O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ocorrerá no próximo domingo (3). Com a aproximação da data da prova os estudantes costumam sentir uma certa tensão. O exame é tido por muitos jovens como a prova que vai decidir seu futuro. Entretanto, deve-se ter atenção para que a ansiedade não interfira na saúde do candidato, e acabe por prejudicar seu desempenho.
O aluno do 3º do Ensino Médio, Matheus Xavier, de 17 anos, afirma que a tensão não está só em ser aprovado, inicia ainda no momento de escolha da carreira. “Muitas pessoas com quem nós comentamos o que queremos fazer perguntam se vamos conseguir dinheiro, como vamos nos sustentar. Então, a pressão é surreal. Já até pensei em fazer contabilidade para tentar uma carreira sólida e que me dê base financeira”, diz o candidato ao curso de jornalismo.

(Foto: Júlia Reis)
O estudante revela que a pressão não vem somente de seus familiares, também compreende uma auto cobrança. “Da minha parte vem o anseio de chegar aos vinte e poucos anos realizado, ser bem-sucedido na carreira e estar seguro. Então, eu mesmo me cobro para decidir o que quero, para não começar a faculdade e trancar”, conta. “Sei que no dia da prova vou ficar com ansiedade ao extremo porque junta o medo de ir para outro lugar fazer o exame, estar com pessoas que você não conhece e buscar todo nosso conhecimento. Além de ser um final de ciclo, isso está me causando uma emoção. Essa última semana me dediquei a fotografar para me inspirar e me reafirmar. Isso tem me acalmado para chegar no Enem com a certeza do que eu quero fazer”, comenta o aluno.
A estratégia de Matheus para controlar o nervosismo é recomendável. A psicóloga Danielle Bides, especializada em psicopedagogia clínica e terapia familiar e infantil sugere que os dias que antecedem o exame devem ser encarados com tranquilidade. “O ideal é que nesta última semana o candidato estude de maneira mais moderada, tenha boas noites de sono, foque em outras atividades. O mais importante é não se avaliar como uma nota porque isso cria uma sensação no indivíduo como se ele fosse só aquilo, ele deve entender que terá um desempenho de acordo com o que ele rendeu”, propõe.

(Foto: Júlia Reis)
A profissional ainda informa que existem três fatores que normalmente geram preocupação nos candidatos. “Existem as expectativas criadas pelo próprio indivíduo que está realizando o exame, a pressão familiar pela busca do emprego ideal ou de continuar uma linhagem na família e a pressão da sociedade que costuma esperar desse aluno uma nota eficiente para o curso desejado”, expõe. A psicóloga reitera que a ansiedade é uma reação normal, o alerta está em seu excesso.
“A ansiedade é uma emoção natural do ser humano, mas existem fatores que propiciam seu aumento, como a expectativa criada em cima de um resultado, isso pode começar a trazer prejuízos para esse indivíduo, principalmente no âmbito cognitivo e comportamental, como os sintomas de falta de ar, dor de cabeça, falta de sono, o que leva a pessoa a comprometer funções cognitivas, como o raciocínio, a memorização, a dificuldade de interpretação. O estudante deve acreditar no seu potencial, acreditar no que estudou. Caso os sintomas de pensamento recorrente na nota da prova, dores no corpo, principalmente no estômago, e falta de ar se prolonguem o recomendável é buscar um atendimento psicoterápico porque já afetou demais o estudante e se torna um transtorno ansioso generalizado. A ansiedade é normal, surge quando estamos preocupados, o que pode ser levado em consideração como patológico é o seu excesso, quando os esses pensamentos ficam tão recorrentes que resultam em dores”, informa Danielle.
Alguns estudantes optam por realizar o exame mesmo antes de estarem no 3º ano do Ensino Médio. É o caso da Beatriz Monteiro, que acredita que conhecer o estilo da prova vai lhe ajudar no próximo ano. “Vou fazer como um teste para eu ver como vão estar as provas e como eu vou me sentir porque eu sempre fico muito nervosa durante as avaliações. Muitas vezes os adolescentes são pressionados e as pessoas romantizam muito essa ideia de se matar de estudar, acho que isso também não é bom psicologicamente”, relata a aluna de 16 anos que ainda está 2º ano do Ensino Médio.
A redação é outro fator que causa intimidação em diversos alunos. A professora de Português e Literatura, Elisabeth Martins informa que os alunos devem ter habilidades interdisciplinares para realizar um bom texto. “O aluno não está indo para um campo de batalha desconhecido, ele trabalha isso desde sempre. A prova do Enem é cansativa. O aluno vai lutar contra o relógio, contra o cansaço, mas é uma etapa que deve ser feita com seriedade, é um compromisso consigo mesmo. Eles devem compreender que todo o estudo está integrado. Ao escrever uma redação o aluno pode acionar conhecimentos de Filosofia, por exemplo. Para produzir textos o candidato deve acionar todos os conteúdos que aprendeu, não só a gramática pura. O Enem solicita a leitura crítica, tanto em termos de leitor, como de produtor do texto”, expõe a professora.
Elizabeth afirma que ler e estar inteirado sobre as atualidades são tarefas essenciais para uma boa produção textual. “Sempre tento desmistificar que o aluno tem que adivinhar a temática, o aluno deve ser informado. Seja qual for o tema da redação, ele deve ter domínio do gênero proposto. É preciso perder o medo”, diz a professora, que considera a originalidade, além da estrutura textual, como o sucesso da redação. “O Enem não está procurando alunos com propostas de intervenção cristalizadas, engessadas. Ao analisar as redações nota 1.000 percebe-se que são todas muito autênticas. O que se espera de um aluno acadêmico é que ele traga contribuições e demonstre ser original em seu raciocínio”.
Júlia Reis – 6º período
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