Teatro

A louca amizade

A última quinta (23) guardou muitas emoções para quem visitava o CCBB-RJ. Logo na entrada do centro cultural, o clima que pairava entre os presentes já indicava que bons ventos estavam por vir. Tudo isso para ver a peça “Sobre Ratos e Homens”, escrito por Joh Steinbeck. Que traz Ricardo Monastero, como George, e Ando Camargo, como Lennie. A peça foi idealizada há quatro anos por Ando e Ricardo que conseguiram convencer Kiko Marques a fazer a direção. A história sobre George e Lenin se passa nos EUA em 1937, época em que houve a grande depressão e trabalhadores se viravam para conseguir o ganha-pão. Se fosse fazer um paralelo ao Brasil seria o equivalente a uma época após a abolição da escravatura, quando Princesa Isabel assinou a lei Áurea.

O que deixa a peça tão intensa é tratar de problemas que ultrapassaram décadas, e até séculos. Preconceito racial claramente focado aos negros, aos idosos, as mulheres e seu papel na sociedade etc. A obra é atual, explora o individualismo, onde a preocupação geral é o eu. Após a apresentação inicial de George e Lenin, o que parecia é que dois tipos de personagens caricaturais iam ser explorados: o magricela inteligente e boa praça, e o gordinho forte, típico homem armário com atraso intelectual e uma tremenda ingenuidade. Mas, para a surpresa de todos, foi mostrado que a peça tem um algo mais.

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Elenco da peça “Sobre Ratos e Homens” [foto: Roani Sé/Agência UVA].

Era uma relação de amizade e sonho, que de tão suave, logo se ganha um peso mais claro no decorrer da peça. O que o espectador deve ter em mente é que a trajetória dos dois amigos é uma parte do conteúdo arquetípico que forma tanto os indivíduos quanto a sociedade. Em novo ato foram apresentados os outros componentes do elenco – que, por sinal, foram escolhidos, se não a dedo, com um senso correto de que ator interpretaria qual personagem. E eles se saíram tão bem representando os respectivos papeis, que não houve um que se destacasse dos demais. Na verdade, o desempenho deles foi afiado a ponto de a plateia não escolher um personagem preferido.

Em termos de cenário – mediante as limitações que se tinha, devido ao baixo custo de produção –, todos os espaços de palco foram muito bem ornamentados, a estrutura cênica realmente poderia ser ligada a de uma fazenda. Até nos momentos em que faltava espaço, como cena do quarto de Crooks, os atores se espremiam para ficar todos juntos, mas conseguiam manter a boa estética da apresentação. O momento chave da peça é certamente a conversa de Lenin e a encantadora Whit, de Natália Rodrigues, o ato que procedeu a essa cena surpreendeu e emocionou todos os presentes. Quem for conferir a peça “Sobre Homens e Ratos” sentirá na pele como uma sociedade preconceituosa tratava seus semelhantes. Uma experiência que agrega muito para a vida de todos.


Roani Sento Sé Santos- 7º Período

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