Dicotomia é a divisão de um conceito em dois elementos, em geral contrários. Esta definição está intensamente relacionada à nova exposição do Imperator, no Centro Cultural João Nogueira. A Razão Inversa (do quadrado da distância) por Fuso Coletivo ocorre até o dia 10 de janeiro de 2016 e promove reflexão, despertando o senso crítico e incentivando a compreensão das brigas expostas.
Entre a Rua Dias da Cruz e a entrada do Imperator, há um longo corredor salpicado por lojas de pequeno porte. É neste corredor, do lado direito, e na maior parte de sua extensão, que se encontra o grande painel que atrai a atenção de quem passa por ali. Tratam-se de 13 duplas em uma batalha física, com dizeres em suas camisas que se contrastam. Esta antítese de ideias talvez não fique clara olhando somente de relance, mas basta um pouco mais de reflexão para se interpretar o que está se propondo.
Um bom exemplo é a dupla Bolsa Família x Chain Louise. “O programa Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e extrema pobreza no país”, explica a jornalista da Carta Capital Marsílea Gombata. Já a Chain Louise é uma famosa marcada de bolsas afiliada a francesa Louis Vuitton. Tendo em mente estas duas informações, a contradição é clara: uma disputa entre os que sofrem da fome e miséria, sem dinheiro algum, e os absorvidos pelo consumismo, com tanto dinheiro.
Artur Kjá e Luciano Cian formam o Fuso Coletivo e falam sobre a intenção do projeto e o que querem passar àqueles que o veem: “O painel lança um holofote sobre as discussões e desentendimentos tão pungentes no cenário político-social dos dias atuais. Essa polarização mostra uma sociedade dividida pelas mais diversas questões, revelando a nossa fraqueza em aceitar outros pensamentos ao restringir os diálogos a uma grande “batalha” de ideais”, revelam.
Os organizadores do Imperator também falaram sobre a ideia de trazer a mostra para o espaço que não fica exatamente dentro do Centro Cultural. “Para provocar no nosso público e nos transeuntes da Dias da Cruz a arte acima de tudo, como uma forma de comunicação e expressão, inauguramos esta iniciativa com a obra do Fuso Coletivo. Esta é apenas a primeira de inúmeras formas de ocupação que pretendemos trazer para o espaço. Com isso, aumentamos as possibilidades de artistas se expressarem, do público ter contato com eles, com a arte deles e com a arte de maneira geral”. A ideia foi de alcançar o público que não tem tempo para entrar, ou não conhece o mundo de possibilidades localizadas no interior da galeria, e a razão para tentar mudar isso é simples: “Porque acreditamos no poder transformador da arte”.
O painel possui ainda combates entre frases clássicas e sua versão traduzida para os tempos atuais como é o caso de: Sexo, drogas e Rock’n’Roll, que, inteligentemente na imagem, perdia a luta para Tinder, Wapp e Snapchat. Entre tantas batalhas reais, ideológicas e trocadilhos inteligentes, o painel é uma oportunidade de se desafiar a compreender cada um e estimular o pensamento e a crítica aos ideais colocados na frente do visitante.
Luana Feliciano – 2° Período
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