“Emilia Pérez”, filme do francês Jacques Audiard, foi um dos longas mais comentados do festival de Cannes no início do ano. Agora, chega ao Brasil como parte da 26ª edição do Festival do Rio, com exibições de filmes nacionais e internacionais espalhados pela cidade de 3 a 13 de outubro. Depois, chega oficialmente aos cinemas em fevereiro de 2025.
O longa gira em torno de quatro mulheres, focando na relação de Emilia Pérez (Karla Sofía Gascón), líder de um cartel mexicano, e Rita (Zoe Saldaña), uma advogada descontente que é forçada a ajudá-la a forjar sua morte para que possa viver autenticamente realizando uma cirurgia de redesignação sexual no exterior. Se juntam a elas, Jessi (Selena Gomez), mãe dos filhos que Emilia teve antes da transição, e Epifanía (Adriana Paz), que desempenha um papel importante na vida de Emilia. É interessante que se assista o filme sabendo o mínimo possível sobre o enredo, que guarda muito mais do que é apresentado nos trailers e na sinopse.

As quatro atrizes são, de fato, a alma do filme, cada uma com um propósito diferente dentro da história mas se completando. Em sua estreia no festival de Cannes neste ano, recebeu uma salva de palmas de onze minutos, e o quarteto recebeu junto o prêmio de Melhor Interpretação Feminina. Além desse, o longa também venceu o Prêmio do Júri.
Descrito como um filme musical de comédia criminal, “Emilia Pérez” cumpre perfeitamente as premissas de cada gênero. Os números musicais são criativos e não tão convencionais, que oscilam entre instrumentações clássicas espanholas e outras mais pesadas e puxadas para o rock. São músicas que certamente não foram feitas para ficar na cabeça do espectador após a sessão. A única exceção pode ser “Mi Camino”, interpretada por Selena Gomez com uma natureza mais pop, algo que a artista já é familiarizada.
No entanto, o filme acaba caindo em vícios de enredos LGBTQIAP+ datados e cansativos. No longa, Emilia é uma criminosa que abandona os filhos para transicionar. Além de considerar a transição de sexo como morte, visto que contrata a advogada Rita para ajudá-la a forjar sua morte como homem cis, Emilia é descrita como “meio homem, meio mulher” em um dos números musicais, e chamada pelo nome morto em alguns momentos.
Esses erros, entretanto, vão e voltam entre acertos de representatividade, como a delicadeza na performance da atriz, o fato de sua transição não ser uma questão na convivência dos personagens após o ato e seu relacionamento com Epifanía, evidenciam uma inconsistência nesse quesito do roteiro, e pode deixar o espectador mais atento com um sentimento conflituoso pós sessão.

O longa mostra o bom equilíbrio entre comédia e tensão, e uma constante emocional que é mérito inteiro de Karla Sofía Gascón e sua performance como a protagonista Emilia, dando vida a uma mulher trans com nuances pouco vistas no cinema. Zoe Saldana reforça seu talento como atriz e se revela como uma cantora talentosa, enquanto Selena Gomez entrega a melhor performance de sua carreira com uma personagem complexa e diferente das que já interpretou. “Emilia Pérez” é um grande acerto de Jacques Audiard, com uma direção e narrativa precisas, e um elenco de peso que entrega performances incríveis, um se apoiando no outro.
Confira o trailer de “Emilia Perez”, que integra o circuito da 26ª edição do Festival do Rio:
Foto: Divulgação/Paris Filmes
Crítica de João Agner, com edição de texto de Mariana Motta
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