Da sala de aula Meio Ambiente

Crise climática: como ela deve impactar o Brasil nos próximos anos

Segundo a pesquisa sobre Mudanças Climáticas na Mente Brasileira realizada pela Universidade de Yale, 96% dos brasileiros acreditam que as mudanças climáticas já acontece no Brasil

A crise climática já é evidenciada por meio das altas ondas de calor sofridas pela população brasileira nos últimos anos. Os cariocas vivenciaram a uma sensação térmica de 59,3°C no início do mês de novembro de 2023, que já causou grandes consequências no país. Em uma pesquisa realizada em março de 2022 pela Universidade Yale sobre “Mudanças Climáticas e Percepção Pública no Brasil”, em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS) e a empresa brasileira de pesquisa IPEC, relataram que 96% dos brasileiros acreditam que as mudanças climáticas já acontece no Brasil, e 77% delas identificaram a atividade humana como sua principal causa.

Segundo a Doutora em Ecologia e Evolução pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em Mudanças Climáticas e Biodiversidade, Júlia Souza, os recordes de temperaturas experienciados em todo planeta, se deve a intensificação do fenômeno natural El Niño. As consequências variaram desde a grande seca na amazônia, até tempestades e enchentes na região sul. Além de ondas de calor no sudeste e centro-oeste do país.

“Estes eventos afetaram a saúde dos brasileiros, seu direito à moradia e insegurança alimentar. É importante falar também da piora nas condições de trabalho no campo e na construção civil”, comenta Júlia.

A crise climática também gera prejuízos financeiros de curto e longo-prazo, como a reconstrução de áreas devastadas pelas chuvas e enchentes e o aumento da conta de luz, resultado da seca e do preço dos alimentos. De acordo com a projeção realizada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), estima-se um aumento de 4,4 ºC na temperatura média do planeta, gerando nove ondas de calor ocorrendo em um intervalo de 10 anos. Normalmente ocorre em média 3 vezes ao longo de 10 anos.

A especialista em mudanças climáticas, define como urgente a limitação das emissões de gases estufa, além da diminuição do desmatamento para manter a temperatura global em até 2ºC, atual objetivo do Acordo de Paris.

A seca, as tempestades e o aumento do nível do mar, irão devastar as cidades brasileiras e intensificar os impactos que já vêm sendo observados”, afirma Júlia.

As mudanças climáticas afetam também alguns setores econômicos no país, como o da geração de energia e o de produção de alimentos. Além da falta de chuva, que impacta diretamente na demanda energética em função do calor extremo, podendo levar a apagões. A produção de alimentos e o aumento da inflação também são influenciados por esse fator, um exemplo é o azeite de oliva, que subiu 20% no Brasil em 2023.

Para Elana Andrade, Engenheira Ambiental, de 26 anos, as maiores ações que impactam na crise climática, se devem aos grandes empresários, a transformação da agropecuária e a mudança do estilo de consumo desenfreado da sociedade. Por consequência dessas ações, a população sofre grandes desafios ambientais. O que também preocupa Elana é a saúde mental de uma população que não quer melhorar seus hábitos de vida, e, em algum momento, terão que readequar o estilo de vida para sobreviver.

“Deslizamentos em áreas de encostas, alagamentos, doenças relacionadas ao calor extremo, alterações de pressão arterial mais frequentes, e a piora no trânsito, são alguns dos desafios que já sofremos em decorrência da crise climática”, disse Elana.

O estresse, a exaustão e o comprometimento cognitivo, são alguns dos impactos das ondas de calor que podem acarretar na saúde humana, elevando o índice de câncer de pele. A engenheira conta que aderiu a novas práticas em seu estilo de vida para se adaptar aos impactos ambientais, como não sair em dias muito quentes e remarcar compromissos quando há previsão de chuvas, principalmente pelo medo de ficar isolada em alagamentos.

Já para Ryan, estudante de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, o principal desafio que os brasileiros enfrentarão em seu estilo de vida devido à crise climática, será a diminuição do tempo ao ar livre, implicada pela exposição ao sol.

“Antigamente evitávamos o sol do meio-dia. Pela forma como o calor vem se apresentando, acho muito provável que passaremos a evitar o sol depois das 9 da manhã, devido às sensações térmicas, principalmente no verão”, afirma Ryan.

O estudante também já mudou hábitos que costumava ter em seu cotidiano, como a prática de esportes ao ar livre, transferindo suas atividades físicas para a noite. Além de aumentar os cuidados com a pele, aumentando o usi do protetor solar e de roupas que sejam mais frescas e leves. Ryan enxerga ainda oportunidades para a criação de novos estilos de vida mais sustentáveis e resilientes diante da crise climática no país.

“Acredito em ações políticas que promovam a utilização de transportes com menores taxas de emissão de carbono. O uso de bicicletas e estímulos ao abandono do transporte particular, são algumas práticas mais resilientes diante da crise climática”, pontua o jovem.

Um dos fatores que elevam o aquecimento local em determinadas áreas da cidade para o advogado Marcelo Magalhães, é a construção de prédios acima de quatro andares,impedindo a movimentação das correntes de ar.

“Morando na região central do Rio, sinto que em decorrência ao grande acúmulo de prédios e a urbanização elevada da cidade, aumenta ainda mais a sensação térmica da população pela falta de circulação de ar”, comenta Marcelo.

A Doutora em Ecologia e Evolução, Júlia Souza, classifica algumas medidas que podem ser tomadas pela população para uma melhor adaptação às mudanças climáticas e a minimizar os impactos em seus estilos de vida. Segundo Júlia, na mobilidade, é preciso dar preferência ao transporte público e veículos elétricos.

“Precisamos de mudanças nos padrões de consumo de alimentos, optando por uma dieta baseada em vegetais provenientes da agricultura orgânica. Já no lazer, precisamos dar preferência à economia local, diminuindo o consumo de fast-fashion”, ela declara.

A adoção de tais medidas pode ser um privilégio. Em análise completa da doutora, muitos brasileiros se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica, o que prejudica sua adaptação às mudanças climáticas. Por mais que ações individuais sejam bem-vindas, a responsabilidade pela mitigação e adaptação às mudanças climáticas é majoritariamente do governo.

“A sociedade tem um papel relevante em pressionar o governo por ações sustentáveis, incluindo a fiscalização e regulamentação ambiental de empreendimentos públicos e privados”, finaliza Júlia.

Reportagem realizada por Thiago Eiras para a disciplina de Jornalismo Independente, ministrada pela professora Daniela Oliveira.

LEIA TAMBÉM: Dia Nacional do Cerrado e a importância do jornalista ambiental

LEIA TAMBÉM: Prefeitura do Rio cria plano para amenizar ondas de calor na cidade

0 comentário em “Crise climática: como ela deve impactar o Brasil nos próximos anos

Deixe um comentário