rapidamente. “Minha rotina sempre foi bem corrida, dividida entre consultório, plantões e estágios. Porém, desde o início da pandemia, houve grande mudança, começando pelos estágios, que foram interrompidos, e os atendimentos em consultórios, que seguiram a mesma conduta. Somente os plantões fugiram da lógica e se tornaram cada vez mais corridos”, conta Bruna Silva, 26 anos, fisioterapeuta na área hospitalar, pediatria ambulatorial e na educação, com graduandos de Fisioterapia.

Bruna relata como era a rotina dela antes e agora, na atual situação de pandemia mundial. “Hoje, com o decorrer dos acontecimentos e a necessidade, os atendimentos em consultório voltaram quinzenalmente, e com toda mudança necessária, incluindo vestuário próprio para a pandemia e intensificação da higiene a cada momento”, frisa ela, contando como está sendo a forma de atendimento no hospital em que atua.

A fisioterapeuta relata também do medo do caminho que sua profissão iria tomar. “A princípio foi um choque psicológico, noites sem dormir com medo, ansiedade, frustração e muitos sentimentos. Temia a redução salarial, o desemprego.  A fala de que as coisas iriam piorar, em confronto com aquelas que não nos deixaram desanimar, também se tornou parte da rotina de dúvida e de incertezas sobre o momento em que tudo isso vai passar. Mas aos poucos, ao longo desses meses de tantas mudanças, estou me adaptando, me reinventando e me redescobrindo dia a dia”.

A angústia dos profissionais sobre o futuro incerto deixa todos assustados e vem causando aumento nos casos de ansiedade e depressão dentro da área. É o que conta a psicóloga comportamental Márcia Silva, irmã de Bruna. “Como  a Bruna trabalha diretamente com pacientes diagnosticados com Covid-19, percebi que ela passou a ter mais ansiedade, dificuldade de dormir e uma personalidade mais rígida. Acredito que pelo medo e por todas as novas regras para atendimento. Ela demonstra muita exaustão quando retorna do trabalho e está mais cautelosa no ambiente domiciliar, e se mantém mais afastada de quem mora junto com ela”, relata a psicóloga.

Márcia conta um pouco do dia a dia da irmã após o retorno de todos os atendimentos que realiza no hospital em que atua: “Uma parte boa é toda a informação que ela traz para família, sobre cuidados maiores para se tomar. Ela até passa uns exercícios respiratórios para fortalecer os pulmões. Nós, que convivemos com ela, temos muito medo de que se infecte e passe por uma situação grave da doença ou mesmo que passe para a gente. Mas tomamos todos os cuidados necessários”.

*Matéria produzida pelo aluno Otavio Augusto Pekim para a disciplina Teoria e Técnica da Notícia, ministrada pela professora Maristela Fittipaldi

Agência UVA é a agência experimental integrada de notícias do Curso de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida. Sua redação funciona na Rua Ibituruna 108, bloco B, sala 401, no campus Tijuca da UVA. Sua missão é contribuir para a formação de jornalistas com postura crítica, senso ético e consciente de sua responsabilidade social na defesa da liberdade de expressão.

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