Comunicação Geral

Pela democracia no cinema

Na noite da última quinta, dia 16, o teatro Oi Futuro, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, recebeu os participantes de um evento mais que especial para o cenário audiovisual brasileiro. Trata-se da sétima edição do Festival Celucine de Micrometragens, uma mostra competitiva de filmes produzidos por meios de captação digital que tem como objetivo fomentar e democratizar a produção cultural não apenas no Brasil, mas também em outros países falantes de Língua Portuguesa e cuja entrada é gratuita. Este ano, 376 obras participaram da competição – sendo 27 animações, 262 de ficção e 87 documentários. Ao final do processo, foram selecionados cinco finalistas em cada categoria e coube ao júri escolher os vencedores. O corpo de jurados – que, nas edições anteriores, contou com nomes como José Wilker, Selton Melo, Dira Paes e Cora Rónai – foi composto pelo cineasta Marco Altberg – que é também o idealizador do festival –, pela atriz Natália Lage e pelo ator e diretor Roberto Bomtempo, que não pôde comparecer à premiação devido a outros compromissos de trabalho.

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Antes do começo da cerimônia – prevista para começar às sete da noite –, o público já ocupava o foyer do teatro à espera da abertura das portas da sala, e, enquanto isso, Altberg e Natália conversaram com a imprensa acerca do Celucine 2016. “A principal expectativa é que os premiados fiquem felizes de serem reconhecidos pelo seu trabalho, sua criatividade. Esse é um momento culminante do festival”, declara o curador do evento. Além disso, Marco afirma que a mostra é uma forma de abrir portas na carreira de produtores independentes. “O festival foi pioneiro das plataformas digitais ao estimular o usuário a ser o criador do próprio conteúdo e ainda incentivar o criador a entrar no mercado audiovisual. É um espaço de experimentação e verificação de capacidade, de potencial. Hoje, vários premiados e até mesmo selecionados nas edições anteriores trabalham no cinema nacional como diretores e roteiristas e o Celucine deu uma força para isso”. Altberg ainda conta que, por meio do festival é possível acompanhar a evolução das mídias digitais. “Hoje, as pessoas têm uma fluência, uma desenvoltura maior com esse ambiente digital e isso se reflete nos filmes apresentados”.

Sobre a experiência como jurada, Natália conta que é muito gratificante topar participar de um projeto que promove a democratização no âmbito audiovisual. “Eu fico muito feliz que existam festivais assim, eu acho que o cinema independente é fruto dessas investidas nesses novos tipos de ferramenta que a gente tem. O cinema está cada vez mais democrático, assim como todo o audiovisual, e a possibilidade de ter um festival que premie este tipo de iniciativa é muito legal porque fomenta o mercado, mobiliza as pessoas, estimula a criatividade. Então, para mim, foi uma experiência ótima”. Quanto aos filmes submetidos à competição, a atriz salienta a diversidade dos projetos, o que impossibilita a identificação de um perfil único entre produções. “Você percebe que tem gente que tem um olhar mais cinematográfico, que já tem uma identidade mais esboçada, outras pessoas são mais instintivas. Dá para identificar alguns traços em diferentes trabalhos, mas eu não sei se eu poderia dizer um traço específico de todos. Eu acho que cada um traz a sua individualidade. Talvez um traço que uma todos seja justamente a criatividade. Não é porque você tem poucos recursos ou não tenha um aparato muito sofisticado, não consiga criar coisas interessantes”.

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Marcela Siqueira (Impermanência) e Murilo Trevisan (Gerente de Marketing Digital da Certisign). [foto: Daniel Deroza/ Agência UVA].

Começada a cerimônia, os primeiros prêmios entregues pertenciam à categoria especial da Certisign, a patrocinadora máster do Festival, cujo tema era “20 Anos”, em comemoração ao aniversário da empresa. As condecorações de primeiro, segundo e terceiro lugar, foram concedidos, respetivamente, a: “Quase Ontem”, de João Niella – que ganhou um kit YouTuber –, “Distâncias”, de Pedro Eiras – ganhador de um vale-viagem –, e “Impermanência”, de Marcela Siqueira – premiada com uma GoPro. E, após a vitória, Marcela, que é atriz e realizou o début como produtora justamente com “Impermanência”, acabou por endossar a tão citada democratização do cinema. “A gente sabe a luta que é para produzir hoje em dia, então, o Celucine é uma forma de as pessoas terem acesso às produções e saberem que também podem fazer isso. Tem muito jovem, hoje, produzindo”, assegura Marcela. E Niella, da equipe de “Quase Ontem”, afirmou que pretende participar da próxima edição do festival, mas ainda não tem nenhuma ideia definida. “É importante a gente ter essa experiência. A gente está aqui para isso”. Já Pedro Eiras se mostrou surpreso com o prêmio: “Eu não esperava ganhar nada, então, é bem legal. E a gente já tem algumas ideias, então, eu acho que ano que vem a gente consegue voltar ao festival”.

