O segundo dia do Geek & Game Rio Festival começou na manhã deste sábado, dia 22, no Pavilhão 4 do Riocentro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. E a primeira atração do fim de semana foi o campeonato masculino de Counter-Strike: Global Offensive (CS-GO), na arena Gamer Stadium, entre as equipes Team One e ProGaming. Antes de o duelo começar, os times fizeram uma concentração, enquanto a torcida se acomodava nas arquibancadas. Bruno “bit1” Lima, da Team One, declarou estar surpreso pela grandiosidade do evento. Para encerrar a fala, o membro da equipe goiana desejou boa sorte a todos.
Apesar do espírito esportivo que tem prevalecido ao longo de todo o evento, as provocações estão sempre presentes. Os integrantes da ProGaming afirmaram, antes de a partida começar, que se os adversários “dessem mole, eles iam atropelar”. A partida sofreu um atraso de uma hora, porém isso não desestimulou a audiência, que acompanhava os últimos treinos e os ajustes de estratégia.
A equipe ProGaming começou na dianteira, por 4 a 3, mas, logo, a situação mudou, quando a Team One conseguiu derrubar três jogadores do time oposto de uma só vez, fazendo a plateia vibrar. O grupo de Goiânia seguiu na liderança da disputa por 8 a 6 – as jogadas elaboradas e frequentes da esquadra empolgaram a plateia, cuja torcida pôde ser ouvida por todo o pavilhão. A partida terminou com a Team One vencendo por 16 a 8. No segundo round, a equipe conseguiu se manter na liderança com folga, vencendo a disputa.

Logo após o início do campeonato, outro evento da programação do GGRF para este sábado atraiu um grande público ao abordar um assunto tido como unanimidade: o mundo de Walt Disney. O painel “Quadrinhos Disney: Ontem, Hoje e Sempre” reuniu o editor da Abril, Paulo Maffia, e o ilustrador Estevão Ribeiro no auditório Hiker Station para tratar as publicações da “Fábrica de Sonhos” e a influência dela no universo das HQ’s.
Mickey Mouse, Pato Donald, Tio Patinhas e Zé Carioca. Estes personagens clássicos já assumiram a posição de ícones desde o século passado, quando suas histórias saíram das telas para as tiras de jornais e gibis. Segundo Estevão, a questão da nostalgia é um dos principais fatores para o sucesso da marca. “É muito difícil encontrar alguém que não tenha crescido vendo desenhos, filmes, ou lendo histórias desse universo”, ele destacou.
O ilustrador também congratulou Paulo pelos vinte anos de dedicação à arte das histórias em quadrinhos. Outro ponto levantado foi a supremacia que a editora brasileira tinha sobre as publicações Disney nos anos 70, além da criação de personagens marcantes em solo nacional. “O Zé Carioca e seus primos foram nomeados aqui. E esse personagem teve um papel muito legal, que foi mostrar as favelas como comunidades e lugar de gente como a gente”, Paulo salientou.
De acordo com o editor, essas transformações vieram de um processo criativo característico de Karl Barth, criador do Pato Donalds: ele ouvia histórias e as transformava em quadrinhos. “Não tem como um personagem não sair bom quando você tem essa dose de verdade”, aponta Paulo, que aproveitou para enaltecer o trabalho brasileiro, e esclarecer que está fazendo o consumo de HQs cair. “Nós esquecemos os quadrinhos nacionais, e a produção diminuiu. Isso é uma tendência mundial.”

Justamente para resistir a essa onda é que a Disney sempre fez uso de temas mais sérios. Hoje em dia, existem personagens com depressão, outros corruptos, temas que não seriam falados há trinta anos. “Quadrinho Disney não é infantil. Nunca foi. Existem tiras em que Mickey Mouse tenta suicídio depois que a Minnie larga ele [sic]. Isso é impensável de se fazer hoje em dia”, avalia Paulo.
Sobre a recepção dos HQs como algo mais maduro, o mediador da conversa diz que via como uma evolução. “Você tinha que começar pela Turma da Mônica, aí sim passar pra Disney. Depois de um tempo a gente saía de lá e ia pra DC e Marvel”. Para preservar o interesse após a fase jovem, a Abril utilizou de uma estratégia moderna: se inserir em todas as plataformas digitais, e o editor conta que isso não fere as vendas nas bancas. “As pessoas voltam a ter contato ou passam a conhecer o material pela internet, e depois buscam uma edição especial. Você desperta seu interesse novamente e assim agarra o interesse dos público”.
E ainda mais no interesse do público está uma revelação que Paulo deu exclusivamente para o GGRF, o lançamento animado de um remake de Duck Tales, série dos anos 80 de sucesso absoluto. “A Disney está com um traço moderno, muito bem adaptado e depois que os produtores assistiram três episódios já garantiram uma segunda temporada. Vai ser sucesso certo”.
Ainda no tema de lançamentos futuros, Paulo contou que, em comemoração aos 70 anos do Tio Patinhas, haverá uma versão restaurada com as cores e fontes originais. Além disso, relançamentos dos manuais, Donald, Panchito e Zé Carioca com um desenho só deles, a coleção completa de Dom Rosa e uma coletânea de história do Pato Donalds como seu criador o idealizou, batalhador por seus sobrinhos e para sustentar sua namorada, Margarida. Paulo conclui com o que mais admira na versão original do personagem: sua persistência. “Ele não tem medo de dizer ‘Eu sou de Patópolis e não desisto nunca'”.
Logo em seguida, o Hiker Station recebeu o painel “Toontubers – Transformando Gameplays em História”, com Vivian Arias e Camila Ferreira. O Toontubers é um projeto do Cartoon Network, em que os personagens Rigby e Mordecai, da animação “Apenas um Show”, fazem gameplays – como verdadeiros youtubers. A ideia do projeto partiu de Vivian, após ela assistir diversos videos de gameplay e imaginar como seria se personagens do canal fizessem o mesmo. Os escolhidos – Rigby e Mordecai foram a escolha perfeita, de acordo com as idealizadoras do projeto.

