Quem anda de metrô já deve estar familiarizado com as constantes apresentações artísticas durante a viagem. Enquanto parte da sociedade encara os espetáculos dentro dos vagões como algo importuno, uma outra parcela apoia e incentiva a arte em qualquer âmbito social. A verdade é que, cada vez mais, cantores, dançarinos, poetas e músicos invadem as estações de metrô para mostrar o que fazem de melhor: arte.
O professor e coreógrafo profissional, Wanderlino Martins, viu nas apresentações no metrô uma oportunidade para ganhar uma renda extra. “Começamos fazendo arte no trem, usando máscaras amarelas e dançando remix de músicas”, lembra. Segundo ele, depois de um tempo, os feirantes que trafegavam dentro dos vagões começaram a se assustar com o figurino, o que fez com que a ideia de se apresentar no trem fosse por água a baixo.

“Depois do lançamento de Pantera Negra, decidimos aderir as fantasias do personagem e do Homem Aranha, e o pessoal abraçou numa boa. Queríamos fazer a diferença nos transportes públicos, e trazer algo que despertasse a atenção das pessoas. Nós já éramos dançarinos de rua e queríamos vir com esse lance de entrar no público”, conta.
As calorosas palmas que ecoam dentro dos vagões não deixam dúvidas de que deu certo. Durante as apresentações, passageiros levantam de seus lugares para tirar fotos e filmar os heróis dançando músicas, que vão desde “Baby Shark” até os animados hits do momento.

Para além da arte, o coreógrafo revela a ambição de aprimorar suas habilidades no empreendedorismo, atividade na qual já exerce, investindo principalmente em figurinos para os personagens. “Ainda pretendo também estudar inglês e em breve cantar”, afirma.
Para agitar o público e quebrar a monotonia das cansativas viagens de metrô, Wanderlino ainda conta com a companhia de seu filho, Breno. “Ele já queria me acompanhar, e de início eu dei a ideia para ele se fantasiar de Homem Formiga, até que um passageiro do metrô perguntou por que ele não se vestia de homem aranha multiverso”, lembra o artista.

De acordo com o dançarino, é importante despertar a atenção das crianças e interagir com esse público. O pai se afirmou como uma inspiração para o filho, que durante o show acompanha os movimentos e interage com os demais passageiros do vagão. O resultado disso não seria menos que um grande sorriso estampado no semblante de dezenas de pessoas.

Mas nem tudo são flores. O coreógrafo relembra episódios de intolerância dentro do metrô. “Poucas vezes acontecem de os passageiros não gostarem de assistir às apresentações. Alguns pedem para abaixar o volume da música, e já aconteceu de um querer me agredir”, conta. Segundo ele, arrumar briga no metrô não é legal para a imagem dos artistas, então, nesse momento, é necessário dar razão ao passageiro.
A jornada de trabalho de um artista de metrô não é nada fácil. Antes de entrar nos vagões, é preciso analisar a situação e ver se o vagão se encontra cheio, ou se tem muitas pessoas no meio. A fim de garantir o conforto dos passageiros, o artista pergunta se alguém se sente incomodado com o espetáculo. Caso não, o show pode começar.
Devido à recente lei que proíbe a realização de apresentações artísticas dentro dos vagões, os profissionais tiveram que se readequar a certas medidas. Foi criado o “Palco Carioca”, uma iniciativa do Metrô Rio, com o objetivo de incentivar talentos e dar oportunidade para os músicos apresentarem seu trabalho ao público que transita pelas estações. Porém, devido à má localização da estrutura, muitos artistas acabaram não aderindo ao projeto, e continuam se aventurando dentro dos vagões.
“O nosso maior desafio é acordar e levar alegria aos passageiros. Às vezes, não estamos estimulados, mas precisamos achar um jeito de encontrar essa animação. Realmente, não é fácil encarar o público e sempre abrir aquele sorriso, ignorando qualquer outra coisa que estejamos passando. É preciso sempre levar tudo numa boa, mesmo as pessoas não colaborando para isso”, explica Wanderlino.
Gabriel Murillo Monteiro – 7º Período
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