Crônica Esporte

O resgate da essência rubro-negra

O repórter João Gabriel Lopes fala sobre a essência da sua maior paixão, o Flamengo.

Por João Gabriel Lopes

O que fazer em momentos de crise? Essa pergunta já é difícil de se responder individualmente, imagina se tratando de algo que envolve a paixão de mais de 40 milhões de pessoas mundo afora. E que algo é esse que move tanta gente? Que mexe com a vida de tantas pessoas? Esse algo que até parece sobrenatural se chama Clube de Regatas do Flamengo, e para entender o Flamengo você precisa amar o Flamengo, viver o Flamengo e, mais que tudo, você precisa ser Flamengo. 

O Flamengo de Zico, Zizinho, Junior, Leandro, Adílio, Nunes, Adriano e tantos outros ídolos de uma imensa história de conquistas, também é o Flamengo de Filipe Luís, o nosso Filipinho. Filipe chegou em 2019, super consolidado após uma carreira de sucesso na Europa e na Seleção Brasileira, chegava aos 33 anos para jogar no clube do seu coração, e o resto é história. Filipe fez e faz até hoje parte da geração libertadora de 2019 em diante, da geração que tirou todos os traumas com Libertadores que eu e milhões de flamenguistas tínhamos na infância e adolescência. 

Da geração campeã com 90 pontos do campeonato brasileiro, olha que loucura: fomos campeões da Libertadores e do Brasileirão no mesmo final de semana. E não paramos por aí; no ano seguinte, mais um Brasileiro. Em 2021, por um deslize, não fomos campeões da América novamente, mas sem problemas, 2022 veio para curar as feridas do ano anterior, tricampeão da América e campeão da Copa do Brasil pela quarta vez. Filipe se aposentou dos gramados no fim de 2023, um ano trágico para o Flamengo, o ano mais desconexo entre clube e torcida que tivemos nessa geração. 

2024 começou promissor, mas logo vimos que as lideranças à frente do clube não sabiam o que representava o Flamengo. É muito fácil se declarar ao clube numa entrevista, mas você entende a essência rubro-negra? O Flamengo não é um clube; é um estado de espírito, como dizia o grande Nelson Rodrigues. O Flamengo se vive todos os dias. Se você não respira o Flamengo, você não sabe sobreviver no clube mais popular do Brasil. Filipinho assumiu o Flamengo numa segunda-feira após um melancólico domingo onde o Flamengo, apesar da vitória, não inspirou seu torcedor mais uma vez, e alguns dias após mais uma terrível eliminação na Libertadores. 

Seu desafio, além de ir em busca da Copa do Brasil, onde estávamos na semifinal, era de reconectar clube e torcida, e ninguém melhor que um ídolo do Flamengo, que conhece a casa, para realizar tal feito. Foi assim em 81 com Carpegiani, em 2009 com Andrade, em 2013 com Jayme de Almeida e em 2024 com Filipe Luís. A essência rubro-negra vai muito além do campo, você precisa falar a mesma língua da sua torcida, vestir o manto rubro-negro é se entregar de corpo e alma em prol do Flamengo, é sacrificar tudo pela vitória, é entender onde você está e o que você representa ao entrar no gramado do Maracanã vestindo vermelho e preto. 

No domingo, fomos campeões mais uma vez da Copa do Brasil, a quinta da história, e assim como em 2013, o roteiro coroava um técnico que assumiu em momento de crise e conquistou a Copa. Corava o técnico que nunca havia trabalhado como treinador profissional e aceitou o desafio mais difícil do futebol brasileiro, que é treinar o Flamengo. O técnico que não teve medo de falhar, não teve medo de atacar, não teve medo de perder. O técnico que todas as nove vezes que entrou em campo como treinador do clube entendeu a essência do Flamengo: vencer, vencer, vencer… Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.

Obrigado, Filipinho, ídolo do clube do seu coração.

Foto de capa: Reprodução/Fred Gomes

Crônica de João Gabriel Lopes, com edição de texto de João Agner

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