Ainda antes da exibição e premiação dos 15 micrometragens selecionados, foram anunciados mais dois prêmios especiais, no valor de três mil reais, dos patrocinadores RioFilme e Canal Brasil. Os vencedores foram, respectivamente, “A Vida Maravilhosa de Elke Maravilha”, documentário de realização coletiva feito na Oficina de Vicência Audiovisual da Mostra do Filme Livre 2015, em Belo Horizonte, e a produção lusitana “Lata”, de Leandro Martins – que não pôde comparecer à premiação –, e também concorria na categoria Melhor Filme de Ficção. Então, após a entrega dos galardões extraordinários, foram revelados os vencedores das categorias oficiais, e quem pôs fim ao mistério – e ansiedade – de todos foi a atriz e jurada Natália Lage, que anunciou as produções escolhidas para levar o prêmio de quatro mil reais. Na categoria Melhor Animação, a eleita foi “Katabasis”, de Francisco Catão, que agradeceu à equipe com a qual trabalhou, destacando o longo processo de produção. Já na categoria Melhor Documentário, o grande vencedor foi a produção “Aquele 31 de Março”, de Daniel Mata Roque, que mostra diferentes pontos de vista acerca do Regime Militar Brasileiro. “É claro que fico muito satisfeito, mas eu acho que o mais importante é o tema. Embora eu seja cineasta, sou apaixonado por História e Educação, então vejo o cinema como uma ferramenta educativa. O grande barato do filme é a gente dar lugar para essa discussão, para escutar a nossa História, entender o Brasil e as grandes questões que assolam a vida e, talvez, a gente consiga responder, pelo menos no filme”, Roque declara.

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Evandro Manchini e Pedro Emanuel (#bolaprafrente). [foto: Daniel Deroza/ Agência UVA].

Finalizando, o último vencedor anunciado foi a produção carioca “#bolaprafrente”, na categoria Melhor Filme de Ficção, que desde de sua exibição ao público, já havia se tornado o franco favorito da audiência. A comédia de Evandro Manchini divertiu os espectadores ao tratar de forma quase nonsense o exagero cometido pela sociedade em relação às mídias sociais. “A ideia partiu muito disso: pensar algo que dialogasse com tudo isso que está acontecendo com as redes sociais, Snap, Instagram, todos os ‘grams’, de uma forma bem-humorada, porque eu acredito que o humor também é um caminho para refletir sobre os nossos excessos em relação a isso”, Manchini explica. E, para concluir a cerimônia, a atriz Natália Lage fez uma declaração que foi imediatamente aclamada por todos os presentes. E, assim, foi encerrada – com chave de ouro – a grande noite de premiações do Festival de Micrometragens Celucine 2016, uma ode à democracia no cinema lusófono.


Confira a lista completa de indicados:


  • Melhor animação:

UMA MENTE BRILHANTE, de Rafael Jardim (RJ);

PRESERVE, de Rodrigo de Azeredo (RS);

INTEROGATÓRIO, de Raul Fontoura (RS);

A BOLHA, de Rafael Rauedys (BA);

KATABASIS, de Francisco Catão, (DF);


  • Melhor documentário:

AQUELE 31 DE MARÇO, de Daniel Mata Roque (RJ);

ERILDO, de Douglas Guedes (RJ);

FILHAS DA SÍRIA, de William Gomes, Sthefany Fernanda, Juliana Passador e Igor Rechenberg (SP);

O SILÊNCIA DA SUA VIAGEM, de Armando Lima (RJ);

NÃO HÁ NADA ESCRITO NA TESTA ALÉM DE AMOR, de João Lima (SP);


  • Melhor filme de ficção:

#bolaprafrente, de Evandro Manchini (RJ);

8, de Samuel Moreira (SC);

LATA, de Leandro Martins (PT);

TEM WI-FI?, de Coletivo (PE);

CORRER É OLHAR E FLUTUAR, de Nira Lima (RJ);


  • Prêmio Certisign:

1º) QUASE ONTEM, de João Niella;

2º) DISTÂNCIAS, de Pedro Eiras;

3º) IMPERMANÊNCIA, de Marcela Siqueira;


  • Prêmio Riofilme:

A VIDA MARAVILHOSA DE ELKE MARAVILHA, de Oficina de Vivência Audiovisual;


  • Prêmio Canal Brasil:

LATA, de Leandro Martins (PT);


Daniel Deroza– 4º Período

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