Correria, dinâmica e agitação. Estas três palavras definem muito bem o que ocorre no centro da cidade do Rio de Janeiro todos os dias úteis. Mas e se essas palavras não precisassem serem ditas, simplesmente observadas? A exposição “Rio Quatro Cinco Zero: Crônicas da Cidade pelo traço de Marcelo Gemmal” traz esta visão de que há beleza no fervor de um bairro. A mostra fica no Centro Cultural Justiça Federal até o dia 29 de novembro. De terça a domingo de 12h às 19h, o público poderá percorrer as trinta e três obras que contemplam o dia-a-dia de milhares de pessoas, além de um vídeo com explicações do próprio pintor.
A Agência UVA teve a honra de entrevistar Marcelo Gemmal e descobrir ainda mais sobre a exposição, seus minuciosos detalhes, influências e a profissão paralela do artista, que é professor do curso de Arquitetura e Design na Universidade Estácio de Sá.

Agência UVA: Por que você escolheu este tema?
Marcelo Gemmal: Há dez anos, eu só pinto o centro do Rio de Janeiro porque eu passei a trabalhar com mais intensidade e fui capturado por essa infinita provocação da nossa cidade. O centro é tão pouco visto dessa forma. Viemos aqui para trabalhar, não para “ver”, principalmente hoje em dia que as pessoas estão olhando mais pra baixo, para o celular, observando pouco.
AU: Quem é o cachorrinho que aparece em tantas obras?
MG: O cachorrinho era a Aquiles, minha cachorrinha que pintava comigo de madrugada. Na verdade ela já morreu então eu quis fazer essa homenagem pra ela. Mas tem uma razão um pouco além dessa. Eu precisava representar, entre outras coisas, o indivíduo, então eu a usei. O símbolo do individual, da célula indivisível foi ela. Era melhor do que pegar um homem, uma mulher ou uma criança, alguém negro ou branco, porque aí representou uma célula, não sendo unicamente de um jeito ou de outro.

AU: Qual dessas obras você gosta em especial?
MG: Essa exposição foi gerada como uma obra inteira. Uma tela, na minha maneira de ver, ela não faz tanto sentido destacada das outras. Então existe um contexto em que elas se interligam, uma leva você a ver a outra. Inclusive a presença das serigrafias, a gente observa como se as telas fossem textos corridos, e as serigrafias: pequenas observações ou vírgulas. Mas, basicamente, a gente tá falando da célula, da estrutura, desse movimento e desse organismo que é a cidade.
AU: Alguém inspira o seu trabalho?
MG: Ah muita gente! Não uma pessoa em especial, mas eu tive meus mestres muito queridos, além da arte brasileira que é tão rica. Mas também tive influências desde a infância de desenhos animados, história em quadrinhos e, enfim, todos os grandes mestres da escola francesa, uma série de pessoas. Em matéria de influência isso é um liquidificador vivo aqui dentro.
AU: Como você balanceia a profissão de professor com a de pintor?
MG: Eu acho que os dois se complementam e é ótimo, porque quando a gente é posto a prova, quando bota a cara a tapa, eu chamo todos os meus alunos porque é a hora deles me darem nota, né? Então é uma inversão e ao mesmo tempo é um caminho. Eles estão vendo que eu também estou aprendendo, passando por um processo de aprendizagem e eu estou completando a minha existência dessa forma.
AU: Qual é a maior lição que você quer que as pessoas levem daqui?
MG: Que precisamos parar em alguns momentos. São nas pausas que a gente identifica caminhos para seguir em frente. Então o que isso vem me mostrar é que não existe um ponto final, as coisas vão sempre se transformando e te mostrando novos caminhos, temos que estar atentos e dispostos a trilhar.
Mostrando que a cara do Rio de Janeiro é mais do que suas belezas naturais, a exposição traz uma percepção atual e realista de como esta cidade realmente funciona. Não perca a oportunidade de presenciar a “Rio Quatro Cinco Zero”, que traz reflexão sobre os perigos da velocidade em que deixamos a vida passar e a conclusão de que mesmo assim, jamais deixamos de ser uma cidade maravilhosa.
Luana Feliciano – 2° Período
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