O palco Summit Globo Acontece recebeu, na tarde desta última terça-feira (27), dois ilustres atletas do esporte brasileiro: Daiane dos Santos e Isaquias Queiroz. A palestra foi mediada pelo jornalista Pedro Bassan, da TV Globo, e teve como tema “Além do esporte: o papel do jornalismo na construção de heróis nacionais”. O evento fez parte da programação do primeiro dia da Rio2C, o maior evento de criatividade e inovação da América Latina.

O debate trouxe diferentes perspectivas sobre o papel do jornalismo na formação do herói nacional, que vai muito além da cobertura de grandes torneios. Ele nasce no dia a dia, nos momentos de baixa, nas lesões e segue até sua consolidação como símbolo esportivo de uma nação.
Os atletas compartilharam suas experiências com o jornalismo ao longo de suas respectivas carreiras, abordando coberturas, a primeira entrevista, a conquista da primeira medalha e a pavimentação do caminho até se tornarem heróis nacionais. Daiane relembrou sua medalha de ouro em Anaheim, em 2003, o último grande torneio antes das Olimpíadas de Atenas 2004, e contou por que a geração Atenas foi tão marcante para a ginástica brasileira.
“A partir do momento em que construímos um plano coletivo para um esporte considerado tão individual como a ginástica, começamos a crescer com a geração Atenas 2004. O pensamento coletivo foi a mudança para o Brasil deixar de ser um esporte individual na ginástica e se tornar um sucesso coletivo”, conta Daiane.
Daiane completou o tópico abordando a felicidade que sente ao ver Rebeca Andrade brilhando na ginástica mundial. Rebeca, a maior medalhista olímpica do Brasil, já afirmou várias vezes que sua inspiração se chama Daiane dos Santos.
“A força coletiva fez o sucesso individual se destacar. Tenho um orgulho imenso de onde a Rebeca chegou”, completa Daiane.
Já o cinco vezes medalhista olímpico Isaquias Queiroz destacou sua ambição desde jovem, ainda no interior da Bahia, de marcar seu nome na história do esporte olímpico, não pelas medalhas, mas pelo legado.
“Sempre tive o sonho de ter meu nome lembrado, não pelas medalhas, essas enferrujam, mas por marcar a história do esporte brasileiro”, conta Isaquias.
O papel da mídia atua nos dois lados, tanto positivo quanto negativo. Um herói não é feito apenas de conquistas e glórias. Ele é moldado a cada dia, a cada prova, a cada entrevista, a cada torneio. A mídia exerce forte influência no modo como o povo brasileiro passa a conhecer o atleta, especialmente em esportes menos populares, como a canoagem.
A história do ídolo não é contada apenas pela perspectiva dele, mas também pelo entorno. O lado negativo também existe, como demonstra o difícil ano de 2023 vivido por Isaquias.
“Em 2023, sofri muito mental e fisicamente. Pensei em parar. A recepção da mídia foi ruim. Fui taxado como vilão, bem diferente do herói que fui em Tóquio”, relembra Isaquias.
A resposta veio em Paris, com a conquista de mais uma medalha olímpica, a quinta de sua carreira, e a ressignificação de um ídolo tão importante para o esporte brasileiro. Isaquias relembra a motivação especial ao ver três pessoas importantes em sua vida na arquibancada naquele dia: sua esposa, seu pai e seu treinador. Eles foram a força para ele sair do quinto lugar e conquistar uma improvável medalha de prata na prova.
“Eu sabia que precisava dar uma resposta após um ano ruim, principalmente por três pessoas especiais que estavam me vendo na arquibancada. Saí do quinto lugar para o pódio, pois precisava mostrar que acreditar até o último momento é essencial em qualquer parte da vida”, destaca Isaquias.
Por fim, Daiane reiterou seu orgulho de representar a comunidade negra no esporte brasileiro e seu compromisso em inspirar as gerações futuras.
“Tenho orgulho de ser voz da comunidade negra no Brasil. O esporte é uma bandeira muito forte para causas importantes. É gratificante ver pessoas se identificando com minha história”, conta Daiane, com sorriso no rosto.
Já Isaquias encerrou sua palestra revelando seu maior sonho para o futuro da canoagem no Brasil. Um sonho que vai além de medalhas e conquistas, focado no legado de tornar a canoagem um esporte nacional e popular.
“Tem rio e lagoa em cada canto do Brasil. A canoagem tem tudo para ser como o futebol. Meu papel é inspirar as futuras gerações”, revela Isaquias.
A mídia tem cumprido o papel de abrir as páginas, contar, guardar as histórias e alimentar a imagem do atleta e do herói nacional. O princípio da mídia é tratar o atleta como ser humano, e não como uma máquina que apenas precisa conquistar resultados para o Brasil. Enquanto a inteligência artificial cria amigos virtuais, a tela da TV cria amigos reais. Essa parceria centenária entre o jornalismo e o esporte nacional tem rendido frutos incontáveis para o Brasil.
Foto de capa: Isabel Vieira/ AgeCom
Reportagem de João Gabriel Lopes
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