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Freud: 100 anos dos escritos metapsicológicos

Em homenagem à comemoração de 100 anos da metapsicologia, a Universidade Veiga de Almeida foi palco do I simpósio interdisciplinar dos programas de pós-graduação em psicanálise, saúde e sociedade, nessa última sexta (2). A programação se dividiu em três etapas, contando com a participação de professores, mestres e doutores da área de psicologia, nos quais abordaram diversos assuntos baseados na visão freudiana.

Na abertura a coordenadora da primeira mesa de debate, Ana Rudge, esclareceu que a metapsicologia diz respeito às obras formuladas por Freud no contexto da psicanálise. Entre os textos estão “Pulsões e seus destinos”, “O recalque”, “O inconsciente”, “Complemento metapsicológico à teoria dos sonhos” e “Luto e melancolia”. Depois o professor da UERJ, médico, psiquiatra e psicanalista, Benilton Bezerra, falou sobre como a psicanálise se adaptará para atender as demandas da sociedade. “O ímpeto da psicanálise na cultura está em decréscimo e todo mundo sabe disso. São poucos os lugares em que o psicanalista ainda tem uma transferência social, com já houve há 30 anos”, desabafa o especialista.

Benilton relembra que os textos de Freud foram escritos no contexto do século XIX, quando a divisão entre ciências da natureza e humanas se estabilizou. Até esse período, os pensadores, como Descartes e Copérnico, acreditavam no uso exclusivo da ciência para compreender os fenômenos. Freud cria a psicanálise para criticar a teoria anterior e com o objetivo de explicar aspectos subjetivos, como a experiência humana e o não material. “Ciência para Freud não era uma aplicação rotineira de métodos consagrados, mas sim uma interrogação permanente sobre a vida”, esclarece o palestrante.

Benilton Bezerra, Ana Rudge, Perla Klautau e Monah Winograd.
Benilton Bezerra, Ana Rudge, Perla Klautau e Monah Winograd.

Já Perla Klautau, pós doutora em psicologia e professora do programa de pós-graduação da Universidade Veiga de Almeida, tratou do método psicanalítico e as suas extensões. “O tema que vou falar é o mesmo que venho desenvolvendo com o meu grupo de alunos de mestrado, doutorado e da graduação que fazem o PIC UVA. A ideia é que o método psicanalítico seja usado por nós psicanalistas fora dos consultórios privados”, menciona a doutora. A análise sobre o método de Freud é realizada pela oradora a partir do livro “O homem dos lobos”, o qual conta como foi a experiência do psicanalista, ao lidar com um caso raro de paciente.

O homem em questão seria um aristocrata russo, diagnosticado por psiquiatras renomados como portador de psicose maníaco depressiva. Desde os 18 anos o paciente vinha se tratando, porém não obteve sucesso. Uma vez que Freud começa a auxiliá-lo, percebe a história de neurose infantil do paciente e usa da psicanálise para investigar o motivo do trauma. Após mais de quatro anos de tratamento O homem dos lobos foi considerado curado. Perla acrescenta também um pensamento de Freud em reação à paciência necessária. “Em alguns casos, o médico não tem nada a fazer a não ser esperar o fluxo natural do paciente. Essa é a parte do trabalho que tem maior eficácia e que distingue o psicanalista dos outros”, disse a professora.

A pulsão de morte na clínica e a potência dupla do irrepresentável foi o tema debatido por Monah Winograd, professora da PUC-RIO e doutora em teoria psicanalítica pela UFRJ. Ela expôs uma pesquisa que tem como objetivo analisar a forma que os pacientes com problemas neurológicos lidam com os traumas, com base nos conceitos de psicanálise e neurociência. O conceito de pulsão de morte está associado a um sentimento negativo que pode ser manifestado pela agressão ou autodestruição do indivíduo. Essa característica foi observada por Monah na clínica em que trabalha em alguns pacientes. “Alguns pacientes não tinham o ímpeto para a positividade. A partir daí, pesquisei sobre como agir com aqueles que se fechavam, de modo a negar a interação conosco”, relata a doutora.

Monah Winograd
Dra. Monah Winograd

Quando Monah se refere ao conceito de “potência dupla”, esclarece que há dois efeitos possíveis da pulsão de morte. “De um lado há os movimentos paralisantes, expressando um fechamento. Por outro lado havia um esforço subjetivo de um processo de criação e construção de uma diferença. Percebemos que essa mesma repetição pode ser também um esforço de abertura do paciente, uma reação positiva”, explica a palestrante. Então, Monah conta que, na clínica, ela percebe e trata em qual dos casos o paciente se enquadra.

A segunda mesa contou com Márcio Silva, professor da Universidade estadual de Campinas, tradutor e crítico literário. O tema tratado foi psicanálise, história e política, com base no conceito de trauma. “Eu peguei especificamente o texto de Freud, onde ele vai tratar a questão da teoria das massas, pensando a população como manipulável pelos políticos e ele vai interpretar isso como antevista psicanalítico, porque é extremamente interessante e atual”, disse o professor.

Ricardo Goldenberg, graduado em psicologia, discorreu acerca da indiferença dos psicanalistas em matéria de política. A apresentação dele se pautou em um programa de trabalho de pesquisa, desenvolvida pelo palestrante, cujo pensador baseado fora Lacan. Ricardo comentou a respeito da psicologia de massas do “EU” e do “EGO”, além de abordar aspectos da religião, interligando com o tema tratado. Já Betty Fuks, professora do programa de mestrado da Universidade Veiga de Almeida e doutora em comunicação, tratou do tema metapsicologia e política. Para analisar os dois termos a professora teve como base “O homem Moisés e o monoteísmo”, de modo a discutir aspectos, principalmente, políticos.

Por mais que na cultura atual, do imediatismo e da rapidez, possa parecer que a psicanálise é algo ultrapassado, é necessária para entender como as pessoas se constituem, como funcionam na vida subjetiva coletiva e como agem, sobretudo, nos aspectos que não estão claros (inconsciente). O fundamental da psicanálise é que os seres humanos são determinados por muito mais do que aquilo que eles são capazes de reconhecer”, finaliza Benilton Bezerra.


Luiza Esteves- 4º período
Thiago Cortes- 2º período

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