O público, em sua maioria formado por crianças, assistiu atentamente à divertida apresentação. Camila contou que não tiveram recursos para iniciar o Toontubers, embora o projeto esteja atrelado ao Cartoon Network, e atribuiu grande parte dos feitos à criatividade da equipe. “A criatividade respondeu todas as nossas dificuldades na criação”, ratificou Vivian.
As duas também falaram sobre o processo de criação, da pesquisa de games que podem entrar nos episódios até a finalização, com a dublagem e estreia. O Toontubers é uma ideia brasileira que está sendo exportada para o restante da América Latina. Vivian e Camila são responsáveis pela tradução dos episódios, que é feita após a finalização da dublagem em português. Embora o produto seja nacional, ele foi validado pelo criador de “Apenas um Show”, JG Quintel, que assistiu, se divertiu com as piadas e referências, e aprovou o formato que utiliza personagens criados por ele.
Enquanto isso, acontecia o segundo dia do Desfile livre de Cosplay, que atestou a criatividade e o empenho dos visitantes desta primeira edição do Geek & Game Rio Festival. Fantasias coloridas, maquiagens inusitadas e muita animação. Parece até carnaval mas são só os cosplayers, pessoas que personificam suas personagens favoritas de jogos, animes, filmes e séries porque gostam de trazer a ficção para a realidade.

No Desfile Livre para Adultos a partir de 15 anos, não havia espaço para amadores. Isso porque mesmo sendo a primeira apresentação de alguns, todos os presentes levaram a sério seu papel e investiram como o nível profissional. Já que esta modalidade do dia não vale nenhum prêmio, era claro que as pessoas que estavam ali, ficaram por amor.
A apresentadora Lorelay Fox trouxe muita animação e entrevistou cada um dos participantes. Quando perguntou a um Batman de 39 anos a razão de estar naquele lugar vestido assim ele não hesitou “As pessoas ficam felizes quando me veem assim e é isso que eu quero ver”.
E, para mostrar que idade não tem nada a ver com vontade de se caracterizar, um senhor no alto de seus 50 anos veio de 12° Doctor Who. Lorelay perguntou o porquê dele se identicar mais com o décimo segundo, e ele brincou esbanjando juventude “São os cabelos brancos”. A genuinidade é contagiante e atingiu até mesmo o Super Sayajin Goku, que na vida real tem 29 anos e malha há dez. A apresentadora questionou sua forma física e amor pelo anime, mas ele logo esclareceu que via desde criança e por isso quis se vestir, mostrando toda a paixão de um cosplayer.
E um dos painéis mais esperados do sábado, e que encerrou a primeira parte do dia, foi “Quadrinhos como ferramenta de protesto”, com participação de David Lloyd – ilustrador do quadrinho “V de Vingança”, de Alan Moore -, Beliza Buzollo, Luciano Cunha, e mediado por Ana Cristina Rodrigues. A palestra colocou em pauta o uso de quadrinhos e ilustrações como uma maneira de se expressar politicamente, ainda mais no contexto político atual do país e do mundo.
Beliza – criadora do “Na Ponta da Língua”, que retrata o cotidiano de mulheres lésbicas e bissexuais – contou que o projeto começou a partir de um incômodo interno com o assunto. A ilustradora afirmou que não há como fugir do teor político ao publicar suas histórias. “Às vezes, a gente faz um quadrinho e ele acaba tendo conotação política.” Luciano Cunha, por outro lado, já possuía a intenção de politizar sua ilustrações. Ele é criador do quadrinho de 2010, “O Doutrinador”, anti-herói brasileiro que luta contra a corrupção. “Nos conflitos que a gente tem hoje, os quadrinhos são uma maneira de tratar da realidade”, diz. Seu personagem passou por uma mudança significativa em 2013 – o uso da máscara -, que antecedeu as manifestações no país daquele ano.
Lloyd também comentou a relação da figura do Guy Fawkes, personagem histórico que ganhou vida nos quadrinhos de Alan Moore, com movimentos sociais e política. “Ele adquiriu vida própria”, disse. A interessante reflexão do ilustrador sobre a situação política do mundo cativou a atenção do público presente. “O problema no mundo de hoje é que por mais que você proteste, já está tudo acertado. Não interessa em quem você vai votar porque é tudo controlado pelas corporações.”
A primeira parte do segundo dia de GGRF foi bem agitada e deu uma prévia do que viria ao longo da tarde e noite. Você pode conferir o que rolou na segunda parte da nossa cobertura aqui.
Beatriz Brito – 5º Período
Luana Feliciano – 5º Período
Thainara Carvalho – 5º Período
Roani Sento Sé – 7º Período
Caroline Pessoa – 5º Período
Iago Moreira – 7º Período
Daniel Deroza – 8 Período
Leonardo Marques – 8º Período

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