Entrevistas

“Nunca houve um homem como Heleno”

 Heleno

Marcos Eduardo Neves conta a história do craque da bola da década de 40, que até hoje impressiona e vai virar filme. 
Gênio difícil, fama de mulherengo, membro da alta sociedade. Não se trata de um galã de cinema, mas sim um dos maiores jogadores de futebol dos anos 40. Esse era Heleno de Freitas, venerado pelas jogadas perfeitas, indomável dentro e fora de campo e com um desfecho de carreira improvável. Heleno morreu de sífilis, louco, em um hospício, aos 39 anos.

Ao saber da história singular, o jornalista Marcos Eduardo Neves, do Jornal do Brasil, que tem mais dois livros publicados – “Anjo ou demônio: a polêmica trajetória de Renato Gaúcho” e “Vendedor de sonhos: a vida e obra de Roberto Medina” – não pensou duas vezes. Transformou a vida de Heleno numa obra literária. “Nunca houve um homem como Heleno” foi publicado pela Ediouro em 2006 e vai virar filme, com Rodrigo Santoro no papel principal.

AgênciaUva: Como você teve a idéia de escrever o livro?
Marcos Eduardo: Não conhecia a história. No prefácio do meu primeiro livro (Anjo ou demônio, Editora Gryphus, 2002), o veterano cronista Luiz Mendes sugeriu que, depois de escrever sobre o polêmico Renato Gaúcho, eu escrevesse sobre Heleno de Freitas. Comecei a buscar dados sobre Heleno na internet e me apaixonei pela densidade do personagem.

AgênciaUva: Quanto tempo durou o processo de apuração?
Marcos Eduardo: Como já tinha experiência por fazer um livro, este durou menos tempo; porque eu já conhecia o processo, não foi um aprendizado. Ao contrário do primeiro, que durou dois anos, fiz o Heleno em seis meses. Só que depois surgiu a produtora que vai filmar o Heleno e ela me contratou para ampliá-lo um pouco mais. Assim, no total, gastei 10 meses na elaboração da obra.

AgênciaUva: Por que o Heleno?
Marcos Eduardo: Gosto de escrever sobre personagens nacionais. Foi assim com o Renato Gaúcho, que todo o país conhece, gostem ou não. Acho que um bom personagem tem que ter o que dizer. E os polêmicos são os melhores. Alguém certinho, como o Zico e o Kaká, são dignos de aplausos, mas a leitura fica meio sem graça. Já com os polêmicos há um nocaute por parágrafo.

AgênciaUva: Quando você ouviu falar a primeira vez sobre ele?
Marcos Eduardo: Quando era pequeno, gostava muito de futebol, e diziam que se o Heleno jogasse a Copa do Mundo de 50, que foi realizada no Brasil, nosso país não seria vice-campeão. E o Heleno só não jogou porque já estava louco.

AgênciaUva: Qual história do Heleno você acha mais fascinante?
Marcos Eduardo: O fim dele. Um personagem temperamental mas grã-fino, da alta sociedade, que falava línguas, tinha terno cozido pelo alfaiate do Getúlio Vargas, freqüentava cassinos, boates elegantes, tinha cadillac na garagem, e de repente fica louco, viciado em éter e padece num manicômio por cinco anos até falecer, deformado.

AgênciaUva: Cite uma palavra para definir Heleno. Por quê?
Marcos Eduardo: Destino. Como diz o Armando Nogueira, o Heleno jogou a própria vida, num match sem intervalos, entre a glória e a desgraça.

AgênciaUva: Como surgiu a idéia do filme?
Marcos Eduardo: Enquanto eu pesquisava para o livro, um grupo de pessoas elaborava um projeto. Tal projeto aliaria livro mais filme. Enquanto eles viabilizavam o filme, apareci com o livro. Já conheciam trabalhos meus. Acabei me associando ao projeto e meu livro, assim, foi lançado por uma das três maiores editoras do país, o que foi maravilhoso profissionalmente para mim.

AgênciaUva: Você acha que quem for assitir ao filme vai se surpreender com a história?
Marcos Eduardo: Tenho certeza disso. Embora o Heleno tenha morrido em 1959, quase 50 anos depois estamos nós falando dele. O mito sobrevive, e com ele não é diferente. Muitos irão ao cinema para ver o Rodrigo Santoro, mas descobrirão um grande personagem. E assim o mito perpetuará por outras gerações, já que a história do Heleno é épica e trágica. Praticamente uma epopéia.

AgênciaUva: Como surgiu o nome de Rodrigo Santoro para o papel principal?
Marcos Eduardo: Heleno era bonito, bom jogador, era tido como o Rodolfo Valentino de chuteiras. O Santoro também tem um tipo que atrai as mulheres e adora futebol. O Heleno morreu louco e um dos grandes trabalhos do Rodrigo foi no “Bicho de Sete Cabeças”, em que ele vai para um manicômio. Ou seja, ator mais capacitado, não há.

AgênciaUva: Você escreveu também uma biografia do Renato Gaúcho. Existe mais algum jogador que você gostaria de contar a história? Por quê?
Marcos Eduardo: Sinceramente, depois do Heleno penso que jamais descobrirei um personagem tão denso no mundo do futebol. Heleno era craque como Romário, bonito como Leonardo, inteligente como Sócrates, de boa família como Kaká, elegante como Falcão, temperamental feito Edmundo. Não pretendo escrever sobre jogadores mais, só que nunca digo nunca. Estou em busca de histórias mais amplas. Futebol é bom, mas limita público. E o Heleno me possibilitou ampliar o leque.

AgênciaUva: Existem poucas publicações sobre esporte. Você acha que faltam mais escritores ou incentivo?
Marcos Eduardo: Não há poucas publicações. Há pouca procura. Só um Ruy Castro ou outro consegue fazer de livro de esporte um best seller. Geralmente publicam 500, mil exemplares, e quando se vende não reimprimem. O problema maior de fazer literatura neste país é falta de leitores. Escritor temos em abundância. Alguns, bons demais.

Juliana Machado • 6º Período • Jornalismo Digital

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4 comentários em ““Nunca houve um homem como Heleno”

  1. Avatar de Bitt

    Olá, Luciana.
    Parabéns pela entrevista. Pela oportunidade, pelo assunto. E porque sou botafoguense. Vou falar com a Erica para encaminhar a entrevista a jornais do estado do Rio pela Agência UVA.
    Bitt

  2. Avatar de Gabriel Peres

    Muito boa a entrevista, parabéns! Apesar de tricolor, fiquei bastante curioso sobre a história desse jogador que pouco conheço e realmente pareceu ser bem interessante.

  3. Avatar de Cozta

    Muito bom. Espero que no cinema o Santoro dê densidade que pede um personagem como esse. Parabéns Jú!

  4. Avatar de Simon Harquebuss

    Muito boa a entrevista !

    Só faltou dizer quem … brincadeirinha ! Gostei ! bjs

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