Cada vez mais o cinema nacional mostra que possui, sim, uma qualidade admirável e não está limitado apenas a dramas clichês com forte carga sexual e comédias cafonas com elenco de séries de TV. Sendo assim, nesta quinta-feira, chega às salas o longa cômico “La Vingança”, roteirizado por Thiago Dottori, Jiddu Pinheiro, Fernando Fraiha e Pedro Aguilera – este último, também responsável pela primeira série original Netflix brasileira, “3%”.
A trama segue os passos dos amigos Caco (Felipe Rocha) e Vadão (Daniel Furlan), que trabalham como dublês em São Paulo e, após o primeiro flagrar a namorada, Júlia (Leandra Leal), transando com o patrão, o chef de cozinha e apresentador de televisão argentino Facundo, acabam por embarcar em uma road trip – a bordo de Jorge, o amado Opala preto e amarelo de Vadão – até Buenos Aires, onde está o novo casal, com o intuito de se vingar dos hermanos, de forma geral, ou seja, ficando o maior número possível de mulheres argentinas.
A princípio, a premissa mostra-se machista e pouco original, no entanto, aos poucos, o espectador percebe que há mais por trás disso e que a produção é, na verdade, uma crítica ao machismo e à objetificação da mulher, ao apresentar personagens femininas interessantes e com camadas, e figuras masculinas inseguras e presas em uma eterna puberdade – nada mais que uma representação fiel à realidade.
Tratando-se do elenco, a produção é, sem dúvida, guiada por Caco e Vadão, que estabelecem de imediato uma relação de bromance que capta a atenção do público. Felipe Rocha se sai bem ao interpretar um trintão deprimido e sem muita personalidade, sem cair nas armadilhas que poderiam tornar a personagem entediante. Porém, sem dúvida, a força cômica de “La Vingança” está em Daniel Furlan, que mostra Vadão como uma vítima da velha “Síndrome de Peter Pan”, absolutamente sem-noção, malandro e desesperado para provar – talvez para si mesmo – a própria masculinidade.
Os passos da dupla estabelecem o trajeto que a trama percorre, seguindo-os a todo instante. Enquanto as demais personagens surgem no estilo clássico de um road movie: elas são as pessoas que os dois encontram pelo caminho. À exceção dos dois protagonistas e de Leandra Leal, o resto do elenco é composto por atores argentinos, que – principalmente, em relação aos homens – ajudam a desenvolver a velha rixa entre brasileiros e argentinos – em especial, na disputa pelo trono entre Pelé e Maradona. Nesta parte do elenco, os nomes que mais se destacam são Ana Pauls – como a noiva fujona Constanza –, Aylin Prandi – interpretando Lupe, uma cantora de personalidade forte –, Gastón Ricaud – que dá vida ao músico “infantilóide” Martin – e Adrián Navarro, que interpreta o chef Facundo.
Outro detalhe que chama atenção na produção é a obviedade da trilha sonora, que ao encontrar o matiz satírico da trama, dá ainda mais comicidade à história abusando de tangos e boleros, com direito até à clássica “Besame Mucho”. Além disso, mais um ponto alto do longa – pode passar despercebido pelo grande público – é a noção de transitoriedade: de onde aquelas pessoas que Caco e Vadão encontram pelo caminho estão vindo? Para onde vão? O que farão dali para frente? São perguntas que, na vida real, nem sempre são respondidas, e isso dá uma dose de verossimilhança ao filme.
O único ponto negativo do filme é o pouco tempo de tela de Leandra Leal – que, mesmo assim, consegue preencher muito bem os momentos em que surge em cena, deixando claro, novamente, o porquê é uma das figuras mais constantes e representativas do cinema nacional contemporâneo. Em suma,”La Vingança” é uma comédia, à primeira vista, despretensiosa, mas que, com o passar dos minutos – e dos quilômetros –, revela críticas e reflexões, as quais só funcionam justamente porque a trama não se leva a sério demais, revelando-se uma produção simplesmente hilariante, que acompanha as aventuras e desventuras de dois amigos em um road movie, o qual expõe a eterna adolescência masculina, mostrando, mais uma vez, que o homem é o verdadeiro Sexo Frágil.
Daniel Deroza – 5º Período

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