Nas últimas semanas, diversos debates tem tomado conta nas redes sociais sobre as pessoas não frequentarem mais o cinema. Um destaque recente é o filme “Furiosa: Uma Saga Mad Max”, que bateu recorde de pior bilheteria nos últimos 40 anos na semana de estreia nos Estados Unidos. Diversas produções recentes não conseguiram lucrar com seus filmes, tendo prejuízo de milhares de dólares.
Uma pesquisa do The Quorum apurou que cerca de 70% da nova geração prefere assistir filmes em casa por serviços de streamings. Esses efeitos são fruto da pandemia do COVID-19, da qual as pessoas começaram a consumir mais os serviços digitais para ter acesso a filmes e séries. Apesar de pesquisas de 2022 apontarem uma baixa de público nos cinemas em comparação ao cenário pré pandêmico, os números no Brasil se mostram um pouco diferentes.

O professor Alvaro Machado afirma que um relatório recente de 2021 da Agência Nacional do Cinema (Ancine) aponta uma evolução significativa de público desde 2012 até o momento da pesquisa, com o único momento de baixa sendo em 2020, considerando todos esses dados para filmes tanto nacionais como internacionais.
Alvaro ainda diz que o possível desinteresse do público em percepções pessoais vem muito da falta de ética do telespectador no ambiente do cinema.
“Eu via um público que respeitava mais o ambiente do cinema, hoje em dia existem muitas interrupções, as pessoas falam durante a exibição do filme, usam o celular. Foi o que, no meu caso, me afastou muito das salas de cinema”, afirma o professor.
Outro tópico a ser considerado é a distribuição de filmes em território nacional. Um grande ponto de queixa dos internautas é a ausência de filmes em suas respectivas cidades, principalmente de quem mora no interior. Sobre isso, Alvaro afirma que tudo depende do quanto irão investir na distribuição do filme, e para isso, eles investem em cidades com maior interesse por parte da população.
O desinteresse por parte da população vem também dos preços elevados dos ingressos. Uma ida ao cinema envolve gastos além do ingresso, como o transporte ao local e alimentação.
Também podemos citar a rapidez que as obras ficam disponíveis exclusivamente nos cinemas. O filme “Duna: Parte 2”, por exemplo, teve sua estreia no final de fevereiro e foi lançado no streaming em abril. Essa ação compromete os valores bilheteria, mesmo a produção sendo o longa que mais lucrou em 2024. A decisão da Warner Bros. de um lançamento digital tão precoce causou revolta em alguns fãs, que acabaram não tendo a oportunidade de o assistir nos cinemas.
É muito comum vermos filmes que tiveram sua estreia internacional em 2023, por exemplo, chegarem no Brasil apenas esse ano, como “Zona de Interesse” e “A Cor Púrpura”. Muitas pessoas reclamam nas redes sociais sobre esse atraso para chegar no Brasil, enquanto na maioria das vezes recorrem à pirataria para assistir tais obras.

Os cinéfilos Murilo Bruno (18) e Pedro Moraes (17) não tem o costume de ir ao cinema, e o custo elevado dos ingressos é sua principal razão. “Até mesmo a meia tem um preço inacessível pra grande parte da população, os de renda baixa principalmente. Se um casal tem dois filhos e leva no cinema, não gasta menos de R$100,00. Por ser um momento de lazer, acho que preço deveria ser acessível ao ponto de todos conseguirem ir”, comenta Bruno. Pedro diz que em alguns cinemas do Recife, onde mora, a meia-entrada custa R$27,00. Esse valor é o mesmo que a assinatura mensal do plano mais simples de alguns serviços de streaming.
Bruno comenta que a distribuição de filmes no Brasil só é rápida e justa quando o filme se trata de uma distribuidora grande, mas no caso de distribuidoras menores, existe um atraso em relação ao lançamento no local de origem.
Sobre a falta de interesse em ir ao cinema, além do custo do ingresso, Bruno acredita que o lançamento rápido no streaming é um fator considerado. Já Pedro acredita que a desvalorização da cultura audiovisual é um fator pertinente, além da elitização do cinema.
“O cinema inicialmente sempre foi um lazer da elite, pois apenas os que tinham condições de pagar um ingresso eram as pessoas bem sucedidas na sociedade. E toda essa elitização tão antiga, ainda reflete na dificuldade ao acesso à sétima arte”, comenta Pedro.
Com isso, pode-se concluir que as pessoas não estão cansadas de irem ao cinema. Existem diversos fatores socioeconômicos dificultam o acesso da população ao entretenimento. Ao mesmo tempo que percebemos um aumento de telespectadores que tem condições de consumirem filmes, notamos um afastamento do público menos favorecido, seja por motivos financeiros ou também pela ausência de cinemas em suas cidades.
Foto de capa: Pexels
Reportagem de Cássia Verly, com edição de texto de João Agner
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Excelente matéria….. parabéns
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