Por Mariana Motta
O que leva uma pessoa a acampar dias, passar horas em uma fila, apenas para comprar ingressos do show de um ídolo? Confesso que toda vez que via reportagens de fãs desesperados, a pergunta pairava sob minha mente.
Dia 11 de junho, às oito da noite, perguntei onde era o final da fila e estiquei uma canga no asfalto frio do Engenhão. Estava pronta para passar a noite em busca do tão sonhado ingresso para o show da Taylor Swift. Imagino, caro leitor, que esteja se questionando da mesma forma que eu me questionava: “Mas por que? Qual a necessidade de passar tanto sufoco?“
Desculpe te decepcionar, mas também não sei a resposta. O que eu sei é que três anos atrás me falaram para ouvir algumas músicas dessa cantora norte-americana, dizendo que ela era “dramática igual a mim”. Acredita que tinham razão? Para além do drama, ela representou, ou melhor, me apresentou todas as palavras que eu não conseguia dizer, e, dessa forma, todos os sentimentos que eu não conseguia expressar.
Foram três anos sonhando com uma conversa. Eu e Taylor, Taylor e eu. Tão pouco me importa se ela estaria em cima de um palco distante enquanto eu estaria em prantos na plateia; sei que estaríamos conversando pelas mesmas palavras que ela me ensinou. Fiquei 18 horas em uma fila, dormindo no chão frio, dividindo um sanduíche com uma amiga, usando uma toalha como travesseiro e rezando para um Deus que talvez nem acredite. Apenas vivendo pela esperança de conseguir um ingresso que me daria direito a três horas de uma linda e significativa conversa.

Infelizmente, não consegui. Por ironia do destino, à três pessoas da bilheteria, os ingressos acabaram. Outras pessoas que sequer conheciam Taylor Swift, estavam lá, dormindo no mesmo asfalto que eu, passando o mesmo frio que eu, acordando no mesmo calor do Rio que eu, mas não por amor. O que movia essas pessoas, era ganância e dinheiro. Senti minha esperança se dissipando através do eco produzido pelas altas gargalhadas dos cambistas. Para elas, tínhamos produzido uma grande cena de comédia, daquelas que dói a barriga de tanto rir.
Novamente, a pergunta veio à minha mente. Percebi uma realidade na qual nunca imaginei ser tão cruel. Na tarde do dia 12 de junho, exatamente às 13:52, a ganância comprou as palavras que tanto significavam para mim. Em troca, noticiavam em alto e bom som, o seguinte recado: “Acabou! Todos os ingressos estão esgotados.”
Crônica de Mariana Motta, com edição de texto de João Agner.
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