Por Hunter
Recentemente fiz minha primeira viagem sozinha pro Chile. Não me pergunte o porquê, não falo espanhol, não tinha conhecidos chilenos, tampouco um roteiro de viagem, mas tinha um sonho: ver as estrelas lá de cima das cordilheiras e sentir a liberdade, pela primeira vez na vida. Juntei, então tudo que tinha; economias, documentos, e coragem.
No primeiro dia, provei o vinho chileno. Ele é quente, arde a garganta e dói o bolso. Segurei meu celular com força, pensei em te mandar mensagem, falar que estou no lugar mais incrível do mundo longe de uma das pessoas mais incríveis que conheci. Mas não mandei. Pelo contrário.
O calor do vinho subiu para as minhas bochechas, tomei mais um e mais um, e só Deus sabe quantos até eu terminar a noite vomitando e desmaiando na minha cama.
Acordei a tempo de um entardecer lindo às 21h.
No Brasil, era hora de dormir, mas no Chile, era hora de ir pra noite. Não tinha Anitta ou Maluma, nada que fosse um espanhol familiar, mas tinha chopp e pessoas incríveis que me ensinaram coisas preciosíssimas como: limão de pica —significa limão Taiti—, que todo mundo fuma cannabis no Chile, o que é um tabu enorme no Brasil, e principalmente, repeti horrores uma frase que foi muito perpetuada por eles e mais ainda pelo museu de arte que visitei: “Americanos somos nós, vocês são NORTE americanos.”
Vi um povo com memória, com orgulho da sua história, vi pessoas incríveis, me apaixonei por pessoas extraordinárias… cogitei nunca mais voltar.

Mas lá de cima das cordilheiras, eu vi que precisava estar em casa mais uma vez, pra contar sobre minhas aventuras, sobre a arte incrível em Vinha del mar, sobre como confundimos um assaltante com um vendedor ambulante, sobre o quão gelada é a água da praia e sobre como nunca devemos confiar em chilenos quando eles dizem que um lugar faz calor (não faz calor).
Então voltei pro Rio, com metas de me tornar uma jornalista, resgatar o sonho há muito tempo morto de me formar em História, com histórias, umas incríveis, outras improprias para essa crônica, com um sonho e uma vontade imensa de ser uma escritora reconhecida, e com uma tatuagem nova; das cordilheiras, que sela por fim minha promessa: um dia irei, pra nunca mais voltar.
Foto de capa: Acervo pessoal
Crônica de Hunter, com edição de texto de João Agner
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