Educação Política

“Piso não é teto!”: Entenda o motivo das manifestações dos professores do Rio

Desde 17 de maio, os professores da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro tem se mobilizado em greves por ajuste salarial.

No dia 17 de maio se iniciaram as greves dos professores da rede estadual do Rio de Janeiro. A reivindicação acontece pela implementação do piso nacional para os funcionários administrativos e professores. Conforme o estado, quem já ganha acima do piso, não terá reajuste, e sendo portadores do pior salário do Brasil, os docentes do Rio de Janeiro tem como piso R$1,588, enquanto o nacional é de R$4,420.

Desde maio, os profissionais da educação vem se movimentando em manifestações em todo o estado, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) já se reuniu com representantes da Secretaria de Educação, mas não houve acordo. Dentre as reivindicações, estão a aplicação do piso nacional do magistério, o cumprimento do plano de carreira estabelecido por lei federal e que todas as faltas por greve desde 2016 sejam abonadas.

De acordo com Diogo de Andrade, professor de língua portuguesa da rede pública do Rio de Janeiro, diretor do SEPE e militante pela educação antirracista, mesmo tendo amor por ensinar em classe, fora dela, sua percepção é que o sistema de educação brasileiro é um fracasso. Para ele, os recentes atos não são somente para a mudança no estado do Rio, mas também em prol de todos os profissionais da educação.

“Só a luta muda vidas. Sei que cada indivíduo tem sua história e não posso julgar um profissional de educação que, por motivo X ou Y, não aderiu à greve. Mas sei que, quando o benefício vier, será para todos, e não apenas para quem cruzou os braços ou foi para as ruas”, afirma o professor e militante Diogo de Andrade.

A resposta do presidente do Tribunal de Justiça, o desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, foi o apontamento de irregularidades na greve, o que ocasionou uma multa de R$500 mil ao SEPE e R$5 mil aos seus diretores em caso do descumprimento da ordem lançada no dia 20 de junho, de interrupção imediata da greve e retorno dos profissionais ao trabalho. No dia seguinte, os profissionais levaram cartazes e faixas na frente da Secretaria Estadual de Educação, mas mesmo após seis integrantes do SEPE conversarem com o governador do estado, a reunião não resultou em um acordo.

A professora aposentada, militante da Construção Socialista e filiada do SEPE desde sua fundação, Maria Oliveira da Penha, afirma que todos os protestos são positivos e a existência deles prova que a democracia anda plena com o desejo de mudança.

“Queremos salvar as carreiras dos profissionais da educação, a escola pública é para os filhos dos trabalhadores. Nós não prejudicamos os alunos, são os governos quem os prejudicam e atrasam qualquer possibilidade de progresso no conhecimento. Greve só existe porque os governos não cumprem com os compromissos. Os professores deveriam ganhar como qualquer outro profissional. É sempre nossa última opção, uma greve, mas ela ocorre porque o governo não ouve, ou não negocia”, conta a professora.

Ela ainda diz que os alunos não são prejudicados pelas recentes ações, pois tudo é em prol de melhorias ao sistema educacional brasileiro. Segundo Penha, todos os conteúdos são dados aos alunos ao fim das manifestações e em nenhum momento as greves visam prejudicar os estudantes. O professor Diogo de Andrade corrobora:

“Não se alcança qualidade na educação por boa vontade. Se a educação é pública, é necessário investimento público. As consequências disso são escolas funcionando em situação precária, turmas superlotadas, professores adoecendo, abandonando a profissão, outros se aposentando por invalidez, isso sem falar nos funcionários, como cozinheiras, inspetores e secretários, que chegam a ganhar abaixo do salário mínimo nacional. A realidade é dura, mas a esperança nos manteve de pé até aqui.”

Atualmente, os professores continuam com a greve que já dura 42 dias. Com as suas demandas ainda sem resposta, os profissionais planejam mais uma paralisação em agosto, com mais informações sendo publicadas pelo perfil oficial da SEPE-RJ, no Instagram. 

Foto de capa: Acervo Pessoal/Diogo de Andrade

Reportagem de Camila Teixeira, edição de texto por João Agner

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2 comentários em ““Piso não é teto!”: Entenda o motivo das manifestações dos professores do Rio

  1. Avatar de Marcele Rocha
    Marcele Rocha

    Excelente matéria Camila Teixeira

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