Após o anúncio da saída de Sarah Burton da diretoria criativa da Alexander McQueen em seu último desfile na Paris Fashion Week (30), o grupo Kering — donos da Alexander McQueen e de marcas como Saint Laurent e Balenciaga — anunciou Seán McGirr como seu novo diretor criativo. Dessa forma, agora todos os diretores criativos do grupo Kering são homens brancos.
Colecionando 13 anos na direção criativa da McQueen e mais 14 anos como pupila do fundador Lee Alexander McQueen, Burton se despediu com louvor em sua coleção Primavera/Verão 24. Apesar dos lamentos online, a estilista disse estar muito orgulhosa de tudo o que havia alcançado ao lado de sua equipe, e no dia seguinte, a Kering anunciou o irlandês Seán McGirr, que tem passagens pela Burberry e JW Anderson, como substituto de Burton.

Em 2019, o conglomerado de luxo soltou uma nota anunciando que um dos seus objetivos era de promover a igualdade de gênero e equiparar a remuneração entre ambos os sexos em todas as áreas da empresa até 2025. Para isso, foi anunciada a contratação de Kalpana Bagamane Denzel como sua chefe de diversidade, inclusão e talento para criar uma estratégia de recrutamento inclusivo e de desenvolvimento de novos talentos. Entretanto, Kalpana deixou a empresa cerca de três anos depois, e então Kering anunciou que criaria um novo time focado em diversidade.
“A diversidade e a inclusão sempre estiveram no centro dos nossos valores e da nossa cultura. Nos últimos anos, multiplicamos ações concretas para melhorar ainda mais a inclusão”, afirmou Béatrice Lazat, chefe do departamento de Recursos Humanos em nota oficial.
Em 2018, um estudo feito pela McKinsey & Company mostrou que menos de 50% das marcas mais conhecidas de roupas femininas eram desenhadas por mulheres, e somente 14% tinham alguma liderança feminina.
Apesar de nomes conhecidos como Maria Grazia Chiuri na Dior, Miuccia Prada na Prada e MIU MIU, Clare Waight Keller na Givenchy, Phoebe Philo na Céline, e uma indústria voltada quase inteiramente ao women’s wear (vestuário de mulher), com a saída de Burton, o grupo Kering reduz para zero a participção feminina em suas diretorias criativas.
A coleção final de Burton para a etiqueta inglesa teve como uma das suas inspirações a anatomia feminina, identidade cultivada por ela ao longo desses 13 anos que agora estará nas mãos de um designer homem, o que dividiu opiniões, afinal muitas marcas conhecidas foram fundadas por estilistas homens, como a própria McQueen, mas a discussão em si se trata da falta de oportunidade que grupos marginalizados recebem em relação a homens brancos.


Apesar de tais discussões, a entrada de McGirr é vista com otimismo baseando-se em seus trabalhos anteriores. No total, Sarah Burton dedicou quase 26 anos de devoção a Alexander McQueen, com uma carreira de sucesso, desenhando o vestido de noiva de Kate Middleton e em 2012 sendo nomeada como parte oficial da Ordem do Império Britânico por sua contribuição à moda. Eternizada como um grande ícone, ela cumpriu seu objetivo em mostrar que ninguém poderia entender mais as necessidades de uma mulher, do que elas mesmas.
Foto de capa: Cortesia Alexander McQueen/Ik Aldama
Reportagem de Camila Teixeira, edição de texto por João Agner
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