A Lei Federal nº 12.933/2013 garante a estudantes o direito à meia-entrada em eventos culturais e esportivos, como os jogos de futebol. O benefício, concedido mediante apresentação da Carteira de Identificação Estudantil (CIE), deveria facilitar o acesso dos jovens aos estádios. No entanto, nos últimos anos, muitos estudantes têm enfrentado dificuldades para usufruir desse direito, devido ao alto valor dos ingressos, à limitação de meia-entrada disponível e à falta de fiscalização efetiva.
A legislação também determina que pelo menos 40% do total de ingressos sejam destinados aos beneficiários da meia-entrada. No entanto, essa cota nem sempre é cumprida, especialmente em partidas de grande apelo, como clássicos regionais e finais de campeonato. Nesses casos, a oferta limitada e a alta procura fazem com que os estudantes tenham ainda mais dificuldade para garantir seu lugar nos estádios, muitas vezes sendo obrigados a recorrer a ingressos inteiros ou desistir da experiência.
Além dos preços elevados, estudantes enfrentam obstáculos adicionais na hora de adquirir ingressos com desconto. Muitos relatam que a cota destinada à meia-entrada se esgota rapidamente, deixando-os sem opções. Quando disponível, o benefício costuma ser restrito a setores do estádio com visibilidade limitada, o que diminui ainda mais a atratividade do desconto e compromete a experiência dos torcedores jovens.
O estudante de Física Guilherme Duarte, 21 anos, torcedor do Flamengo e frequentador do Maracanã, aborda o assunto da meia-entrada de forma enfática.
Sinceramente dá nem vontade de comprar quando vejo o preço. Fazendo as conta, ingresso + metrô ida e volta + alimentação dentro do maraca vai quase 100 reais nisso, fora que com os preços mais altos o público tá cada vez mais elitizado, e apoia menos o time.” conta Guilherme
A situação se torna ainda mais crítica diante da política de alguns clubes, que excluem setores considerados “camarotes” ou “premium” da oferta de meia-entrada, mesmo quando esses ingressos representam uma parte significativa da carga total disponível ao público.
Para Luiz Guilherme Atanazio, 18 anos, estudante de Direito e também torcedor do Flamengo, a política de meia-entrada afeta diretamente as classes mais baixas, elitizando cada vez mais o esporte mais popular do mundo.
Cara, tá cada vez mais difícil ir ao estádio. Mesmo com a meia-entrada, o ingresso tá caro demais. Parece que jogo virou coisa de elite. A gente que é estudante, que acompanha o time desde sempre, tem que se virar pra conseguir um lugar lá em cima, longe de tudo. Futebol era pra ser popular, né? Agora parece que tão vendendo experiência, não paixão.” afirma Luiz
Organizações estudantis e entidades de defesa do consumidor têm criticado a falta de fiscalização e cobrado maior transparência dos clubes e promotores na gestão dos ingressos. A preocupação é que, diante da elitização dos preços e das restrições impostas, o futebol perca sua diversidade e se afaste de sua vocação popular histórica.
Além disso, defensores do direito à meia-entrada sugerem que seja revista a estrutura de preços atualmente praticada, com o objetivo de garantir maior acessibilidade a públicos historicamente presentes nas arquibancadas, como os jovens.
Enquanto os clubes seguem investindo na modernização dos estádios e na comercialização de experiências diferenciadas para um público mais restrito, estudantes lutam para manter vivo o direito de torcer de perto, sem comprometer uma parte significativa do orçamento mensal.
Foto de capa: Divulgação/Maracanã
Reportagem de Ana Beatriz do Carmo, com edição de texto de João Gabriel Lopes
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