Da sala de aula Sociedade

Burnout: o destino dos novos jornalistas?

Dados apresentados pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), apontam que cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros enfrentam a síndrome

A profissão de jornalista sempre exigiu dedicação, resiliência e paixão pela busca da verdade. No entanto, nos últimos anos, desde a velocidade na implementação das mais diversas tecnologias, a carreira de jornalista tem se tornado desafiadora, especialmente para os recém-formados. Seria o burnout, o destino dos novos jornalistas?

O avanço tecnológico e a incessante busca pela entrega de notícias 24 horas por dia tornou o jornalismo uma profissão que exige ainda mais domínio de habilidades diversas, desde filmagem até edição e produção. No entanto, essa crescente demanda e a pressão constante para produzir conteúdo de alta qualidade têm levado muitos desses profissionais à beira do burnout, um problema de saúde mental que afeta não apenas a qualidade de seu trabalho, mas também sua qualidade de vida.

De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome – a entidade não tem nenhum dado em específico sobre a profissão de jornalista, no entanto. Além disso, o Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados no mundo.

Gráfico realizado pela Associação Nacional de Medicina (Foto: Reprodução/Anamt)

A “Síndrome de Burnout” é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença ocupacional, ganhando destaque como um dos maiores desafios de saúde mental enfrentados por trabalhadores em todo o mundo.

Izabel Aparecida, psicóloga clínica e terapeuta comportamental, explica que a doença é caracterizada pela exaustão física e emocional e também fala da importância de buscar ajuda de profissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras.

“Nos estágios iniciais, a pessoa pode sentir falta de energia e cansaço com uma grande frequência. Já nos últimos estágios, se sente fisicamente e emocionalmente exausta e esgotada. É preciso entender a importância de um ambiente de trabalho saudável e equilibrado, bem como a prática de atividades físicas e lúdicas para preservar a qualidade de vida”, diz a psicóloga.

Segundo a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, cargas de trabalho excessivas e falta de apoio são alguns dos riscos psicossociais enfrentados pelos jornalistas. Além disso, uma pesquisa conduzida pelo portal britânico Journalism.co.uk revelou que jornalistas recém-formados estão particularmente propensos ao cansaço no trabalho, trazendo a urgente necessidade de discutir e abordar esse problema.

A jornalista Giovanna Faria, repórter da rádio BandNews FM que possui integração com a TV, relata que sente pressão de sempre ter que desenvolver um conteúdo rápido. Por trabalhar em rádio, muitas vezes, ela precisa apurar algo em menos de 10 minutos e entrar improvisando.

“Parece que tem uma corrida imaginária para conseguir dar a notícia para os ouvintes. É um ponto que já me acostumei, mas se algo dá errado, você já sente uma pressão maior”, comenta a jornalista.

Repórter durante sua rotina de trabalho (Foto: Reprodução/BandNews)

Com sua experiência de trabalho, a jornalista conta que suas atividades no campo de apuração, edição de áudio, gravação de imagens, entrevistas, entradas ao vivo e fechamento de VTs (reportagens) são parte do cotidiano. E esse acúmulo de tarefas impactou sua visão em relação à profissão.

“Sinto que eu era muito mais esperançosa e tentava mostrar muito trabalho quando era estagiária, na expectativa de ser contratada. Atualmente, ainda busco sempre matérias e “furos de reportagem”, mas dentro da minha pauta que foi demandada”, declara Giovanna.

Já para o estagiário Raphael Figueira, sua função na Super Rádio Tupi precisou
apenas de tempo para se sentir livre da pressão. O jovem trabalha na parte de
apuração e planeja junto com os editores quais serão as principais matérias do dia. Raphael auxilia diretamente na produção e ajuda os repórteres que estão na rua.

“Quando comecei, eu tinha que ficar subindo matéria para o site. Eu detestava e me sentia um pouco pressionado. Como não dominava tão bem o Entretenimento (editoria que estava na época), demorou até me sentir confortável. Para mim é muito mais tranquilo, por exemplo, quando tenho que me virar nos 30 e falar com delegado para colocar na programação e também apurar”, revela o estagiário.

Raphael durante um dia normal de trabalho (Foto: Reprodução/Instagram)

Além disso, o recém formado deu algumas dicas para os novos jornalistas sobre como lidar com as possibilidades de tantas tarefas ao mesmo tempo. Segundo ele, as pessoas que estão começando agora no Jornalismo, precisam ter vontade de aprender e serem proativos.

“Como comecei, na parte de Entretenimento e não gostava, fui puxando para lado que eu gostava mais de fazer, a apuração. Tento aprender de tudo. Tem muita coisa que preciso lidar melhor, mas acho que o mais importante é a pro atividade”, declara Raphael.

Apesar dos desafios, Giovanna Faria recomenda aos novos jornalistas que exercitem a imposição de limites. Para ela, aprender a dizer “não” quando necessário é importante, para que seja possível equilibrar o trabalho com a vida pessoal.

“Não vai destruir sua carreira, mas com certeza vai ajudar você a ser uma pessoa mais bem posicionada. Dentro da área de hardnews, também é importante ter um equilíbrio com a vida pessoal, já que é o dia inteiro lendo e produzindo notícias ruins. Então, a distração acaba sendo algo necessário pra vida”, afirma Giovanna.

Giovanna estreando na TV aberta (Foto: Reprodução/Instagram)

A psicóloga Izabel Aparecida concorda e aconselha que nos momentos fora do trabalho cada indivíduo priorize sua qualidade de vida. A Síndrome de Burnout é um alerta para a necessidade urgente de repensar o ambiente de trabalho moderno e priorizar a saúde mental dos trabalhadores.

“Recomendo a prática de atividades físicas, lúdicas de seu interesse. A alimentação saudável, o convívio social e com familiares são também fatores importantes na prevenção e também no período de tratamento para a Síndrome de Burnout”, finaliza Izabel.

LEIA TAMBÉM: Alunos e professora de Medicina da UERJ criam podcast sobre saúde mental

LEIA TAMBÉM: Graduandos em psicologia oferecem atendimento com valores acessíveis; conheça o SPA

Reportagem realizada por Júlia Cabrero para a disciplina de Jornalismo Independente, ministrada pela professora Daniela Oliveira.

Avatar de Desconhecido

Agência UVA é a agência experimental integrada de notícias do Curso de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida. Sua redação funciona na Rua Ibituruna 108, bloco B, sala 401, no campus Tijuca da UVA. Sua missão é contribuir para a formação de jornalistas com postura crítica, senso ético e consciente de sua responsabilidade social na defesa da liberdade de expressão.

0 comentário em “Burnout: o destino dos novos jornalistas?

Deixe um comentário