Ângela Maria Diniz Gonçalves, conhecida artisticamente como Ângela Ro Ro, faleceu no início do mês, na segunda-feira (8). Nascida em Niterói, em 5 de dezembro de 1949, a cantora sempre foi marcada pela sua voz rouca e seu estilo singular, que misturava jazz, blues e samba-canção. Essas características a tornaram uma figura única da música popular brasileira, marcada pela autenticidade e irreverência em um mercado ainda conservador.

(Foto: Arquivo Pessoal)
Para Rodrigo Faour, jornalista e historiador de música brasileira, Ângela pode ser descrita como “uma figura ímpar que abriu espaço para muitas outras dentro do cenário”. Segundo ele, suas influências internacionais, como Janis Joplin e Jimi Hendrix, trouxeram uma sonoridade inédita, enquanto artistas nacionais como Maysa, Dalva de Oliveira e Billie Holiday moldaram seu estilo de interpretação visceral.
“Ela tinha um jeito muito diferente e único de agir dentro e fora dos palcos”, conta Faour.
O álbum de estreia da cantora, “Ângela Ro Ro” (1979), é considerado um marco da MPB. Canções como “Amor, Meu Grande Amor” e “Simples Carinho” atravessaram gerações. Assim, Faour explica que isso ocorre porque suas “músicas de amor ultrapassam as barreiras do tempo”, mantendo relevância entre diferentes públicos.
Em relação a isso, as memórias afetivas se apresentam como exemplos da arte atravessando gerações. Para o fã e idealizador do perfil no Instagram “Tropicália Viva”, Felipe Caetano, a primeira canção que o marcou foi justamente “Amor, Meu Grande Amor”.
“A forma como Ângela interpretava essa canção me atravessa até hoje. Era como se ela estivesse cantando algo que eu já sentia, mas não sabia colocar em palavras. Lembro da minha tia tocando no rádio aos domingos e eu ainda criança emocionado”, comenta o fã.
Mais do que as músicas, a postura artística de Ângela Ro Ro sempre foi destacada devido a sua irreverência e coragem. Para Felipe Caetano, essa autenticidade é o que mais o inspira. Segundo ele, a cantora mostrou que não é preciso se moldar para caber em padrões.
Ela foi pioneira ao assumir publicamente sua homossexualidade em um período em que isso ainda era considerado tabu. Demonstrando, assim, não apenas coragem pessoal, mas também abrindo caminhos para maior liberdade de expressão e representatividade na cultura popular brasileira.
“Aí veio um tal de amor livre, não é? Que a gente não inventou não… Aí eu fui hippie, mas eu não inventei nada de amor livre, porque eu não sabia que o amor estava preso”, declarou a própria artista em entrevista para Rodrigo Faour ainda em 2009.

(Foto: Reprodução /Warner Music)
Apesar do talento, a artista sofreu certo apagamento na indústria. Segundo Faour e Felipe Caetano, fatores como sua personalidade forte e a dificuldade de lidar com gravadoras influenciaram sua visibilidade. Além disso, o fato de ser mulher e lésbica em um mercado dominado por homens reforçou esse apagamento. Um exemplo emblemático foi sua recusa em gravar “Malandragem”, composição de Cazuza e Frejat que se tornaria sucesso na voz de Cássia Eller.
“Apesar de ser uma das artistas mais autênticas da nossa música com composições inesquecíveis e voz impecável, muitas vezes foi colocada à margem por não se encaixar em padrões de mercado ou de comportamento. Resta a nós como fãs levar o legado de Ângela”, reflete Felipe Caetano.
Ainda assim, sua obra segue como referência de autenticidade e liberdade artística. Faour ressalta que a artista nunca teve medo de ser quem era, já
Felipe, acrescenta que a experiência ao assistir a um show dela foi completamente arrebatadora.
“Ela nunca teve medo de ser quem era. Ângela sempre expôs suas opiniões e não se envergonhou de ser ela mesma”, destaca o jornalista e historiador.
Para conhecer sua obra, o álbum de estreia da cantora é indicado como porta de entrada, pois sintetiza sua identidade artística e a visão única sobre música e vida. Felipe, por sua vez, recomenda o mesmo ponto de partida e acredita que é um clássico.
“Eu indicaria o primeiro álbum e a partir dali começar um passeio delicioso pela obra dela. O disco de estreia já nasceu clássico”, opina o fã.

(Foto: Reprodução / Warner Music )
O legado de Ângela Ro Ro ensina coragem, ousadia e intensidade. Ela provou que a MPB pode até ser sofisticado. No entanto, ao mesmo tempo, deve ser visceralmente sincera. Sua trajetória, marcada por autenticidade, entrega e resistência, continua inspirando artistas e admiradores, reafirmando seu lugar como uma das vozes mais originais da música brasileira.
Foto de capa: Arquivo Pessoal
Reportagem de Ana Carolina Freitas, com edição de texto de Gustavo Pinheiro
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Ângela Ro Ro era uma grande artista, essa matéria é uma bela homenagem!
Adorei a matéria, fatos aos quais eu desconhecia, muito interessante!
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