Por Mariana Motta
Não sei quantas perguntas não perguntadas cabem em 22 anos. Talvez milhares, talvez só aquelas que realmente importavam. Eu queria saber a resposta, mas, como de costume, não perguntei.
Queria entender como teria sido aquela situação se eu tivesse feito aquela pergunta. Talvez nada fosse diferente, ou talvez fosse. Mas não perguntei.
Queria saber mais sobre a minha família. Cresci tentando encaixar peças soltas de histórias que nunca me foram ditas por inteiro. Aprendi a interpretar respostas nas entrelinhas de curtas conversas, esperando que, um dia, alguém me contasse tudo sem que eu precisasse pedir. Mas ninguém contou, e eu não perguntei.
Ou então se, simplesmente, naquela tarde qualquer, eu tivesse perguntado à minha amiga se ela estaria em casa. Talvez a resposta fosse simples como um “sim” ou um “não”. Mas mesmo assim, eu não perguntei.
Outro dia, comentei isso com a minha psicóloga. Falei sobre as perguntas que nunca fiz, sobre as palavras que ficaram presas na garganta, sobre as conversas que sequer chegaram a existir. Ela me perguntou se eu tinha medo das respostas. Eu disse que não, que eu realmente queria cada uma delas.
“Então por que você não pergunta?”, ela falou.
Fiquei em silêncio. Não porque não soubesse a resposta, mas porque dizê-la em voz alta era admitir o óbvio: eu tinha medo de perguntar. Para mim, perguntar é assumir, diante do outro e de mim mesma, que eu quero saber.
Mas e se soubessem? E se, no instante em que a pergunta escapasse da minha boca, o outro percebesse que eu queria saber? O que aconteceria?
Talvez nada. Talvez só uma resposta.
Foto de capa: Reprodução/Globoplay
Crônica de Mariana Motta, com edição de texto de João Agner
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