Na última sexta (20) o auditório do campus Tijuca da Universidade Veiga de Almeida recebeu os participantes da “XII Luta Antimanicomial”, um evento anual que tem como objetivo destacar a importância dos novos métodos de tratamento mental, além de reafirmar os princípios da reforma psiquiátrica, iniciada nos anos 70.
Logo no período da manhã, houve um debate a respeito da relevância da arte como parte da terapia de pacientes com transtornos mentais. Aproveitando a deixa, foi apresentado um vídeo com trechos do recém-lançado filme “Nise – O Coração da Loucura”, o qual mostra um recorte da vida da doutora Nise da Silveira, conhecida internacionalmente por revolucionar a Psicanálise.
Pelos fragmentos mostrados, fica claro como a arte-terapia é muito mais eficaz do que outras técnicas que eram bastante utilizadas até as últimas décadas do século passado, como a lobotomia e a convulso-terapia, que causam sequelas permanentes nos indivíduos.

O debate contou, ainda, com a presença ilustre de Antônio Quinet, psicanalista autor do livro “Teoria e Clínica da Psicose”. Ele também é dramaturgo, sendo o nome por trás da peça “Hilda e Freud”, que trata das sessões do pai da Psicanálise com sua mais famosa paciente, a poetisa Hilda Doolittle.
Ao subir ao palco, Quinet falou um pouco sobre o Hospital Psiquiátrico Pedro II, onde Nise trabalhou; ele contou que conheceu o local e que os pacientes mostrados na película são citados nominalmente, ou seja, nome e sobrenome reais foram usados. Antônio contou, também, que naquela época – por volta dos anos 40 e 50 – existiam muito manicômios particulares. “A indústria da loucura, felizmente, não existe mais”, comemora o autor.
No entanto, o escritor se mostrou chocado com o fato dos eletrochoques estarem voltando a serem utilizados – “com carga reduzida, é verdade, mas não deixa de ser preocupante”. E, para encerrar, Quinet ressaltou que “a clínica da reforma psiquiátrica é a clínica psicanalítica, que trata o indivíduo como sujeito e não como objeto”.
No período da tarde, o auditório se transformou em um “cinema” com a projeção da peça de Antônio Quinet, “Ar Tor Quato”, que fala sobre a vida do poeta Torquato Neto. Após a exibição, um breve bate-papo foi feito acerca da montagem, que lança mão do jogo de palavras, brincando com a linguagem, para mostrar que viver seria driblar a loucura a cada dia.
A arte da loucura
Depois dos acontecimentos da manhã, os participantes da XII Luta Antimanicomial foram convidados a se dirigirem ao Salão Preto, onde verdadeiros pacientes de clínicas psiquiátricas puderam expor seus trabalhos, os quais incluem pinturas em telas, esculturas e outros tipos de obras artesanais.
Na hora do almoço, a exposição foi ‘invadida’ pelo “Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana”, composto por indivíduos em tratamento, os quais tocaram instrumentos, cantaram e dançaram ao som da bateria, o que animou o grupo que se deslocou do auditório para vê-los e chamando a atenção do resto da universidade, causando uma verdadeira comoção. Em seguida, o bloco se dirigiu à Vila Universitária, para encerrar o ‘desfile’.

No turno da noite, o grupo “Loucos por Arte” foi convidado a subir ao palco para realizar a aguardada oficina de música. E, ao longo do “mini-show”, os integrantes tocaram grandes sucessos de cantores brasileiros, como Tim Maia e Legião Urbana, além das canções autorais “Zé Lelé” é “Tarja Preta”; o público, muito animado, se levantou das poltronas, dançou, cantou junto e ainda pediu bis.
Depois, o grupo artístico apresentou uma pequena montagem teatral – sem título – na qual o personagem Felizardo, um paciente de um Centro de Atenção Psicossocial (CAP), no ano de 2050, que recebe a visita de um viajante do tempo que o leva para conhecer a realidade dos manicômios, que surpreendentemente ainda estão em funcionamento em pleno 2016.
Após os aplausos fervorosos recebidos pela peça, foi realizada uma breve gincana, na qual os presentes deveriam responder a perguntas acerca de tópicos relativos à Luta Antimanicomial e, os que acertassem, ganhariam um livro de Antônio Quinet, que estavam expostos na área externa do auditório desde a manhã. Quatro pessoas foram contempladas pela brincadeira ao final de um dia que deixou uma mensagem muito importante: “Não se deve lutar contra manicômios com muros, mas sim contra cabeças manicomiais”.
Daniel Deroza– 3 Período
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