Nos espaços dos fãs – os fandoms – é natural ver pessoas defendendo as suas personalidades favoritas como se estivessem protegendo alguém de sua família ou um amigo muito próximo. Quando se trata de questões políticas, não poderia ser diferente.
A influência de figuras públicas no cotidiano de pessoas comuns não é novidade. Isso pode ser visto na forma em que as pessoas se vestem, no que comem e nos lugares que frequentam. Com embates políticos tensos em andamento ao redor do mundo, o poder que cantores, celebridades e criadores de conteúdo tem sob os seus públicos ganha destaque.
Kayleigh Rose Amstutz, mais conhecida como Chappell Roan, é uma cantora, lésbica, americana, de 27 anos. Após anos de tentativas, ganhou seu lugar na frente dos holofotes quando seu álbum de estreia “The Rise and Fall of a Midwest Princess” (A Ascensão e a Queda de uma Princesa do Meio Oeste, em tradução livre) viralizou nas redes sociais em 2024, um ano após o seu lançamento.
Figura polêmica por natureza, Chappell Roan nunca pensou duas vezes antes de falar sobre qualquer assunto, seja em vídeos curtos para as redes sociais, ou durante premiações, como aconteceu em seu discurso após ganhar o Grammy de Melhor Artista Revelação em 2025.

(Foto: Reprodução/Instagram)
Após falar abertamente sobre diferentes causas, como o direito de pessoas LGBTQIAPN+, a guerra em Gaza e liberdade reprodutiva, Roan afirmou durante entrevista ao podcast Call Her Daddy, apresentado por Alex Cooper, que as pessoas passaram a esperar que ela fosse “educada” sobre diversos outros assuntos.
“As pessoas esperam que eu desempenhe diversos papéis por ser lésbica e que eu deveria ser mais politicamente correta sobre isso”, ela compartilhou. “Eu não sei tudo sobre todos os tópicos que eu tenho opiniões. Eu não sei tudo sobre ser lésbica. Eu não sei tudo sobre ser mulher. Eu não sei tudo sobre moda, ou drag, ou sobre performar”, afirma a cantora.
Chappell continua questionando, “Como essas garotas conseguem fazer turnê, escrever, performar, dar entrevistas, dormir, comer e malhar? Como elas conseguem fazer tudo e serem tão educadas politicamente?”
“É exaustivo”, responde Alex Cooper. “E é impossível”, retruca Chappell Roan.
As falas da cantora partem de um ponto de vista diferente do público geral, sendo ela a pessoa cobrada por dar opiniões – ou pela falta delas. Chappell reivindica o direito dos artistas de não se posicionarem, defendendo que nenhuma pessoa é obrigada a saber sobre tudo.
Embora expressar essa opinião cause grande repercussão nas redes sociais, é inegável que o comportamento dos fandoms em relação aos posicionamentos de influenciadores, cantores, ou atores deve ser cauteloso.
Influenciados pelo vínculo parassocial desenvolvido, muitas pessoas tendem a puramente reproduzir o posicionamento dos famosos que acompanham, mesmo quando essas pessoas não são as qualificadas para opinarem ou educarem outros.
Mariana Baptista, de 19 anos, é estudante de Administração Pública e afirma acompanhar cantores nacionais e internacionais. Por mais que não se lembre de ter deixado de acompanhar alguém por causa de seu posicionamento político, se sente receosa quando uma celebridade que acompanha não se posiciona em momento algum. “Tenho medo deles estarem a favor de coisas que possam ser muito contra os meus valores”, explica Mariana.

Quanto a influência que essas celebridades podem ter em seus pontos de vista, algumas opiniões se divergem.
Mariana afirma que não percebe essa influência de forma consciente no seu dia a dia, seja nas marcas que usa ou notícias que consome. Entretanto Nathan Raposo, também de 19 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, afirma que consegue identificar essa influência na sua rotina.
“Acredito que sim, até por que a música é a arte que mais tem que ter posicionamento político”
Daniel Braga é um jovem negro, de 20 anos, que atualmente trabalha como atendedor numa loja de carros. Ele afirma acompanhar muitos artistas do cenário musical nacional e diz se importar com o posicionamento político deles. “Acho muito importante que artistas demonstrem posicionamento político publicamente, pois, se ele está disposto a tentar influenciar as pessoas a comprar produtos através de propagandas, ele também deve estar disposto a falar sobre quem ele acha que é a melhor opção para o seu estado ou país, por exemplo. Ele deve usar abertamente o seu alcance para uma melhora social, a partir do seu ponto de vista”, ele explica.
“A partir do momento em que uma pessoa que eu acompanho começa a concordar com ideias que vão contra o meu bem-estar e crenças, não me sinto confortável em acompanhar o trabalho dela”, afirma Daniel.
Enzo Laranjeiras, de 19 anos, é um jovem estudante de Publicidade e Propaganda que acompanha artistas de diferentes gêneros e nacionalidades. Ao ser questionado, ele afirma gostar quando seus artistas favoritos se posicionam, por mais que não acha obrigatório. “Não acho que seja uma obrigação dos artistas, principalmente quando o tópico não está diretamente ligado a ele, ou aquilo que ele propaga”, defende o estudante.
“Mas, caso ele não se posicione sobre algo que o diz respeito, eu fico mais atento. Mesmo que entenda que isso pode não estar sob controle dele, e sim da empresa ou assessoria”
Em contrapartida, Gabriel Fernandes tem 19 anos e é vendedor em uma loja no shopping. Sua verdadeira paixão é futebol e sua visão sobre esse assunto é diferente das outras apresentadas. “Eu nunca deixei de acompanhar um jogador por causa do seu posicionamento político, pois separo o jogador da pessoa”

Os diferentes pontos de vista servem como instrumento para reflexão, porém o impacto que as falas de Chappell Roan causam é extremamente significativo para diversos fandoms. Polêmica ou não, Roan reforça a importância do pensamento orgânico e da criação das suas próprias opiniões, porque não existem detentores da verdade.
“E porque você está me procurando para uma resposta política? Você acha que eu tenho a resposta? Assim, eu sou uma estrela do pop. Eu queria ter as respostas. Eu queria que o presidente fosse uma estrela do pop, mas ele não é.”, finaliza a cantora.
Foto de capa: Luxxienne/Instagram
Reportagem de Nathália Messias, com edição de texto de Gabriel Ribeiro
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tema muito atual e bem abordado! ótima matéria!
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