Segundo a entidade, objetivo é verificar “realidade social” do Exame Nacional do Ensino Médio. Críticos falam em censura
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC), criou, nesta quarta-feria (20), uma comissão para fazer uma “leitura transversal” do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com a finalidade de assegurar a “realidade social” das questões.
O presidente Jair Bolsonaro já havia comentado, desde o período pré-eleitoral, sua ideia de retirar questões do exame, por considerá-las inadequadas (especificamente, ele criticava uma questão do último exame em que o dialeto usado por transexuais foi abordado). O blog de Renata Cafardo, repórter especialista em Educação de O Estado de São Paulo, questiona a medida: “MEC cria comissão para vigiar Enem“, diz o título de seu texto. Ela ainda complementa dizendo que o MEC nega que se trate de censura.

Para a coordenadora do curso de pedagogia, Viviani Anaya, essa decisão pode prejudicar o ensino dos alunos na questão ideológica. “O presidente Bolsonaro diz que há doutrinação marxista nos métodos freiriano das escolas, mas o que ele quer fazer é justamento impor o pensamento dele aos estudantes. Com a manipulação do Enem todas as questão sociais que ele critica serão, aos poucos, apagadas. É dever do Inep como uma instituição não se deixar levar e seguir os caminhos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A sociedade não é como ele vê: branca, militar e evangélica”.
Marco Antônio Barroso Faria, secretário de regulação e supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Antônio Maurício Castanheira das Neves, diretor de estudos educacionais do Inep, Gilberto Callado de Oliveira, procurador de justiça de Santa Cataria e representantes da sociedade civil serão os responsáveis pela revisão. Eles terão o prazo de 10 dias, a partir desta quarta-feira (20), para a conclusão dos trabalhos.
Segundo o Diário Oficial da União, há a possibilidade de recomendar a não utilização dos itens na montagem do exame, mediante justificativa. Todas as atividades serão realizadas no Ambiente Físico Integrado Seguro (AFIS) do Inep. Os membros da comissão vão assinar um Termo de Compromisso de Confidencialidade e Sigilo, para que o resultado não seja divulgado, de acordo com a portaria.

O estudante de design de moda, Bryan Lima, de 21 anos, acredita que essa decisão é desnecessária, pois as questões devem ser abordadas não só no Enem, mas também durante o Ensino Médio. “Geralmente as críticas do governo Bolsonaro são a respeito das causas sociais, por isso eles querem que essa revisão aconteça, para estarem no controle. Isso é uma maldade!”.
Já Carlos Daniel, estudante de ciências econômicas, de 19 anos, tem uma opinião diferente. Para ele, o conteúdo passado no Enem e no Ensino Médio devem ser imparciais. “Hoje nas escolas e no Enem, o aluno só aprende um lado da moeda, o que o professor quer ensinar. O jovem precisa saber os dois lados para formar sua opinião”.
O Enem será aplicado neste ano nos dias 03 e 10 de novembro. As inscrições abrem em 6 de maio e vão até o dia 17 do mesmo mês. Para os estudantes que vão pedir isenção da taxa de inscrição, o período é de 1 a 10 de abril.
Tainá Valiati – 7° Período

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