Comportamento Crônica Geral

A angústia que me rodeou

Em sua nova crônica, o jornalista Pedro Turteltaub fala sobre como foi viver os primeiros meses do ano cercado por medos

Escrevo esse texto após a resolução positiva de fatos anteriores. Depois da angústia dos primeiros meses do ano finalmente ter ido embora, posso respirar aliviado sabendo que esses momentos não voltam, mas que de alguma forma sempre vão me acompanhar. Esse texto serve como uma libertação, um respiro de alívio após uma mare interminável de medos.

Em janeiro minha avó sofreu um AVC. De uma hora pra outra toda a realidade segura a qual eu estava acostumado se rompeu, e minha rotina passou a ser visitar o CTI, ir dormir angustiado e com medo do pior acontecer, e acordar aliviado por ter passado mais um dia, mas também com medo de viver esse novo dia que se iniciava.

Precisei tirar forças que nem sabia que tinha, engolir o choro para ver a minha avó, pois eu precisava mostrar para ela que tudo ia ficar bem, e saía de lá com uma sensação péssima com medo de ter sido a última vez que a veria. Meus dias se resumiam a sentir medo em todos os momentos.

No fim ela voltou pra casa, ainda debilitada, e enquanto a sensação de alívio por ela ter saído do hospital tomava conta de mim e eu me acostumava a minha nova realidade, a angústia voltou a tomar conta de mim. Algumas semanas depois, poucos dias após o meu aniversário, uma das minhas melhores amigas foi internada com meningite tuberculosa, e toda angústia voltou, o medo, as sensações ruins, as noites sem dormir.

Dessa vez, como não podíamos ir visitá-la e a angústia foi maior, vivíamos de notícias passadas pelo pai dela. Cada dia era um medo diferente. Nosso grupo de melhores amigos que era tão alegre ficou silencioso, triste, todo dia nos apoiávamos e torcíamos pelo melhor.

Depois de um mês pudemos ir vê-la, passamos uma tarde inteira com ela no hospital, e parecia que não passamos um dia sem se ver. Depois de quase 60 dias na luta, ela voltou para casa, para a faculdade e finalmente eu via um fim para essa fase tenebrosa. Porém, ela voltou novamente para hospital.

Dessa vez foi diferente, tínhamos contanto com ela o tempo todo, mas aquele medo, aquela angustia ainda existiam em mim, a sensação de que tudo podia mudar de uma hora pra outra tomou conta de mim novamente. Felizmente mais uma vez ela deixou o hospital vitoriosa.

Hoje eu escrevo essa crônica com alívio, com os medos ficando cada vez mais distantes, e muito em breve farão parte de um passado distante e sombrio.

Foto de capa: Pexels

Crônica de Pedro Turteltaub, com edição de texto de João Agner

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