Esporte Sociedade

Quebrando barreiras: como a comunidade LGBTQIAPN+ avança no esporte

Uma relação que antes era praticamente inviável, hoje em dia já abrange muitos pelo Brasil

Em meio às celebrações do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, comemorado no último sábado (28), a comunidade tem conquistado cada vez mais espaço e visibilidade no mundo esportivo. De atletas que enfrentam o preconceito a competições cada vez mais inclusivas, a trajetória dessa evolução reflete mudanças culturais significativas. O cenário ainda está longe de ser o ideal, mas apresenta avanços em comparação com tempos marcados pelo silêncio e pela exclusão.

Sair de um cenário de silêncio e opressão, onde sequer se assumir era uma possibilidade segura, para passar por um mês inteiro de celebrações e ações em reconhecimento à coragem de ser quem se é, representa uma evolução considerável para quem integra a comunidade LGBTQIAPN+. Essa questão também se percebe dentro dos esportes, visto que o número de atletas se assumindo vem crescendo cada vez mais, além de torcidas organizadas representativas, das quais vem se multiplicando pelas arquibancadas desde a pioneira Coligay do Grêmio, criada em 1977.

Ainda há um longo caminho até que o preconceito e a discriminação sejam totalmente superados no esporte e na sociedade.
(Foto: Reprodução/Pexels)

Os estádios ainda não são por inteiro ambientes seguros e acolhedores para a comunidade, mas hoje em dia você consegue ir e torcer do seu jeito em alguns deles pelo Brasil. o que antes era quase impossível de fazer sem sofrer algum tipo de discriminação. É isso que diz o presidente e fundador do Coletivo de Torcidas Canarinho LGBTQIA+, Onã Rudá.

”Tem estádios que as pessoas precisam se fingir de héteros para ir sem sofrer alguma coisa, como o Allianz Parque, a Neo Química Arena ou o Morumbis. Mas, por exemplo, com a torcida do Vasco hoje em dia é tranquilo de ir a São Januário. Conheço pessoas que são Fluminense, são LGBT’s e vão para o Maracanã de casal inclusive. Não dá para avaliar todo mundo, mas a gente tem bastante avanço”, diz Onã.

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Onã junto do ex presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
(Foto: Reprodução/CanarinhosLGBTQ)

O Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQIA+ foi criado em novembro de 2019, inicialmente com o nome Canarinhos Arco-Íris, e adotou o nome atual em junho de 2021. Seu objetivo é unir torcidas e movimentos da comunidade no futebol, promovendo ações contra a LGBTQIAPN+fobia e incentivando a inclusão e diversidade. O movimento começou com coletivos como LGBTricolor, Marias de Minas e Palmeiras Livre, e ao longo do tempo, agregou outros grupos com propósitos semelhantes em diversos clubes.

O fundador do coletivo ainda diz que nos dias atuais está mais viável fazer parte da comunidade e demonstrar isso em diversos âmbitos da sociedade. Apesar disso, ainda se encontram dificuldades relacionadas a aspectos como o preconceito e a discriminação.

”Eu poderia dizer de uma forma genérica que está mais fácil ser LGBT… Mais fácil não, mais possível. Em comparação a tempos atrás, em diversas áreas da sociedade é mais possível ser uma pessoa LGBT. Estar ali em todos os lugares no sentido de ocupação de espaço, é mais possível sim”, completa Rudá.

Uma referência na comunidade é a torcida do Esporte Clube Bahia voltada ao público LGBTQIAPN+ que se chama LGBTricolor. Ela é reconhecida como uma das maiores torcidas inclusivas do mundo recebendo apoio tanto do clube quanto das outras organizadas do tricolor de aço, alcançando até o 4º lugar em um ranking global, segundo o Coletivo de Torcidas Canarinho LGBTQIA+.

Além da perspectiva das torcidas, também é essencial ouvir a voz dos atletas. Por isso, o professor, doutor, pesquisador e jogador de handebol Eduardo Bianchi, de 42 anos, compartilhou sua visão sobre a realidade no esporte a partir de sua experiência como atleta. Segundo ele, existem diversos clubes e espécies de ONG’s voltadas ao esporte LGBT em todo o Brasil, dos quais servem como espaços políticos de acolhimento e representatividade para a comunidade.

”São espaços seguros, onde as pessoas vão para praticar, aprender e acima de tudo se sentirem seguras. O esporte nunca foi um lugar de acolhimento dentro da comunidade, mas acredito que isso vem mudando, muito por conta desses grupos LGBT’s que, de certa forma, buscam protagonismo”, afirma Bianchi.

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Eduardo foi campeão da AthletiCup pelo time da atlética de administração e finanças da UVA.
(Foto: Reprodução/Instagram/@eduardobianchi)

O docente também comentou sobre a sua visão voltada à relação da comunidade com o esporte ao longo do tempo, afirmando que existe uma melhora, apesar de não poder falar por todas as pessoas, visto que o seu corpo é muito mais aceito do que os de outras pessoas no meio esportivo.

”Do meu lugar de fala como um homem branco e que tem uma série de privilégios sociais, posso dizer que me sinto muito mais acolhido dentro do esporte hoje do que me sentia anos atrás, mas não posso responder por uma mulher preta trans, ou uma mulher lésbica. Meu corpo é muito mais aceito socialmente do que muitos outros”, diz o também jogador de handebol.

O fato é que nos últimos anos a presença da comunidade LGBTQIAPN+ no esporte tem chamado mais atenção e feito muita gente repensar atitudes dentro e fora dos estádios, arenas ou ginásios. Para o professor e jogador de handebol Eduardo Bianchi, esse movimento já representa um avanço importante trazendo o destaque ao debate.

”Pensando em um panorama geral acho que houve uma evolução. O debate está aí. Ele não existia há dez ou vinte anos atrás… Há a possibilidade desses atletas cada vez mais se sentirem seguros em assumir suas identidades”, finaliza Eduardo.

O esporte no Brasil realmente vem evoluindo em como lidar com a imensa população LGBTQIAPN+. Existem clubes promovendo homenagens com espaços e atividades visando a inclusão, instituições são criadas especificamente com esse objetivo e até torcidas organizadas específicas para esta temática estão tendo amplo crescimento. No entanto, ainda tem bastante caminho a se percorrer para que um dia o preconceito e a discriminação se encerrem completamente tanto no âmbito esportivo quanto no geral.

Foto de capa: Reprodução/Pexels

Reportagem de Raul César Rodrigues, com edição de texto de Gustavo Pinheiro

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