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Ideologia Miscigenada

“O dia em que cada um de nós negros pararmos e termos consciência da nossa história, vamos entender a sua grandeza”. Com esta frase, Januário Garcia, fotógrafo, abre a exposição “Diásporas Africanas na América do Sul – Uma Ponte sobre o Atlântico”, um ensaio fotográfico feito para provocar a reflexão e questionar a ignorância do, ainda vigente, racismo brasileiro. A mostra ficou em exibição no Centro Cultural João Nogueira, o Imperator até domingo (22) e fez parte de uma programação especial dedicada ao Dia da Consciência Negra.

Capoeira

A programação incluiu shows de grandes personalidades, como Margareth Menezes e BNegão, workshops interativos, a exemplo da Oficina de Turbantes, e um Sarau com o Grupo Senzala. O intuito do evento era celebrar as manifestações culturais afro-brasileiras, seu valor e contribuição para o país. Já o Ensaio Fotográfico ficou exposto por três dias e mostrou santas e pessoas negras ao redor da América do Sul quebrando estereótipos e demonstrando sua rica cultura.

Maroon de SantigronO fotógrafo responsável pelo conjunto da obra é Januário Garcia, que intitula seu recorrente tema como “A Fotografia e a Militância Negra” e a “A Fotografia e a Estética Negra”. Há trinta anos ele tem documentado a vida dos brasileiros afrodescendentes, focalizando diversos aspectos de suas vidas, o social, o político, o cultural e o econômico. “Eu nasci preto e me tornei negro para lutar contra o racismo e pela construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna”, conta o profissional.

Uma das fotos expostas foi feita no Uruguai e é intitulada de “Chimarrão Tche”. Ela acaba com a preconcepção de que uruguaios e sulistas brancos são os únicos que apreciam um bom chimarrão. Já aquela tirada na Cidade de Lumbalú na Colômbia nomeada “Cortejo do Morto” mostra uma cultura pouco reconhecida que homenageia seu ente querido com uma dança, guiando o caminho. Representando o Brasil, a foto ”Balangandãs” mostra uma baiana com amuletos pendurado em uma corda, utilizado para afastar o mau-olhado e as forças negativas.

Frase 2

Para promover uma reflexão ainda mais impactante, três frases são colocadas entre algumas das fotos. A frase “Para nunca esquecer: Negros não são descendentes de escravos, negros são descendentes de africanos que foram escravizados”, escrita pelo fotógrafo responsável pela mostra, se destaca. Esta instiga o público a pensar sobre como o racismo de fato ainda está embebido na essência da sociedade, quando negros são continuamente chamados de “descendentes de escravos”, sem levar em conta o contexto histórico que levou a escravidão.

Para definir o ensaio fotográfico, o artista explica que “a cultura de matrizes africanas diásporica é o conjunto de manifestações culturais que se manifestam em diversos países onde haja os afrodescendentes que herdaram essa influência dos tempos coloniais até a atualidade. Essa pequena mostra, nesse conjunto de fotografias, nos mostra um pouco do dia-a-dia dos afrodescendentes sul-americanos na sua reconstrução da dignidade, desenvolvimento da autoestima e a sua maneira de ser, agir e pensar”.

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A exposição no Imperator e a programação especial do Dia da Consciência Negra acabaram, mas a reflexão que elas propõem é muito maior que um feriado. O racismo ainda é uma ideologia existente no mundo, o que demonstra a ignorância e incapacidade de raciocínio daqueles que a veem a discriminação como algo bom ou necessário. Espera- se que a humanidade possa evoluir ao ponto de banir esse pensamento e como Januário Garcia demonstrou em sua coletânea, celebrar as diferenças raciais e culturais de um mundo miscigenado.


Luana Feliciano – 2° Período

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